Há dias em que melhor seria não sair de casa. E são muitos.
De há uns tempos a esta data eu até tenho optado por ficar em casa, naturalmente. Muitos amigos sumiram e eu também não tenho mais aquela disposição para ir até àquele bar que costumava frequentar, ou a qualquer outro ponto público de lazer ou de tertúlias. Trabalho na parte da manhã, das 5 às 13, faço a minha sésta depois do almoço como todo o bom alentejano e nas restantes horas da tarde e algumas da noite ocupo-me com alguma coisa --- internet, leitura, bricolagem, enfim.
Sei que me prejudico muito com esse estilo de vida, pois não é muito salutar e eu preciso fazer algum tipo de exercício físico e não faço. Um ou outro dia passeio com o meu cachorro e faço-o quando ele me pede.
É verdade! Os cães pedem ao dono para que os levem a passear. Nem precisam latir ou ladrar para expressarem esse desejo, pois o dono que esteja bem entrosado com o seu amigo fiel percebe isso no olhar. E não é todos os dias que eles pedem, se bem que eles gostariam e necessitam de passear sempre. Por causa dessa flexão deles nós adiamos o dever impávidos...
Hoje não foi possível adiar. Fui no quintal e peguei a trela e coleira. Foi o suficiente para que o meu Dálmata explodisse de alegria e pusesse em alvoroço todos os demais cachorros vizinhos. Sempre isso acontece.
Gosto da maioria de raças caninas, mas tenho preferência pelos Dálmatas e Labradores. Cheguei a ter um Canil devidamente registado e criei Dálmatas por alguns anos. Por isso, sou profundo conhecedor desta raça. São, até certo ponto, cães mansos. Óptimos para quem tem crianças. Adestrados, dispensam a trela e jamais será necessário usarem açaimo. Porém, sempre passeei com os meus usando a trela.
Este meu Dálmata, o Díli, é diferente de todos quantos já tive e jamais o consegui educar ao ponto de que caminhe a meu lado. Puxa por mim como se ele me estivesse levando a passear e não eu a ele... Memorizou todas as casas onde tem cachorros e começa a latir na aproximação de cada uma delas em provocação. Tem uma força descomunal à qual eu tenho que corresponder e o resultado final é o cansaço mútuo nos píncaros.
Tomo todos os cuidados para não assustar os demais transeuntes, mudando de uma calçada para a outra ou reduzindo o tamanho da trela para o deixar bem junto a mim. Mesmo assim há pessoas que ficam com medo e outras que soltam o verbo até às ofensas. Claro que, estas últimas, por pura ignorância.
Hoje na calçada percebi a aproximação de dois jóvens e entendi que um deles conversava e o outro só escutava. O falante era daquele tipo que mistura o "evangélico fanático " com o "rebelde engraçadinho". Percebi que falava sobre a Inquisição e depois que passou por mim soltou esta pérola: "... tratar bem as pessoas; não como esse aí trata o animal". Parei e virei-me para trás esperando que ele olhasse também. Sorte dele que não se virou...
Mais à frente, percebi que uma mulher vinha na mesma calçada, mas em sentido contrário e, ao aproximar-se, foi para o outro lado da rua. Lá, estancou e me disse alto e bom som: "Porque não coloca um açaime no cachorro?". Não aguentei e retruquei: "Mas quem está gritando é a senhora e não o cachorro...". Reiniciou a sua caminhada vomitando um monte de impropérios, mas eu não liguei mais.
Três quadras depois virei numa esquina e iria passar defronte a um portão gradeado, local que o Díli conhece muito bem. Lá tem uma fêmea Labrador e os dois sempre namoravam através das grades; uma amizade há muito consolidada. Porém, há dois meses que lá se encontra um macho da mesma raça junto com ela e, a partir daí, a nossa passagem deixou de ser tranquila.
Logo que virei a esquina, a dona daquele casal de Labradores estava saindo de casa e, descuidando-se, deixou escapar o macho. Este veio correndo ao nosso encontro, feroz, e atracou-se com o meu Díli. Continuei segurando-o na trela e entendi que não o deveria soltar. Sabia que assim que um deles baixasse a guarda a briga terminaria. O Dálmata abocanhou o Labrador no pescoço paralisando-o. Foi o suficiente para que cada um seguisse o seu caminho.
Nenhum deles ficou ferido, aparentemente, e eu fui conversar com a dona do Labrador fazendo-a ver que eu e o meu Dálmata eramos inocentes e, se o meu estivesse com açaime ter-se-ía dado muito mal.
1 comentário:
Mas que tumulto este teu passeio, hein? Que adrenalina, sô!
Melhor comprares uma esteira e pores o dálmata a caminhar nela....aproveitas e caminhas junto...menos arriscado!! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
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