sábado, janeiro 27, 2007
ARQUIVO DO MINISTÉRIO DO ULTRAMAR
Gulbenkian vai recuperar arquivo do Ministério do Ultramar
O extinto Arquivo do Ministério do Ultramar vai ser reconstituído no âmbito de um projecto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, hoje iniciado através de um protocolo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE).
O protocolo foi assinado no Palácio das Necessidades, em Lisboa, pelo presidente da Fundação, Emílio Rui Vilar, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, e pelo coordenador científico do projecto, o historiador José Mattoso.
Na cerimónia, o presidente da Fundação revelou que o projecto para tornar estes documentos acessíveis ao público surgiu depois do professor José Mattos o ter alertado para a necessidade «indispensável e urgente» de tratar o espólio, disperso por vários ministérios desde a extinção do Ministério do Ultramar, em 1974.
«A Gulbenkian tem já uma tradição de recuperação deste património, portanto ficámos conscientes da importância histórica da preservação da memória e da divulgação destes arquivos», salientou Rui Vilar.
O protocolo assinala o arranque do Projecto de Reconstituição Virtual do extinto Arquivo do Ministério do Ultramar, estando previstas colaborações institucionais com outros ministérios que detenham partes desse vasto espólio.
Esta primeira fase abrange os arquivos existentes no Instituto de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) e do Instituto Histórico Diplomático, ambos sob a tutela do MNE, e será financiada com 100 mil euros pela Gulbenkian.
Segundo o professor José Mattoso, trata-se de «uma monstruosa tarefa até agora considerada sem solução» e terá a participação de uma equipa organizada pela empresa BSAFE, composta por oito arquivistas e especialistas de diversas áreas.
«Os arquivos dispersos remontam ao início do século XX e encontram-se em grande desorganização. Em Portugal não se procedeu a uma integração destes arquivos de uma forma regular e esta documentação tornou-se inacessível», lamentou o historiador.
José Mattoso referiu ainda que «há um interesse crescente dos países europeus com ligações a África e dos próprios países africanos, sobretudo as ex-colónias portuguesas, em conhecer e estudar o seu passado».
«Esta é uma tarefa da responsabilidade do Estado, mas devido ao constrangimento financeiro da administração pública não é actualmente uma prioridade, justificando-se a intervenção das entidades privadas», considerou, comentando que este protocolo com a Gulbenkian «formaliza um acordo exemplar».
O ministro Luís Amado elogiou a iniciativa da Fundação, «que teve a generosidade de desenvolver este grande projecto».
«Temos uma história muito rica que é preciso cuidar e a Gulbenkian tem feito um trabalho brilhante neste domínio, na tentativa de preservação dessa memória», sublinhou.
Os responsáveis pelo projecto vão partir de um primeiro diagnóstico já realizado pela Gulbenkian, mas desconhecem quanto tempo irá demorar a recolha e o tratamento da documentação, cuja dimensão real se desconhece, finda a qual será disponibilizada online.
José Mattoso disse à Lusa que os arquivos «vão manter-se património do Estado e será a administração pública que irá decidir quais dos documentos tratados poderão ser consultados pelo público».
«Não é possível quantificá-los. Sabemos que são muitos quilómetros de arquivos diversos que foram sendo acumulados e cujo estado real está também por avaliar», comentou.
Entre os milhares de documentos contam-se comunicações, cartas e outros documentos oficiais da antiga polícia política (PIDE), registos sobre os movimentos independentistas das ex-colónias portuguesas, obras públicas e levantamentos sobre os recursos territoriais.
Diário Digital / Lusa
25-01-2007 13:10:00
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