domingo, março 25, 2012

Açorda Alentejana



Com toda a certeza que quem abriu a minha página veio em atenção ao título da matéria e se surpreenderá ao notar que, em vez da tradicional açorda à alentejana, eu disserto sobre a figueira e os figos... Na verdade tudo está interligado.
A figueira é primeira planta descrita na Bíblia - Adão vestiu suas folhas e não parras ao descobrir que estava nu. Na antiguidade a consideravam sagrada. A sua origem é entre o sul da península arábica. Há mais de mil espécies de figueiras, planta do gênero Ficus, da família Moraceae, e nem todas produzem frutos comestíveis. A maior parte da produção brasileira concentra-se na região de Valinhos, aqui bem pertinho de Campinas, com enorme prevalência para a variedade roxo-de-valinhos.
As espécies de figueira variam no tamanho e na forma. Algumas delas podem chegar a 10 metros de altura.As do tipo comercial, como a Ficus carica, raramente ultrapassam três metros de altura, devido à aplicação de podas drásticas, necessárias para facilitar o manejo. Uma curiosidade: com cinco a oito centímetros e cor esverdeada ou violácea, o figo é, na verdade, uma inflorescência, uma flor que não desabrochou.
São frutas altamente energéticas, ricas em açúcar, fibra, ácidos orgânicos e sais minerais como o potássio, o cálcio e o fósforo, que contribuem para a formação de ossos e dentes, evitam a fadiga mental e contribuem para a transmissão normal dos impulsos nervosos. O efeito diurético deve-se ao elevado teor em potássio do figo, que torna-o num alimento alcalinizante. Os figos apresentam o valor de pH mais básico (alcalino) de todos os alimentos. Por isso, são muito adequados para neutralizar alimentos ácidos, como a carne, os produtos de charcutaria, a massa elaborada com farinhas refinadas e os doces. É recomendado em caso de astenia física por causa do seu teor em açúcares, estimulando além disso a capacidade de concentração. Quanto ao seu uso externo, é recomendado utilizar o leite dos figos verdes para eliminar as verrugas, e a dor de dentes desaparece assim que se aplica a polpa prensada de figo sobre a gengiva. A infusão de 25 a 30 gramas de folhas de figueira, por litro de água, reduz a tosse, melhora a circulação e ajuda as menstruações difíceis, se tomada uns dias antes.
Podem ser consumidos de várias formas, frescos ou secos. Os figos frescos são bastante utilizados na doçaria portuguesa, como o figo cheio, o queijo de figo ou o morgado de figo, e em compotas. Aqui no Brasil também se faz quase de tudo isso. São também um bom complemento, quando se adicionam aos acompanhamentos de pratos de aves ou caça. É aqui que entra a minha açorda à alentejana...
A quem não conhece, explico como faço a minha açorda. Piso num almofariz, meio mólho de poejos com meio mólho de coentros (gosto de usar estes dois temperos juntos), sal grosso, três dentes de alho e azeite de oliveira. Obtenho, assim, uma massa homogenia. Coloco esta massa numa terrina e rego-a com um pouco mais de azeite. Escaldo a mistura com a água a ferver, onde previamente cozinhei uma posta de bacalhau ou pescada e onde também escalfei dois ovos. Vou mexendo muito bem e, ao mesmo tempo, vou juntando pedacinhos de pão caseiro e duro.
Coloco a açorda no prato e sobre esta os ovos e o peixe.
O acompanhamento vai muito da preferência de cada um. Eu, porém, acompanho com tiras de pimentão verde crú, azeitonas e os figos, fruta que abordei como começo desta minha crônica de hoje.

