terça-feira, maio 06, 2008

COMPARAÇÕES

Muitas vezes, numa roda de amigos, comentamos sobre a vida dos jóvens de hoje ou mesmo daqueles já não tão jóvens, mas que tenham nascido nos primeiros anos da década de 80. Normalmente com uma pitada de inveja sobre as suas liberdades nos relacionamentos amorosos, principalmente... Todavia, analisando-se o assunto num círculo maior e por outros prismas, chegamos a algumas conclusões.
De acordo com os reguladores e burocratas de hoje, todos nós que nascemos nos anos 60, 70 e princípios de 80, não devíamos ter sobrevivido, porque os nossos berços eram pintados em cores bonitas com tintas à base de chumbo, que nós muitas vezes lambíamos e mordíamos... Não tínhamos frascos de medicamentos com tampas 'à prova de crianças', ou fechos nos armários e podíamos brincar com as panelas. Quando andávamos de bicicleta, não usávamos capacetes.
Quando éramos pequenos viajávamos em carros sem cintos e airbags; viajar no banco da frente era um bónus. Bebíamos água da mangueira do jardim e não da garrafa; e sabia bem... Comíamos batatas fritas, pão com manteiga e bebíamos gasosa com açúcar, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora. Partilhávamos garrafas e copos com os amigos e nunca morremos disso.
Passávamos horas a fazer carrinhos de rolamentos e depois andávamos a grande velocidade pela ladeira abaixo, para só depois nos lembrarmos que esquecemos de montar uns freios, quando acabávamos estancados num silvado, o que representava mais um aprendizado... Saíamos de casa de manhã e brincávamos o dia todo, desde que estivéssemos em casa antes de escurecer. Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso.
Não tínhamos Play Station, X Box. Nada de 40 canais de televisão, filmes de vídeo, home cinema, telefones móveis, computadores, DVD, Chat na Internet. Tínhamos amigos! se os quiséssemos encontrar íamos á rua. Jogávamos dezenas de jogos toscos, artesanais e tradicionais, frutos da nossa própria arte, o que gerava uma prole de inventores e desenrascados.
Pulávamos ao eixo, ao elástico e à barra. Jogávamos futebol com uma bola de meias ou com uma dura de couro que nos chegava a causar dor... Caíamos das árvores, cortávamo-nos, e até partíamos ossos mas sempre sem processos em tribunal. Havia lutas com os punhos, mas sem sermos processados. Batíamos ás portas de vizinhos, fugíamos e tínhamos mesmo medo de sermos apanhados. Furtávamos um cacho de uvas da parreira alheia e fugíamos dos guardas ou ziguezagueávamos fugindo aos tiros de sal...
Se infringíssemos a lei era impensável os nossos pais nos safarem, pois eles sempre estavam ao lado dela. Íamos a pé para casa dos amigos e para a escola; não esperávamos que os nossos pais nos levassem. E na escola respeitávamos os professores, mesmo quando apanhávamos algumas reguadas ou éramos repreendidos com firmeza... Tínhamos liberdade, fracasso, sucesso e responsabilidade e aprendemos a lidar com tudo.
Você que leu e pensou sobre o que acabei de escrever é alguém que se encaixa nesse grupo? Perante uma resposta positiva, dou-lhe os meus parabéns! Você é um dos que tiveram a sorte de crescer como verdadeira criança, antes dos advogados e governos regularem as nossas vidas "para nosso bem"...
Para os que não são daquela época coloquei algo acerca de nós e que possam ter gostado. Isto, meus amigos é surpreendentemente medonho... E talvez ponha um sorriso nos vossos lábios. A maioria dos estudantes que estão hoje nas universidades nasceu em 1986, ou depois. Chamam-se jovens. Nunca ouviram 'we are the world' e uptown girl conhecem de westlife e não de Billy Joel. Nunca ouviram falar de Rick Astley, Banarama ou Belinda Carlisle. Para eles sempre houve uma só Alemanha e um só Vietname. A SIDA sempre existiu. Os CD's sempre existiram. O Michael Jackson sempre foi branco. Para eles o John Travolta sempre foi redondo e não conseguem imaginar que aquele gordo tivesse sido um deus da dança. Acreditam que Missão impossível e Anjos de Charlie, são filmes do ano passado. Não conseguem imaginar a vida sem computadores. Não acreditam que houve televisão a preto e branco.
Agora vamos ver se estamos a ficar velhos: 1- Entendes o que está escrito acima e sorris. 2- Precisas de dormir mais depois de uma noitada. 3- Os teus amigos estão casados ou a casar. 4- Surpreende-te ver crianças tão á vontade com computadores. 5- Abanas a cabeça ao ver adolescentes com telemóveis.. 6- Lembras-te da Gabriela (a primeira vez). 7- Encontras amigos e falas dos bons velhos tempos.
Sim! Tu e eu estamos velhos ou ficando velhos. Porém, estamos conscientes que tivemos uma infância do arco da velha; do caraças!!!

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