quinta-feira, abril 18, 2013

Et quibusdam aliis

Na minha formação, por imperativo de nuances da vida profissional e, naturalmente, também pela curiosidade que a enriqueceram e continúam enriquecendo, muita coisa da linguagem forense e do Direito foi assimilada. Chego até mesmo a introduzir algumas locoções do latim em escritos ou na prosa, mas quando com destino aos amigos mais cultos e sempre como uso de um certo floreado do texto sem prejudicar o entendimento do mesmo. Não obstante, entendo não ser essa uma boa prática nos dias de hoje e confesso o mea culpa.
Porque ainda tive oportunidade de estudar e aprender nos bons tempos, se bem que bons são ou deveríam ser todos os tempos, tenho facilidade em entender quase tudo o que um juiz fala ou escreve, bem como transitar com facilidade no labirinto da redação de um Código ou autos de um processo.
Porém, a maioria dos mortais não tem essa facilidade e muitos se revoltam com isso. Direi, até, que essa insistência em redigir dessa forma tão conservadora e arcaica, a documentação jurídica e outra inerente aos demais órgãos oficiais, acaba por prejudicar a maioria e torna injusta a justiça...
Muitos dos magistrados escrevem ou falam de modo a se acharem o supra sumo da cultura e da retórica. De omni re scibili (divisa de Pícolo de Mirândola). São vaidosos e não entendem ou não querem entender que toda essa encenação não cativa a população em geral e os mesmos acabam por ser redicularizados por quem os entende.
Cito o caso de alguns dos juizes do Supremo Tribunal Federal que sempre mantêm uma postura encenada quando das suas preleções. Aquele jeito arrastado da fala, mesmo quando de carioca se trate, é forçado. Os esnobados termos do vocabulário são propositais e algumas vezes nos levam a consultar o dicionário, depreendendo-se estar isso fora do contexto.
Vejamos o caso mais recente em que um dos citados juizes usa o seguinte trecho de uma frase numa declaração: "é no mínimo naífico".
Algum dos meus leitores sabe o significado de naífico? --- Parabéns a quem respondeu positivamente!... Eu, sinceramente, não sabia e não achei em todos os dicionários que consultei a começar pelo meu da Porto Editora, passando pelo Michaelis e muitos na internet. Só não consegui entrar no Houaiss porque tem que ser assinante... Mas consegui saber ao ler artigos de alguns jornalistas. Só não sei onde eles acharam o significado "ingénuo". Talvez tenham seguido o meu raciocínio quando relacionei a raíz do vocábulo com a pintura naïf (simplicidade no lugar da subtileza). Quase de certeza que o meretíssimo juiz inventou assim o termo a exemplo do que faziam grandes escritores como Eça de Queiroz.
Fazendo minhas as palavras de Voltaire, resta-me dizer "et quibusdam aliis".


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