O caso da brasileira Paula Oliveira na Suiça já se arrasta há uns poucos dias mas, como sempre, nunca abordo um assunto sem que a respeito do mesmo tenha detalhes concretos. Principalmente este que é melindroso e, a cada dia que passa, fica mais enrolado ou mais esclarecido, nadando assim em turvas águas.
É sempre de boa índole ter-mos alguns conhecimentos pessoais do caracter das pessoas e de lugares, o que nos dá um certo àvontade para chafurdar nesses mares de lama que é, ao que parece, no que se está transformando este caso.
O governo Brasileiro precipitou-se no primeiro momento, da mesma maneira que grupos de imigrantes brasileiros na Suiça e veículos da imprensa brasileira. Num segundo momento, a imprensa suíça deu grande destaque à reviravolta no caso Paula. Alguns jornais publicaram duros ataques. Acho eu que aqui também se caracteriza precipitação quando o que poderia ser simplesmente notícia passa a ser editorial ou opinião.
Um colunista do diário conservador "Neue Zürcher Zeitung", um dos maiores do país, acusa a imprensa brasileira de inventar fatos "regularmente" e afirma que o Brasil é um dos países mais racistas do mundo. Aqui fica em dúvida a seriedade deste órgão da imprensa, bem como de outros que seguem a mesma linha, pois que não mais se trata de opinião séria e sim de um fulcro para alavancagem de ações de grupos racistas.
O estado psicológico de Paula Oliveira é "grave e se tornou mais preocupante", segundo palavras do pai dela, Paulo Oliveira. Segundo ele, não há previsão de alta. Um dia após ter afirmado que acredita na versão da filha, Paulo fez ontem a primeira concessão em relação às suspeitas da polícia suíça."Em qualquer circunstância, a minha filha é vítima", disse ele.
Outro que está jogando lenha na fogueira, quando deveria ser o principal interessado em procurar colocar tudo no seu devido lugar, independentemente dos resultados que a verdade traga à tona. Porém, quanto a este senhor e aos seus métodos, a partir do momento que eu soube tratar-se de assessor de um dos nossos políticos, nada mais tenho a declarar...
O ponto crucial de toda esta trama, se é que se pode chamar assim, é saber, sem margem de uma única dúvida, se Paula estava grávida ou não no dia dos alegados factos. É tão simples assim. Claro que, além do que foi atestado pelos médicos suiços, outro exame deveria ser feito por equipe médica neutra. Perante a incontestabilidade dos resultados finais, partiríamos para o doa a quem doer.
Tenho razões para poder duvidar do que dizem os médicos do hospital suiço, uma vez que já fui vítima de tratamento indigno no Hospital Universitário de Génève no início da década de 90, não no que se refere à competência médica e à excelência das instalações, mas por declarações xenofóbicas de um cirurgião que, por sinal, era espanhol... Acusava-me ele da falta de pagamento pelo atendimento quando da urgência, no meu retorno para extração dos pontos e curativo. Ora, eu nem sabia que tinha que pagar algo e fi-lo de imediato antes de ele se pronunciar, quando do acesso à consulta. Ouvi tudo, impávido e sereno, mas escrevi-lhe depois uma bela carta em português castiço, pois não acharia os termos certos no espanhol ou francês. Quem jamais me reembolsou desse dinheiro foi a cidadã suiça para quem eu prestei serviços profissionais...
Já por algumas vezes aqui meti o pau nos suiços, principalmente quando eles escondem atrás da sua tão propalada neutralidade, actos abomináveis como o de grande fornecedor de minas anti-pessoais a grupos e países africanos, principalmente. Mas, pessoalmente, gosto da Suiça e do seu povo porque, mesmo com curta permanência por lá, conheci um pouco e me relacionei muito bem. Até uma das minhas primeiras namoradas, na adolescência, morava em Salavaux e ouvia as emissões diárias da Rádio Suiça Internacional...
Voltando a bater na tecla das dúvidas e sem querer entrar no mérito da questão com uma opinião final, direi que aquelas marcas que a moça tem no corpo não fôram feitas por ela; ela estaria num estado de subconsciência quando uma outra pessoa fez a arte com mão firme e sem que a tela vibrasse.
Certa vez, na década de 70, logo após o regresso do Ultramar, fui passar o dia no complexo de piscinas da cidade de Évora, em Portugal. Lá juntei-me a dois antigos amigos que também tinham regressado da guerra colonial. Tive oportunidade de assistir a uma mutilação mútua entre os dois, quando um fazia cortes nos braços do outro e vice versa, dando ambos risadas e sem manifestarem um único indício de dor. Acabaram os dois por receber atenção médica na enfermaria do local. Era o trauma de guerra do qual muitos hoje ainda sofrem.
Então, parece sempre haver um motivo para esse tipo de mutilação, seja ou não a vítima conivente. E quem sabe se o de Paula não era fortíssimo!?...
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