sexta-feira, maio 19, 2017

Relações

Depois de certa idade, ainda infante, deixou de conversar com o pai e, quando interpelado a respeito, não havia resposta. A mãe jamais o chamou à atenção por isso. Tornou-se, assim, uma situação estranha debaixo daquele mesmo teto.
O pai acostumou-se, mas veladamente seguia todos os passos do filho e interessava-se por tudo o que acontecia na sua vida. Feliz umas vezes e preocupado outras.
A mãe era, na realidade, a sua confidente e praticamente a única pessoa da sua família. Fazia de tudo para lhe agradar e lhe facilitar a vida. Mas jamais vi uma manifestação de carinho para com ela ou com quem quer que seja. A mãe desconversava sempre que eu a chamava a atenção por causa de certas atitudes dele.
Jamais viveu longe de casa até que, agora, surgiu uma nova oportunidade de emprego da Federação para a qual havia concorrido. Foi para Salvador, na Bahia.
Gostaria muito de com ele ter conversado a respeito da nova situação, pois a minha experiência nesse ponto é abismal. Fiquei independente da família aos 14 anos na grande Lisboa. Não me foi dada essa oportunidade, mas é enorme a minha grande torcida pelo seu bem estar e sucesso.
Chegou a hora da saída de casa e a tomada do taxi que o levaria ao aeroporto. Antes, a mãe lhe preparara a mala e os itens indispensáveis. Tudo certinho. Reservadamente, de longe, eu assistia a tudo o que se passava e gravei na memória cada momento.
Depois que ele partiu, fiquei pensando em muitas das situações pelas quais passei e fiz uma analogia. Lembrei-me que cheguei a ficar longe (muito longe) de minha mãe, treze anos consecutivos. Uma eternidade sem lhe dar ou dela receber um beijo.
Um beijo. Ah! o quanto representa e a sensação que é um beijo trocado entre uma mãe e um filho. Só quem passa por isso sabe avaliar.

Perguntei à mãe dele se recebera um beijo de despedida. Com uma expressão de tristeza no olhar, disse-me que não...

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