Gosto de me sentar num banco de jardim ou de qualquer outra área arborizada e ali ler o jornal do dia, quando o ainda não tenha feito antes de sair de casa, ou algumas páginas de um livro, pois é frequente carregar um comigo. Hábitos que estão caindo em desuso, mas que eu ainda cultivo com grande paixão.
Outros momentos existem em que sou igual à maioria dos que se sentam no banco sem nada para ler e tão sòmente para pensar na vida ou admirar a Natureza. E foi exactamente o que aconteceu na manhã de hoje.
Entre um e outro relance de olhares, sempre surge algo que nos chama a atenção, por mais insignificante que seja; pode ser a movimentação das formigas, o vôo de uma borboleta ou o chilrear dos pássaros.
Pássaros!? --- foram dois que me despertaram a curiosidade. Era um Bem Te Vi (assim chamado devido à sua linguagem onomatopaica) carregando no bico uma minhoca e pipocando o seu voar de modo a sempre pousar na frente de um Chupim que pelo solo se movimentava, oferecendo-lhe a suculenta refeição. Isso causou-me muita admiração, pois o Bem Te Vi é um pássaro pouco sociável entre os demais e chega até a ser sanguinário; já presenciei ataques a outros pássaros só pelo prazer de matar.
Sempre ouvi dizer que esse comportamento, esse acto de amor e carinho, a preocupação com a alimentação de um filhote de espécie diferente, só acontecia com o Tico Tico em relação ao Chupim e nunca imaginei o Bem Te Vi nessa cena e contexto.
Na análise do acontecimento, imediatamente me lembrei do Cuco, pássaro muito parecido com o Chupim em tudo. Mas este, habitante da Europa e Norte da África e aquele do Brasil.
O Chupim alimenta-se nas plantações de arroz e por isso é conhecido também como papa-arroz. Costuma enganar o Tico Tico e, pelo vistos outras espécies.
O Cuco alimenta-se principalmente de insectos e larvas. No entanto, ocasionalmente come também frutos, sementes e mesmo pequenos répteis ou anfíbios.
O Chupim bota os ovos dentro do ninho do Tico-Tico e a fêmea deste chocá-los-á junto com os seus. Os filhotes de Chupim nascem em prazo menor e assumem o controle do ninho, chegando a jogar fora os ovos da proprietária...
Na maioria das vezes as fêmeas de cuco procuram ninhos de outras espécies que já estejam feitos, com ou sem ovos. Se houver ovos, um deles é retirado do ninho da ave hospedeira para a mãe cuco depositar lá o seu.
Em relação às duas espécies, as outras aves alimentam as suas crias. Foi o que eu presenciei hoje.
Não consegui evitar uma comparação com os seres humanos. Não própriamente nessa dança de ninhos e ovos, mas em relação ao comportamento de muitos e os quais poderei chamar de “gigolôs” ou “chulos”, citando os usuais termos daquém e dalém mar, respectivamente.
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