Naquela madrugada tinha transmissão televisiva de corrida de Fórmula 1 do Japão. Isso verificar-se-ía lá pelas 3 ou 4 horas da madrugada em virtude da diferença de fuso horário em relação ao Brasil. Tudo bem. Mesmo não sendo ferveroso adepto desse desporto, ao ponto de sacrificar uma noite bem dormida, justificava-se assistir por uma boa causa…
Miranda, saudoso amigo do lado esquerdo do peito, acionou o meu Bip. Naquele tempo a telefonia celular ainda não era uma realidade para todos e eu não era pássaro de estar sempre no mesmo galho. “Portuga!”, bradou ele quando respondi à chamada; “Tenho aqui três minas afim de curtir a corrida no apartamento de uma outra amiga. Preciso de ti e de mais um amigo”.
Nunca deixei um amigo na mão e não seria desta vez que o faria. Rapidinho já contactei outro da nossa turma e tudo ficou acertado para aquela noite.
Como já tinha sido alertado para a escassez de alguns produtos naquele pequeno apartamento e indispensáveis na reunião, providenciei umas garrafas de vinho. A escolha não recaíu em marcas famosas, pois sabia que lá haveria uma mistureba com cerveja e outras bombas, o que desvirtuaria qualquer capricho meu…
Lá estávamos nós, os seis, no meeting point para sair em direção do apartamento da outra amiga do Miranda. Escusado será dizer que a única afro -descendente me tocou. Afinal, nós portugueses jamais fômos racistas e sempre gostámos da fruta. Há mesmo, aqui, uma consciência das duas côres em relação à questão. Não fôra isso, o Brasil não teria as lindas mulheres que tem.
Ao entrármos no apartamento, notámos que a moradora tinha um companheiro de côr negra. Ali fizémos a apresentações e todos ficámos àvontade. Animação total e bem regada.
Lá para as tantas acertámos todos em tirar uma palha, ali mesmo no chão e acordaríamos quando começasse a corrida. Como a carne é fraca e as intenções eram unânimes, à excepção do casal da casa, cada um começou a entrar nos finalmente. Percebíamos que o negão estava meio confuso entre um levantar e baixar da cabeça, mas nada disse.
Lembro-me que ninguém assistiu à corrida e só no dia seguinte vim a saber que Ayrton Senna ganhara…
Chegada a hora da debandada, já com o sol alto e brilhante, entrámos todos no elevador. Lá dentro estava uma mulata linda que logo reconheci como sendo amiga e companheira de uma das minhas cunhadas… Era a Telma. Trocámos um normalíssimo “oi” e todos os segredos se mantiveram. Uma questão de consciência.
E porque hoje é feriado, Dia da Consciência Negra, deixo aqui o meu abraço a todos os meus amigos e amigas afro-descendentes.
2 comentários:
Poxa companheiro, isso tá mesmo bem contado...Até deu pra lembrar tanta coisa...
Faço minhas suas palavras quanto ao gosto português...
Mas saudade, dos meus temopos de Angola, bateu fundo ao ler este post.
Ma che bella suruba, hein, Alentejano de um raio!!Ishhhhhhhh!!
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