domingo, março 11, 2012

Herois Esquecidos

No passado dia 29 de Fevereiro faleceu em Odivelas (Portugal) o sr. José Aldeia Soares, que teria entre 65 a 67 anos. Não consegui obter a sua data de nascimento mas, pela época que entrou no exército, enquadro-o na minha faixa etária que é essa.
Afinal, quem foi José Aldeia Soares? --- Ele foi um soldado de Cavalaria mobilizado para cumprir uma comissão de dois anos na então Província Ultramarina da Guiné.
A Companhia de Cavalaria 1748 a que pertencia, embarcou para a Guiné em 20 de Julho de 1967 onde chegou no dia 25, ficando instalada em Bissau, com a missão de protecção e segurança das instalações e das populações da área.
Entre 12 e 20 de Setembro desse ano, escalonadamente, seguiu para Bula, afim de efectuar o treino operacional, tomando parte de patrulhamentos, emboscadas e batidas nas regiões de Inquida, Quitamo, Blequisse e Bofe, recolhendo a Bissau em 6 de Outubro de 1967. 
Em 8 desse mês a companhia assume a responsabilidade pelo subsector de Contubuel, destacando pelotões para Sare Bacar e Sumbungo, sendo este deslocado para Geba e posteriormente para Dulo-Gengele. 
Em 18 de Fevereiro de 1969 a subunidade é rendida, fica transitoriamente em Bissau e segue mais tarde para Farim, onde assume a responsabilidade deste subsector, integrado no dipositivo do Comando Operacional nº 3, até 1 de Julho de 1969. Regressa à Metrópole em 7 de Junho desse mesmo ano.
Na foto aqui publicada, José está à nossa direita e a seu lado o seu irmão António que foi combatente em Angola.
Gostaria de ter uma foto dos dois, daquele tempo em que foram valorosos soldados, mas não consegui e acredito que seja uma tarefa muito difícil. Cavalaria, por exemplo, era uma Arma de elite e à qual eu também pertenci. O José certamente que estaria imponente e galhardo numa foto contemporãnea. Infelizmente, a exemplo de outros meios de comunicação, a foto disponível é esta e mostra uma terrível realidade --- a dos Antigos Combatentes Sem-Abrigo.
São algumas centenas de camaradas que preambulam por esse país fóra (Portugal) ou que vivem em praças e jardins ou sob as marquizes dos prédios. Encontramo-los fàcilmente. Se um indivíduo nessa condição aparentar ser sexagenário, podemos ter a certeza de que se trata de um antigo combatente que acreditou estar defendendo o território pátrio num qualquer dos 5 continentes... Ninguém escapava a uma dessas missões.
Os sucessivos governos jamais se preocuparam em providenciar os vários tipos de assistência a que esses antigos soldados têm direito e de muito precisam. Uma "pensão de guerra" deveria ser atribuída a cada um de todos nós que démos 4 anos das nossas vidas no serviço militar com todas as consequências pessoais negativas. Uma assistência médica gabaritada e constante, principalmente aos traumatizados, seria mais importante ainda. Infelizmente não temos nada disso e mostraram essa realidade estes dois irmãos da foto.
Num apêndice, lembro aqui que muitas vezes, na minha idade de criança, via andar pelas ruas de Estremoz um senhor mal cuidado a que todos chamavam de "gaseado". Era como uma alcunha e a maioria, como eu, não fazia a mínima ideia do porquê da mesma. Anos mais tarde, juntando todas as peças, descobri que aquele senhor fôra um dos soldados portugueses que combateram na França e, devido às bombas de gás ficou gaseado. Vê-se aqui a ausência da devida assistência por parte do governo de antanho e leva-nos a confirmar que todos fôram e continúam sendo omissos. 
Agora o António continúa sózinho lá em Odivelas aguardando o momento de se juntar nòvamente ao seu irmão José.
Quem sabe se um dia um governo decente olha para essas mazelas e imita os de outros países que também tiveram as suas guerras e tratam os seus antigos combatentes como herois e com dignidade.
Um grande abraço ao camarada José Aldeia Soares com o desejo que, finalmente, descanse em paz. 


O cartaz vale para os dois lados do Oceano Atlântico...

sexta-feira, março 09, 2012

Nome da Rua ?

