segunda-feira, março 22, 2021

Évora e o futuro

 Não abundam cidades médias que reúnam tantas condições básicas para garantir o sucesso, como Évora: acessibilidades, água, energia, informação, conhecimento, densidade cultural, saúde e bem-estar. Por que não dá?


Jorge Araújo -- (A CONTRA-CORRENTE (10): Évora em défice de ambição.

As auto-estradas foram muito criticadas, mas, para Évora, o acesso rodoviário rápido e seguro foi uma bênção. A proximidade a Lisboa e a Badajoz, para a qual contribuíram, a partir de 1999, os 158 km da A6, abriu novos horizontes de relacionamento, quebrou a relativa interioridade de que os mais velhos ainda se lembrarão.
Em breve, a nova linha ferroviária que integra o Corredor Internacional do Sul, cuja construção segue sem percalços, dará a Évora uma nova centralidade entre o litoral e Espanha, concretamente, entre os portos de Sines e de Setúbal, e o porto seco de Badajoz. Mas também a linha de alta-velocidade entre Évora e Lisboa, em construção, irá aproximar Évora da Capital, e futuramente, da Europa.
A barragem do Alqueva, também muito criticada, anulou, desde 2002, aquele que parecia ser um atavismo do Alentejo e de Évora: a seca. Hoje, qual novos ricos, o Alentejo parece acreditar na inesgotabilidade da reserva do Alqueva, usando a água sem discernimento. Mas ela existe e resiste, nunca faltou e assegura o bem-estar das populações, impensável há alguns anos atrás.
A ligação por cabo submarino entre a América do Sul e a Europa, não sendo inédita, é a primeira que se opera em fibra ótica. Com amarração em Fortaleza (Brasil) e em Sines, a nova ligação (10.119 km) já inaugurada, gera uma imensa acessibilidade e fluidez de tráfego de informação (72 terabits por segundo).
Do ponto de vista energético, o Alentejo, devido à sua exposição solar, produz mais de metade de toda a energia elétrica fotovoltaica do País. A esta há que adicionar a produção elétrica da Central Hidroelétrica de Alqueva. Futuramente, a transformação da Central Energética de Sines para a produção de hidrogénio, colocará o Alentejo no cerne da alternância energética ao País.
Évora tem Universidade. Uma Universidade histórica, que não se refugiou à sombra das bulas papais, mas que se guindou por ela própria aos mais elevados patamares do reconhecimento em múltiplos domínios do saber. A Universidade de Évora lidera hoje dois grandes Laboratórios Associados, o CHANGE que agrupa 316 investigadores de 4 universidades e o IN2PAST que engloba 331 investigadores de 5 universidades. “Aqui ao leme”, a Universidade de Évora é mais do que o Colégio do Espírito Santo; é uma imensa rede de investigação científica e desenvolvimento tecnológico, de formação superior inicial e avançada; é um potente motor do desenvolvimento económico, cultural e social...assim a Região o reconheça e o aproveite.
Évora, Património da Humanidade, como tal classificado pela UNESCO, exibe uma estratificação cultural legada pelos diversos povos que habitaram a região. Em cada pedra da mais humilde rua, em cada azulejo, em cada talha ou cada telha, se poderá vislumbrar a profundidade do passado que se esfuma na noite dos tempos neolíticos.
O futuro Hospital Central do Alentejo, cujo concurso público para construção está em curso, e cuja entrada em funcionamento se prevê para 2023, será o penúltimo dos grandes equipamentos reconhecidamente indispensáveis para o desenvolvimento da Cidade e da sua Região.
O que faltará a Évora para quebrar o “enguiço”?
Apenas uma palavra responderá a essa questão que muitos se colocam: ambição!
Évora tem feito prova de querer ser uma grande cidade alentejana. Mas não chega! É preciso visar mais longe, importa nutrir a ambição de ser uma excelente cidade europeia de média dimensão, onde seja bom viver porque segura, culta e saudável; e que seja apetecível para a instalação de empresas industriais e agrícolas, tecnologicamente modernas, ambientalmente respeitadoras, e produtivas.
Senhores autarcas, saudemos o cante, como nosso património identitário, mas não como diapasão para o ritmo de progresso que queremos. É tempo de equacionarem outro modelo de desenvolvimento, elegendo objetivos ambiciosos de médio e longo prazo, definindo metas intercalares precisas e exigentes, enfatizando as vantagens competitivas que Évora e o Alentejo oferecem, atuando com criatividade e garra na criação de condições cativantes para a fixação de empresas e captação de financiamentos. Se falharem, os vossos correligionários talvez vos perdoem, mas Évora, não!




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