terça-feira, novembro 07, 2006

POESIA ALENTEJANA (I)

Sou alentejano, como todos sabem ou deduzem e, por isso, o Alentejo está sempre prsente no meu coração. Para mais, porque tão longe estou. Gosto muito de poesia e, como não poderia deixar de ser, a alentejana é especial para mim. Os poetas do Alandroal são imortais! Nem sempre estou com inspiração ou tenho um assunto para desenvolver uma crónica. Assim, dando um pouco mais de vida ao meu espaço, hora ou outra colocarei aqui um poema, algumas quadras, enfim. Hoje publico poesia de Manuel Inácio Leitão (Pisco), natural de Hortinhas. MOTE Adeus quinta da desgraça Almadiçoada sejas tu Já criei ferrugem nos dentes E teias de aranha no cu. Eras por todos cobiçada Na freguesia do Carregueiro Reformei-me da vida de mineiro E foste por mim arrendada. Começaste a ser cultivada Davas fartura na praça E hoje quem por ti passa Vê as tuas árvores a cair, Vou-me de ti despedir Adeus quinta da desgraça. Tinhas muitas laranjeiras Todas as espécies de fruto A vender o teu produto Corria todas as feiras. Hoje romperam-se as algibeiras Que eram forradas de pano cru Já pareço um gabiru Que anda no mundo ao abandono, E eu vou-te entregar ao dono Almadiçoada sejas tu. Sempre tiveste valia Quando eu era teu rendeiro Tu é que me davas o dinheiro E era de ti que eu comia. Quem é que a mim me dizia Que iam abaixo os teus nascentes Foi talvez dos dias quentes Que vieram no pino do Verão, Fixaste-me a alimentação Já criei ferrugem nos dentes. Em água tinhas riqueza Foste sempre bem regada Hoje és por mim abandonada Por força da natureza. Da minha carteira andar tesa A culpada foste tu Ando roto e quase nu A viver sem alegria, Ando com a barriga vazia E teias de aranha no cu.

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