Tenho que confessar que admiro blogueiro que escreve todos os dias. Entenda-se escrever com substância porque, escrever por escrever e sem nexo, qualquer um faz... Digo isto porque faz um bom tempo que eu não escrevo nada aqui. Um dos motivos é a preguiça, um outro é a falta de inspiração ou até mesmo de assunto que não esteja surrado. Então, faço as pazes com o meu blog hoje, mas não prometo que volte a escrever amanhã.
A matéria que me propuz a escrever poderá ser proveitosa para a Câmara de Vereadores da cidade onde moro há muitos anos --- Campinas. Se é que por  tal eles se interessem e que porventura venham a visitar a minha página alguma vez na vida.
Sei que esses vereadores tiram leite até de pedra... Notei qua há meia dúzia de anos atrás, talvez nem tanto, foram colocadas placas de identificação das ruas e sem olhar a gastos, pois afixavam-nas nos postes do inicio, meio e final. Certamente que houve aí um terço de exagero... Placas de chapa de aço carbono pintadas de azul e letras em branco. O azul ainda lá está, meio desbotado, e as letras sumiram. Hoje ninguém mais consegue ler o nome das ruas. Mais uma vez foi dinheiro do povo que se esvaiou pelo ralo.
Ou eu tenho que acreditar que o conjunto de vereadores mamou na mesma teta ou, então, não existe um número com a inteligência necessária para provar que está tudo errado e abortar esse tipo de projeto.
Vejam no outro quadro, ao lado direito, que na mesma cidade existem meia dúzia de ruas identificadas coerentemente, tanto pelo tipo de placa usada como também no que se refere ao local exacto da colocação da mesma.
Dessa maneira, colocando a placa sempre na parede da casa ou prédio da esquina, quem procura sempre saberá onde o fazer. Evita-se até a colocação de canos nas calçadas que são mais um obstáculo para os pedestres, além de enfeiar ainda mais a cidade que já é horrível com esse emaranhado de fiação aérea e postes de concreto por todo o lado.
Também concordo se alguém disser que esse tipo de placa (ferro fundido ou chapa esmaltada) é muito cara. Todavia, elas duram uma eternidade.
Na bela cidade de Évora em Portugal, onde vivi e tenho a minha família, as ruas são todas identificadas com uma placa de azulejos amarelos e letra preta (poderia-se dizer amarelejos em vez de azulejos, talvez...) a cada esquina e sempre colocada nas casas das pontas ou tôpo de alguma travessa confluente. São placas grandes e bem visíveis. Jamais existe o desconforto de perder muito tempo precioso procurando. Sabe-se de antemão onde procurar a placa que identifica a rua com a certeza que as letras não sumiram com o rigor do tempo. Até mesmo, se um dia a casa tiver que ser demolida ou reformada, a placa será reaproveitada com toda a certeza.
Não posso afirmar neste momento, por falta de documentação, qual a idade desse tipo de placa. Mas sei que muitas têm mais de cem anos. Coloco um quadro de fotos ao lado direito que comprova isso.
A foto do canto inferior esquerdo é de um tempo muito remoto; talvez uns 120 anos. Repare-se que na esquina do prédio tem lá a placa do mesmo tipo que as demais.
A foto do canto inferior direito é referente a um famoso restaurante dos meus amigos irmãos Fialho e, como esquina que é tem a toponímica está correcta. Além disso, a placa do restaurante também é em azulejo.
Notaram que também existe uma placa em mármore com as letras em baixo relevo e pintadas de preto. Aparecem algumas em ruas que ficam externas ao centro histórico, fóra das muralhas medievais, portanto. Esse tipo de placa é o que se usa na minha cidade natal --- Estremoz. Afinal, lá é a terra do mármore. Esse tipo de placa perde em relação às de azulejos por a letra ser menor e a tinta desaparecer com o tempo. Aí eu proponho uma medida de que talvez ninguém se tenha lembrado: pintar as letras como pena alternativa decretada pela Justiça a réus de pequenas causas que tenham sido condenados.
E já que abordei aqui políticos, réus e placas de azulejos, ofereço-vos o quadro de duas fotos a seguir. Foi-me enviado por um amigo que móra lá em Oeiras, Portugal e a copiou da internet.
Sei que essa placa existiu lá, que foi colada sobre uma outra de mármore ou basalto durante campanha eleitoral. Agora parece que não está mais, até porque o gajo continúa sendo o manda-chuva do pedaço... Mas é uma ideia que poderá ser copiada. Afinal, colocam-se em ruas, pontes, avenidas, etc., nome de personalidades várias que de algum modo marcaram positiva e relevantemente a passagem por este mundo. Nada mais justo! Porém, acho que também devem ser lembrados para a posteridade os canalhas. Tudo isso dará lugar a que se analisem as duas vertentes e, assim, se tentará construir um mundo melhor com muito menos picarêtas e picaretagens.