sexta-feira, junho 17, 2011

Meu amigo Pit

Não sei o nome dele e jamais soube; também jamais perguntei. Por isso mesmo, resolvi dar um nome àquele cão de raça pitbull que conheço desde filhote e é pertença do dono da padaria onde tomo o pequeno almoço todas as quintas-feiras. Um cachorro muito bonito, cor de mel com malhas brancas e sem aquele semblante carregado e ameaçador da raça. Passei a chamá-lo de Pit e veio substituir no meu rol de amizades caninas, o anterior "fila" tigrado de nome Tigrão, do mesmo dono.
Desde três ou quatro quintas-feiras atrás, uma das minhas filhas que mora na mesma rua onde eu monto a banca da feira nesse dia, vai levar o meu netinho caçula na escolinha e depois dá uma ajuda nos negócios. Enquanto isso, eu tenho a oportunidade de brincar um pouco com o pequenino e um dos lances é chegar na esquina da rua do meu amigo pitbull e gritar o nome Pit. Imediatamente ele responde ladrando por reconhecer a minha voz e o som. E o meu neto gravou e começou a gostar dessa brincadeira. Assim, sempre vamos até ao portão e, porque ele está preso na casinha, ficamos atiçando-o numa boa. Já lhe puz a mão no lombo muitas vezes e até já entrei na casa com ele solto. Um amigo confiável...
Nesta última quinta-feira o meu netinho me cotucou para ir ver o Pit. Concordei e, ao chegar na esquina da rua, gritei o seu nome. Estranhamente ele não respondeu. Caminhámos até ao portão e verifiquei que ele estava solto fóra da casinha. Imediatamente veio correndo para o portão latindo sem parar e com os olhos fixos no moleque. Estava explicado que a bronca era com a criança e não comigo. Sempre ouvi dizer que é uma raça que não gosta de crianças e já li muitas notícias de acidentes graves entre os petizes e esses cães.
Tomei todos os cuidados com o neto, pois há histórico de acidente gravíssimo com uma cachorra da minha casa, protagonizado com essa minha filha quando ela tinha um ano de idade. Tentei de tudo para que o Pit parasse de latir, até que estendi a mão esquerda para lhe fazer um afago. Senti que ele me mordeu mas sem abocanhar; foi um simples selinho com aqueles dentinhos frontais, mas que levantou aquela parte mais carnuda da palma da mão como se fôsse um bife... Vi que o sangue jorrava, desviei a atenção da criança e fui imediatamente para o hospital. Aquilo doía para cacête!...
Costumo fazer amizade com todos os cachorros que encontro por aí. Gosto muito de cães, sempre os tive em casa. Até um Canil para criação e venda da raça Dálmata eu já tive devidamente regularizado. Mas jurei a mim mesmo que daqui para a frente tomarei mil vezes mais cuidado que até então.
Não foi muito fácil aguentar quase meia hora para ser atendido por um médico naquele Pronto-Socorro. E mais difícil ainda foi quando senti aquelas agulhas na sutura a que me submeteram, mesmo com anestesia local. Antibióticos, anti-inflamatórios e vacina anti-tetânica entraram na terapia. Nesse ponto está tudo em ordem. Quanto ao cão, tem que ser acompanhado o seu comportamento numa prevenção contra a raiva e também estou fazendo isso.
Problemático também foi o dia de hoje --- o pós acidente. Quando de manhã fui ao banheiro e fiz as minhas necessidades, a minha obesidade não me deixava limpar a bunda com a mão direita, o que sempre faço com a mão esquerda. Tive que optar mais cêdo pelo banho de chuveiro que tomaria normalmente mais tarde. Também não conseguia chegar a todas as partes do corpo para ensaboá-lo, pois isso é trabalho para as duas mãos. Tive que apelar para a mulher e ela se encarregou de suprir todas as minhas dificuldades.
Senti pela primeira vez algumas das limitações a que estão sujeitos os anciãos, mas nunca pensei ser tão prematuramente...
O meu amigo Abílio postou no Facebook uma "colherada" de ânimo ao insinuar que felizmente eu não machucara a mão direita ao invés da esquerda. Esses meus amigos são uns bricalhões com as suas sacanagens. Mas garanto a todos que mesmo barrigudo consigo enxergar o pinto e, se não conseguir tocar uma punheta com a direita, consigo com a esquerda e vice versa...



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