Ao escrever este título, de imediato lembrei-me do antigo filme de 1963, de Alfred Hitchcock, protagonizado por Rod Taylor, Jessica Tandy, Suzane Pleshette e “Tippi” Hedren. Tinha eu 18 anos, gostava desse tipo de filmes e, talvez por isso, guardei todos os detalhes. Porém, como o que resolvi escrever hoje, nada mais tem em comum com o filme, além do título, só essa lembrança basta. Os pássaros são outros; mais bonitos e coloridos e de gorgeios muito mais agradáveis e sedutores.
Moro numa casa singela, que não é de minha propriedade, que tem um grande quintal atrás e um pequeno jardim na frente. Cuido dela como se fôsse minha e, assim, às plantas que aqui existiam agreguei outras mais. Adoro jardins, árvores, pássaros, a Natureza como um todo. Até o lagarto que por aqui aparece já percebeu que eu sou da paz… Doi-me o coração quando penso que tudo poderá ser derrubado no dia que alguém compre este pedaço e eu tenha que sair daqui.
Aliás, todos os dias em Campinas assisto a um desmatamento urbano que cresce na contramão de uma política ambiental que todos parecem defender e que é tónica nos grandes debates mundiais. Já tenho escutado desculpas como a de que a árvore arrancada fazia muita sombra na casa…
De há uns tempos para cá tenho notado que os habitantes e os visitantes deste meu cantinho têm aumentado em número e espécie. Como para essas coisas eu dedico atenção, até porque acabo por afastar pensamentos ruins e preocupações variadas, ontem fiz um exercício de memória e concluí uma contagem de 16 espécies diferentes. Poderão ser até mais. Isso me dá muita alegria, se bem que também me preocupa essa migração do campo para a cidade. Passo a nomeá-las com um pequeno comentário sobre a sua permanência.
A Corruira é o que se está evidenciando mais, pelo facto de ser actualmente o meu despertador matinal. O galo eu não oiço há muito tempo e deduzo que quase ninguém mais crie galinhas na cidade grande; a sua função foi tomada por este pássaro de patas delicadas que tem um canto estridente audível nas madrugadas e anoitecer.
O Pica-pau de cabeça vermelha é visitante esporádico e costuma vir bicar o Ipê amarelo catando bichinhos. Deixa-me deslumbrado, até porque o conhecia mais nos filmes de desenhos animados… É lindo e bem vindo também.
O Sabiá pula de galho em galho na Pitangueira e enconta com o seu trinado majestoso. Se Vivaldi tivesse vivido no Brasil, certamente teria escrito outras notas na alusão aos pássaros na partitura da Primavera da sua obra “As 4 estações”. O que já é maravilhoso seria fantástico.
O Sebinho é o mais irrequieto e arisco de todos. Briga com o Beija-Flôrna disputa do bebedouro que coloquei na Parreira e onde a Rolinha fez o seu ninho; um vai bicar as acerolase as pitangas, enquanto o outro se ocupa com as flores da Reseda, laranjeira e outras plantas.
O Sanhaço também pipoca por todas as árvores e principalmente na mangueira quando esta tem mangas maduras. Costumo ajudar colocando banana e mamão em cima do muro para ele e demais passarada…
O Pardalé um dos residentes e o mais constante na área. Muitos o definem como praga introduzida no Brasil pelos portugueses. Sempre encontro ninhos deles no fôrro do telhado. Ele, as rolinhas, os Pombos e a Pomba-Rôla costumam dividir a ração que coloco para o meu cachorroque não se importa com o bolso do dono…
Nas sinfonias diárias que curto aqui no meu cantinho há miscelãneas e arranjos diversos com todos os intérpretes relacionados e mais o Canário da Terra, o Pintassilgo e o Bem-Te-Vi. Estes últimos parecem cantar mais e comer menos…
O Chupim também cisca por aqui; pega algumas minhocas na terra. A barulhenta Maritacaé da turma dos metais na orquestra e aparece sempre no final da tarde. Acho que é ela que chama a atenção do Carcaráque tem ninho num dos prédios altos da cercania e costuma dar por aqui os seus vôos de reconhecimento. Nesses momentos todos se escondem e impera o silêncio…
Escrevi bastante, talvez tenha sido um pouco prolixo, mas tive o prazer de falar sobre os meus amigos de todos os dias, que me fazem bem ao espírito, que me alegram o coração e com os quais, de muitas formas, tento me comunicar como que a agradecer-lhes por conviverem comigo.
2 comentários:
Ai, Alentejano...que lindo!!
Estava mesmo esperando que escrevestes algo sobre os pássaros, pois sei que gostas muito.
Está lindo este texto!
Escrito com a emoção.E passou emoção.
Como me alegra ver gente que curte estes presentes que a mãe natureza nos dá...é muito bom.
Porque eu tbm curto muito.
Temos que continuar na luta para preservar isto tudo.Claro que perderemos algumas batalhas, mas não devemos desistir.
Ah, e deixa eu te dizer: o lagarto não é lagarto...é uma fêmea...e chama-se CALANGRA.
Adora ir te visitar.
E é evidente que ela sabe que és da paz! O mundo sabe...quem dirá ela!!
Bonito texto sr Alentejano :)
Sinto saudades de ter um quintal assim cheio de vida e é bom saber que dá valor a essas coisas..
Abraço
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