Confesso ser ignorante no campo da botânica, bem como noutros campos do conhecimento. Aceito como normal. Planto uma árvore, tento cuidar dela da melhor forma e que nem sempre é (…), enfim. Trato do meu jardim e por vezes procuro alguma informação entre os amigos ou nos livros e internet.
Já aqui escrevi muito sobre o assunto, desde o ano de 2000 em que o plantei definitivamente na calçada de casa. Demorou alguns anos para dar a primeira florada e sei que a actual é a quarta.
Neste ano de 2010 aconteceram coisas estranhas com o meu Ipê Amarelo (gosto de o citar assim com letra maiúscula) e, curiosamente, comigo também. Parece ter havido uma relação mágica entre nós que a Natureza se encarregou de administrar. Uma dessas coisas que aconteceu com ele foi a primeira floração na época certa, pois que nos anos anteriores o El Ninho e La Ninha bagunçaram tudo.
Já aqui escrevi, também, sobre recentes acontecimentos relacionados com a minha saúde. E sobre isto há algum tempo mantenho a dúvida se devo ou não entrar em contacto, conversando ou escrevendo, com aquele que foi o meu primeiro cardiologista; o primeiro da minha vida que, como o primeiro amor, jamais esquecerei… Essas coisas do coração são muito estranhas, profundas e às vezes até indecifráveis ou enganadoras.
Optei por escrever sobre o assunto, dirigindo-me ao médico, na forma de uma crónica e com a certeza que ele vai ter oportunidade de lê-la. Outros médicos, bons e maus, acabarão por encontrar esta prosa nos cafundéus da internet e eu considero isso muito positivo. Só que me reservo citar nomes de quem quer que seja mas garantindo a veracidade dos factos.
Aquelas anormalidades no meu sono e as constantes faltas de ar que me acordavam durante a noite, tudo associado à minha condição de hipertenso, levaram-me a pesquisar na internet com base nos sintomas. Cheguei à conclusão que estaria sofrendo de “Dispneia Paroxística Noturna” --- Nome pomposo…
O primeiro médico, clínico geral, que me atendeu nos serviços de urgência do Hospital, mandou fazer ali mesmo alguns exames clínicos de sangue e urina e tirar raio X do tórax e do coração. Observou tudo minuciosamente e em relação às radiografias achou que estava tudo bem com o coração e com os pulmões. A mesma avaliação do meu médico do Posto de Saúde que visito a cada 6 meses. Não obstante, reconhecedor da precariedade dos serviços públicos de saúde, o SUS, orientou-me a que eu procurasse um cardiologista particular.
Foi o que eu fiz. Indicaram-me uma clínica barata que oferecia serviços de várias especialidades médicas, inclusivamente cardiologia. Reparei ser grande o movimento e indaguei-me sobre se não haveria pacientes cujos casos fôssem análogos ao meu…
Normalmente as primeiras palavras que o médico dirige ao paciente são perguntas sobre o que este está sentindo. E aqui eu acho que cometi o crasso erro de ter citado a tal de “Dispneia Paroxística Noturna” acrescentando mais alguns detalhes e mostrando os exames e radiografias que comigo levara.
O cardiologista confirmou que eu estava com aquela doença --- quem sabe se eu estaria com outra se outra eu tivera citado (?) ---. Fôram-me dadas todas as explicações sobre o tamanho grande do coração e as dificuldades do mesmo no bombeamento do sangue para os pulmões, etc., etc., etc..
A receita foi um conjunto de 4 comprimidos de consumo continuado e, por sinal, bem caros… E como surgiu uma dúvida a respeito de um deles, consegui na internet achar um endereço de e-mail do médico, coloquei-lhe a dúvida e ele respondeu-me. Óptimo! Sabia, a partir dali, que teria facilidade de comunicação num caso de necessidade.
Essa medicação começou a exercer uma série de sintomas desagradáveis e alterações no organismo, ao ponto de eu acreditar que a minha vida estaria por um fio. A cabeça começou a absorver tudo isso e cheguei ao ponto de começar a entristecer-me quando pensava que talvez não brincasse mais com os meus netos e que estava prestes a deixar de usufruir coisas boas da vida e até mesmo a morrer em curto espaço de tempo. Comecei a ficar muito deprimido e reconhecendo que isso não é doença de rico (…) ao acontecer comigo também.
Não dava mais para aguentar os efeitos directos e os colaterais daquele conjunto de medicamentos. Fìsicamente eu estava um trapo; psicològicamente um louco. Fobias me invadiram e agora é que eu não dormia nem os pouquinhos de anteriormente. Tentei um contacto por e-mail com o médico, mas desta vez ele não abriu a caixa postal ou não se interessou. Esperei os dias faltantes para o retorno agendado.
