Lembro-me tão bem como se hoje tivesse acontecido que, naqueles tempos de tenra idade, na minha cidade natal de Estremoz (Portugal), subia o muro do quintal da D. Conceição, atrás da Rua dos Telheiros, e lá mesmo abocanhava aquelas lindas e saborosas romãs. Enormes e muito doces. Rachadas de maduras, era porta de entrada para as formigas que eu acabava de incluir no bolo alimentar e saborear. Só me apercebia de algo diferente por causa de um gostinho acre. Dizia-se que comer formiga fazia os olhos bonitos e talvez seja por isso que eu me envolvi com algumas belas mulheres muitos anos mais tarde...
Há anos que na minha rua, aqui no Brasil, existe um terreno murado cheio de árvores de frutos diversos, de muitas espécies; pitangas, carambolas, nêsperas, ameixas, laranjas, limões, acerolas, romãs, etc., etc., tudo perdido porque o proprietário faleceu e os herdeiros só esporàdicamente aparecem.
Nunca liguei para aquela fartura e tão pouco alguma vez pensei em pular o muro. Mas lamentava o desperdício quando pensava na multidão de pessoas carentes ávidas de saborear algo a que não têm acesso.
Mercê de um problema de saúde que carrego e para o qual a romã é um dos melhores "medicamentos" naturais, que dizem ser muito eficaz, comprei alguns desses frutos importados, muito caros, e comecei a "namorar" aquelas amadurecendo por cima do muro...
Lembrei-me que tinha um cano de ferro bem comprido entre os badulaques que costumo guardar. Tinha, também, um suporte de extintor da minha velha kombi. Cortei este e soldei-o naquele. Fiz uma garra longa e nenhuma romã escapou. Todas maduras, inclusivamente as bem pequenas. Ainda por lá ficaram muitas mais a aguardar-me para uma segunda apanha...
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