Gerónimo foi o último dos Apaches 1829-1909. Sinto uma certa felicidade por ele ainda ter vivido no meu século...
Na sua tribo e por todos os demais índios americanos, era conhecido por Goyahkla que, na língua apache significa "O que boceja". Veio a ser conhecido por Gerónimo e assim passou à posteridade. Foram os mexicanos que passaram a chamá-lo assim depois de um confronto onde ele derrotou diversos soldados armados com facas e armas de fogo e os botou para correr chamando por São Jerônimo.
Gerónimo foi um importante líder indígena da América do Norte, comandando os apaches chiricahua que, durante muitos anos, guerrearam contra a imposição pelos brancos de reservas tribais aos povos indígenas dos Estados Unidos da América. Gerônimo era guerreiro de Cochise e depois se opôs a ele quando dos acordos com os estadunidenses. Tornou-se o mais famoso dos chamados "índios renegados".
Durante 1858 a 1886, Gerônimo atacou tropas mexicanas e estadunidenses, e escapou de diversas capturas. No final da sua carreira guerreira, seu bando contava com apenas 38 homens, mulheres e crianças. Seu bando tinha sido uma das maiores forças de índios renegados, ou seja, aqueles que recusaram os acordos com o Governo Americano.
Em 1886 foi capturado pelas forças norte-americanas, lideradas pelo general George Crook, e foi forçado a assinar um tratado pelo qual o seu povo seria reinstalado na Florida. Passados dois dias Jerónimo fugiu e deu continuidade à luta contra os colonos. Os americanos organizaram uma busca para recapturar o fugitivo, comandada pelo general Nelson Miles, que foi eficaz, porque o prisioneiro em fuga foi preso no México em setembro do mesmo ano.
O seu povo foi instalado primeiro na Florida, depois no Alabama, e por fim em Fort Sill, Oklahoma, onde se vieram a tornar camponeses. O seu líder ter-se-á convertido ao cristianismo, e chegou a participar na tomada de posse do presidente Theodore Roosevelt, em 1905. Gerônimo agia como um líder militar, sem ser chefe da tribo.
Agora que acabei de escrever este pequeno resumo da biografia de Gerónimo, ficou uma ideia sobre o homem que deu nome à recente operação militar norte americana em terras do Pakistão. E qual a razão desse nome para a operação? Em que detalhes podemos fazer uma comparação entre Gerónimo e Bin Laden?
O índio sempre foi um bravo e protagonizou incríveis fugas; o saudita só se assemelha nas fugas. Se foi em atenção ao significado do seu nome "aquele que boceja", aqui talvez as coisas se encaixem mais, pois como Bin Laden já se encontrava naquela casa há muito tempo sem ser molestado e sem entretenimentos (...), é possível que bocejasse frequentemente... "Gerónimo" também é a palavra que os paraquedistas americanos gritam quando saltam de um avião, e os Seals saíram de um helicóptero para chegar ao complexo onde o líder da Al Qaeda estava.
Bom, isso talvez venhamos a saber um dia, como sempre acabamos por saber. Chamar "Geronimo" à operação contra Bin Laden vem na linha de chamar "Cruzada" às invasões do Afeganistão e do Iraque, como em tempos fez George W. Bush: uma gaffe monumental. Contra esta indignaram-se a seu tempo os povos árabes. Contra a nova gaffe protestam agora os índios norte-americanos, nomeadamente em carta aberta do presidente da tribo apache. Houser, actual líder apache,diz em carta que escreveu, "associar o nome de Geronimo a um terrorista internacional é coisa que apenas faz perpetuar os estereótipos sobre os Apaches". E prossegue lembrando a origem desses estereótipos: "No século XIX, Geronimo e o povo Apache Chiricahua eram descritos como selvagens. A descrição era usada como justificação para deportá-los das suas terras e aprisioná-los depois".
Esse povo, os americanos não indios, sempre foi difícil de entender. São "cagadas" atrás umas das outras e nós vamos assistindo. Até quando?
E antes que alguém me aponte falha no título desta crónica querendo dizer que no mar não se enterra nada, posso argumentar que o fundo é de terra; e lembrem-se do título do célebre livro de Dee Brown...
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