segunda-feira, março 07, 2011

Traumas e fobias

Pessoa muito próxima e que eu muito prezo, mas cujo nome ou algo mais que a possa identificar eu me reservo o direito de não publicar. Estabeleceu-se nessa pessoa e em mim um mesmo tipo de situação, se bem que por problemas diferentes mas concorrentes. E o facto de estar aqui abordando esse tema não é nada que caracterize uma notícia ou exponha uma cena insólita.

Há exactamente 4 meses atrás, essa pessoa sofreu um derrame numa das vistas que há já algum tempo tinha sido operada de cataratas. Como não tinha operado a outra e que agora já estava com a catarata em último estágio, ficou cego. Imaginem uma pessoa que teve visão normal durante mais de 70 anos e que, de repente, deixa de enxergar o que quer que seja. É um dependente em todos os sentidos, infelizmente. E muito de negativo vai tomando conta de sua mente --- traumas e fobias.

Durante todo esse tempo várias tentativas de uma cirurgia à vista com catarata fôram descartadas na última hora. Ou por certas insuficiências ou por temores vários por parte dos médicos. Porém, um dia apareceu o médico que afastou todos esses fantasmas e resolveu operar com modernos métodos de "laser" e em 5 minutos tudo estava normal. Na mesma hora o paciente saíu do hospital caminhando e enxergando.

Tudo muito bem; tudo muito bom. Mas nada fica como dantes ou, pelo menos, demorará muito tempo a ficar. Isso eu posso afirmar, pois tenho problemas semelhantes e por isso mesmo estou escrevendo a respeito. Instaurou-se na pessoa uma cadeia de traumas e fobias e isso não só porque a sua saúde não é das melhores, pois indivíduos saudáveis, como é o meu caso actualmente, também passam por isso.

Eu jamais tive problemas no que diz respeito a viajar de avião. Perdi o conto de quantas vezes cruzei o Atlântico nas minhas idas para a Europa e vice-versa. Porém, estou marcando viagem para finais de Julho afim de visitar a minha família e amigos em Portugal e tem horas em que fico com receio e resolvo desistir. Não por medo do avião pròpriamente, mas porque não me posso imaginar preso dentro dele. Acontece isso com o elevador depois que passei por todos aqueles problemas de diagnóstico médico errado. Hoje tenho comigo uma espécie de claustrofobia com coisas simplórias. E por tudo isso entendo perfeitamente o que acontece com a pessoa que comecei por referir nesta minha crónica.


Há dias que a esposa marcou e comprou passsagem para Florianópolis para os dois. Uma das habituais visitas à filha, genro e netinha. Tinha momentos em que ele afirmava não querer ir, pois "não se sentia bem dentro de um avião com tudo fechado e com todas aquelas pessoas olhando para ele". Algumas vezes ouvi alguns membros da família tentar acalmá-lo e que não tinha nada com que se preocupar, etc., etc.. Eu não contrariava ninguém, mas entendia perfeitamente tudo o que ele sentia e tentava não me manifestar a respeito.

Hoje, finalmente, chegou o dia da viagem. Ainda de madrugada enviei um sms para a esposa desejando-lhes boa viagem.

Saí para passear com o meu cão e no regresso a casa, já na minha rua, vejo um taxi descendo devagarinho e parar numa das casas. Ainda pensei ser o meu neto que tem muito essa mania de ir e vir da casa dele de taxi como se magnata fosse... Porém, ao abrir da porta, vejo que o meu amigo saíu do carro, mas sem a esposa. Caraco! O que aconteceu? --- Abandonou a aerovave e veio para casa da sogra sózinho!...

Fui inteirar-me sobre tudo o que aconteceu. Soube que a Companhia aérea já tinha ligado avisando da chegada dele. Mas, o porquê de tudo isso? --- Embarcaram os dois no avião, sentaram-se nas respectivas poltronas. Fecharam-se as portas, retirou-se a escada de acesso. Ouviu-se a voz do comandante dando as boas vindas e mandando que todos apertassem os cintos porque íam decolar. E, no mesmo instante, o grito: Parem! Quero saír! --- Todos os demais passageiros olhando estupefactos e sem saber o que estava acontecendo tiveram a oportunidade de escutar: "estão a olhar o quê? vão todos tomar no c..., vão todos para o c....; me tirem desta merda!".

O avião abortou a decolagem, colocaram a escada, abriu-se a porta e o passageiro desceu ignorando os apelos da chorosa esposa. Nada adiantou. Também exigiu que ela seguisse a viagem e que só ele ficaria. A Companhia, a partir desse momento, não o deixou só um só instante. Conseguiu o telefone de contacto e ordenou ao motorista do taxi que deixasse o passageiro naquele endereço que indicara e em nenhum outro. E assim foi. No caos aéreo e dos aeroportos brasileiros, mais uma contribuição...

Uma coisa eu já decidi para quando da minha viagem: voltarei a tomar os meus comprimidos de Rivotril uns dias antes. Se estivesse por aqui algum daqueles navios de cruzeiro que regressam à Europa depois das navegações de cabotagem na América do Sul, iria num deles. Todavia, pensando bem, não deixaria de estar dentro de algo cercado de água por todos os lados e esse é o meu problema também.

Esta semana retomarei os meus exercícios físicos na Academia de Ginástica. Em 4 meses acredito que oxiganarei o meu cérebro e os meus músculos, perderei alguma daquela gordura localizada e, com quase toda a certeza, algumas daquelas belas mulheres que estarão comigo no mesmo avião não deixarão até, quem sabe, de dar uma piscada de olho...






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