Depois de certa idade, ainda infante, deixou de conversar
com o pai e, quando interpelado a respeito, não havia resposta. A mãe jamais o
chamou à atenção por isso. Tornou-se, assim, uma situação estranha debaixo
daquele mesmo teto.
O pai acostumou-se, mas veladamente seguia todos os passos
do filho e interessava-se por tudo o que acontecia na sua vida. Feliz umas
vezes e preocupado outras.
A mãe era, na realidade, a sua confidente e praticamente a
única pessoa da sua família. Fazia de tudo para lhe agradar e lhe facilitar a
vida. Mas jamais vi uma manifestação de carinho para com ela ou com quem quer que
seja. A mãe desconversava sempre que eu a chamava a atenção por causa de certas
atitudes dele.
Jamais viveu longe de casa até que, agora, surgiu uma nova
oportunidade de emprego da Federação para a qual havia concorrido. Foi para
Salvador, na Bahia.
Gostaria muito de com ele ter conversado a respeito da nova
situação, pois a minha experiência nesse ponto é abismal. Fiquei independente
da família aos 14 anos na grande Lisboa. Não me foi dada essa oportunidade, mas
é enorme a minha grande torcida pelo seu bem estar e sucesso.
Chegou a hora da saída de casa e a tomada do taxi que o
levaria ao aeroporto. Antes, a mãe lhe preparara a mala e os itens
indispensáveis. Tudo certinho. Reservadamente, de longe, eu assistia a tudo o
que se passava e gravei na memória cada momento.
Depois que ele partiu, fiquei pensando em muitas das situações
pelas quais passei e fiz uma analogia. Lembrei-me que cheguei a ficar longe
(muito longe) de minha mãe, treze anos consecutivos. Uma eternidade sem lhe dar
ou dela receber um beijo.
Um beijo. Ah! o quanto representa e a sensação que é um
beijo trocado entre uma mãe e um filho. Só quem passa por isso sabe avaliar.
Perguntei à mãe dele se recebera um beijo de despedida. Com
uma expressão de tristeza no olhar, disse-me que não...
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