Disse-me que não abria a caixa de e-mail há algum tempo, mas que me responderia mesmo eu tendo estado ali (…). Perguntei sobre o que me estava deixando naquele estado; se o coração ou os medicamentos. E a resposta foi peremptória: o coração! E que teria que tomar os medicamentos pelo resto da vida. E foi aqui que o meu mundo caíu definitivamente. À minha sugestão de opção por outros tipos de exame, limitou-se a passar um pedido de ecocardiograma, mas que não havia necessidade de pressa no mesmo.
Nem foi necessária a orientação de que eu não poderia fazer qualquer tipo de esforço, pois sentia uma deficiência total na força de braços e pernas, além de tonturas, ânsias e outras coisas mais. Quase não podia trabalhar e limitava-me a dar orientações no meu serviço.
Um dia todos esses sintomas se multiplicaram à enésima potência e tiveram que me transportar para as emergências do hospital. Atendimento de urgência com estabilização da pressão e exames clínicos e radiológicos. E quando tudo pronto, o clínico geral para onde me encaminharam escutou a minha história, avaliou os exames que estavam bons e confirmou que o coração estava enorme, apontando-me o local da expansão do mesmo. Traçou um quadro tão negro que a minha pressão caíu a 7 x 4 e precisei de socorro emergencial para não bater com as dez…
Liberado e já em casa, comecei a pensar numa segunda opinião, de outro cardiologista. Porém, continuei tomando os medicamentos com receio que a sua suspensão pudesse vir a ser trágica.
Dois dias depois lá estava eu no consultório daquele que vim a saber, mais tarde, ser um dos maiores do Brasil. Fui aconselhado por um familiar que dele é paciente há alguns anos.
Pacientemente ouviu tudo o que eu tinha a dizer, perguntou outras tantas coisas e ainda ficou com o relatório diário que eu escrevera desde o início da novela. Às tantas, ordenou que me deitasse na maca, mas antes disse-me que o meu coração era normal e que aquele lugar onde me tinham apontado a expansão do órgão não tinha nada a ver. Eu nem queria acreditar no que estava ouvindo e cheguei às lágrimas de comoção. Toda aquela medicação assassina foi suspensa de imediato e uma bateria de exames foi marcada, dos mais simples aos mais sofisticados. Com tudo pronto retornei e tomo hoje dois comprimidos básicos: um para controlar a pressão e o outro para dormir, pois há muitos danos a serem reparados. A receita foi um programa de exercícios físicos indicados ao meu caso e numa academia especializada com os seguintes objectivos: --- perda de massa gorda abdominal; controle da ansiedade e da pressão; controle metabólico. Depois de aprendê-los correctamente, poderei fazê-los onde quiser.
Há perguntas que não querem calar: é possível um médico, seja de que especialidade fôr, não saber interpretar uma radiografia do tórax, ao ponto de confundir a localização e tamanho do coração? Poder-se-á afirmar que há conluios entre médicos e laboratórios? --- Não me vou embrulhar nessa selva.
Parece haver aqui uma grande confusão, mas não é verdade. Eu comecei a escrever sobre o meu Ipê e passei para assunto da minha saúde. Mas tem tudo a ver uma coisa com a outra.
O Ipê deu a sua florada e nesse mesmo dia choveu, coisa que não acontecia há alguns longos meses. Por isso, foi uma florada meio murcha e tímida que durou 3 dias apenas. Fiquei triste e preocupado com isso. Caíram todas as flores e eu preparei-me para a poda, pois é necessário cortar uns galhos. Porém, notei que a árvore estava brotando novas flores e desta vez em muito maior número. Nunca vi acontecer uma coisa dessas e nem mesmo sei se é um fenómeno ou qual a justificativa.
Só sei que ambos nascemos de novo. É aqui que está a relação do meu Ipê comigo. Cada um de nós tem duas vidas… Os dois andámos pisando a linha da fronteira e voltámos para a vida com o coração renovado e só grande porque cheio de alegria e de amor. Nas árvores isso é expresso pelo aroma e pela côr das flores. Nos homens pelo relacionamento carinhoso e sem rancores, mas indicando o dedo na direção a seguir…
1 comentário:
Não podemos nos esquecer que a saúde é um negócio e existem muitos médicos sem escrúpulos que, mais que a saúde de alguém desconhecido, o que lhes importa é o lucro..
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