sexta-feira, agosto 13, 2010

Marechal Spínola

Polémico nas suas ideias e decisões militares e políticas, mereceu a minha simpatia. Não só a Guiné, onde mais directa e temporalmente agiu, mas todas as então colónias portuguesas poderiam, mesmo que independentes hoje, ser países prósperos e pacíficos, algo que está longe de ser uma realidade. Portugal também se poderia estar beneficiando directa e indirectamente.
Independentemente de tudo isso, António Spínola nasceu em Estremoz, como eu.
Decorre hoje o 14º aniversário da sua morte e eu achei que deveria ser lembrado no meu blog com dignidade e respeito.

Vida, Vida!

Skate de dedo



"Skate de dedo", esse é o nome da mais recente brincadeira dos nossos putos (moleques) e, acreditem, de muitos marmanjos também. Cito também anciãos, não na perspectiva de ficarem fazendo manobras radicais com os dedos, palma e costa da mão, pois a muitos o reumatismo e outros "ismos" para tal não os liberam, não obstante a mente compartilhar e transmitir um certo desejo. Eu, talvez um dos poucos casos, já experimentei e não me dei mal de todo; botei figura dentro dos limites e o neto gostou...

Da minha parte existe total interactividade nesta brincadeira pois que, nos dois primeiros quadros de fotos acima, a obra e arte são minhas. Nunca tinha visto uma pista/prancha dessas e imaginei-as pela descrição que o neto me ia fazendo; nem sabia que a coisa estava tão popular na internet e, quando procurei já foi depois que construira a minha terceira obra prima da qual, acreditem, existem modelos que eu diria serem cópias e que não são porque só hoje estou publicando a imagem das minhas...

A terceira imagem que representa um looping, essa sim, é uma foto recolhida da internet e de um site que vende esses artigos manufacturados. Também desconhecia haver já alguém ganhando dinheiro em cima disso... Baixei essa foto para servir de modelo à próxima prancha que terei o prazer de fazer, mas com detalhes pessoais. Desta vez, porém, com madeira nova e escolhida, com um banho caprichado de verniz. Coisa que poderá até embelezar uma sala ou outro cómodo qualquer da casa...

É interessante que eu nunca vi os pais dos meus netos fazerem essas coisas artesanais para os filhos. Mas eu fazia para eles, filhos meus e agora para os filhos deles... O meu pai era um excelente marceneiro/carpinteiro, um daqueles artistas, diria até, qual renascentista... Muitas vezes o vi restaurando peças sacras das igrejas, mesmo que ateu fôsse e confeccionando móveis que, anos depois, ele próprio não acreditava ter sido o autor. Acho que ere um desabafo de humildade... Ele fazia todos os meus brinquedos e que eu me lembre, carrinho de mão, pateira e régua, trotinete (patinnette), carros e caminhões, enfim. Até a régua (menina dos 5 olhos) com que o professor nos dava reguadas era feita por ele...

Do que conheci do meu pai e pelo que outras pessoas contemporâneas dele testemunham, parece que sou dele uma cópia fiel em certos detalhes do comportamento e com aquela veia empreendedora no campo de certas habilidades mas, lògicamente que muito aquém do grande artista e profissional.

No meu quarto de ferramentas não falta quase nada. Digo quase, porque sempre existe uma ferramenta que cobiço mas que nem sempre está ao alcance e que, possívelmente pouco seria usada. Algumas que tenho jamais fôram por mim usadas. Porém, tenho um prazer enorme quando olho para aquele quadro na parede e vejo tudo ali organizado e talvez aguardando, algumas, que eu lhes pegue e as manuseie com carinho e arte.

Mas, porque eu estou escrevendo sobre brinquedos, artesãos e ferramentas? --- Porque tudo está relacionado às postagens anteriores sobre os meus problemas de saúde. Como afirmei, daqui para a frente tentarei ser mais e muito mais activo. Irei buscar tempo até onde não houver. Dormirei muito menos, só o essencial e aproveitarei a vida em todas as suas nuances de felicidade. Passearei com o meu cachorro sempre que ele me pedir, pois ele sabe fazer isso, podarei as árvores, cuidarei do jardim. Entrarei debaixo dos carros para ajustar o cabo de embraiagem ou o que quer que seja e, se a barriga dificultar, macaco e cavalete para suspender, tanto as viaturas como outras coisas pendentes e adormecidas... Darei atenção aos netos daqui e conversarei com os portugueses quando eles quiserem. Passearei com a mulher em volta da quadra ou para algum lugar diferente iremos com mais frequência. Nunca mais gritarei com o meu neto daqui, mesmo que ele me encha muito o saco como tão bem sabe fazer; serei muito condescendente com todos esses detalhes e a minha pressão vai agradecer.

Hoje estou fazendo pistas de skate de dedo. Amanhã farei o que mais fôr inventado ou desenterrado do baú. Restaurarei centenas de tranqueiras velhas e doá-las-ei em perfeito estado para que outras crianças sejam felizes. Imaginarei que um coração que bate naquela criança de 8 ou 10 anos é exactamente igual ao meu que tem 65. Sem diferenças!












terça-feira, agosto 10, 2010

Viva o Amor e a Vida

A minha crónica anterior, subordinada ao título “Extremos” tinha que ser escrita. Hoje tenho vontade de a apagar, excluir, deletar. Mas pensei melhor e concluí que ela faz parte de um todo se bem que também do passado.
Não escrevi nada directamente para a minha família e para alguns dos meus amigos como, por exemplo, um e-mail. Também com ninguém me comuniquei através do Skype  ou do MSN, ou mesmo com alguma mensagem no Orkut, Facebook ou Twitter.
A situação para mim estava muito má. A minha cabeça não estava assimilando o que se passava e, além da doença diagnosticada, chegava a pensar, conscientemente, que poderia ficar louco. Apesar de ser um cara forte e de situações extremas ter enfrentado com coragem e abnegação, como um alentejano enfrenta, cheguei a pensar numa das últimas decisões drásticas. Talvez não tenha chegado a esse ponto por pensar nos meus netos, principalmente, e porque amo a vida.
Agradeço de coração --- que não sei se é um coração grande ou um grande coração ---, aos Amigos que me escreveram e-mails dando o maior apoio e acentuando o que há muito tempo eu já sabia, a existência de uma profunda amizade e transbordante carinho.
Hoje não só alertarei os mesmos de ontem, como todos os que constam das minhas listas de contatos. Todos saberão o que aconteceu e, porque um monte de tags colocarei, muita gente por esse mundo afóra tomará conhecimento do que se passou comigo e, certa e infelizmente, se estará passando sabe-se lá com quantos infelizes mais, muitos destes sem o discernimento ou possibilidades de tomar outro rumo. Mas torcerei muito para que as minhas palavras e a minha revolta, aventadas aos quatro cantos do Mundo, encontrem alguns a elas receptivos.
A minha revolta e a minha denúncia não serão encaminhadas à Imprensa. Não pretendo citar nomes. Serei ético, mas consciente de que algo do que aqui escrevo possa vazar por rumos que não tracei. Aí não será um problema em cima do qual alguém me queira encher o saco.
A noite em que eu consegui dormir um pouco mais, nos últimos quinze dias, foi esta última de domingo para segunda-feira. Tomei aquela bateria de comprimidos normalmente, como até então. Procurei um canto no sofá e tentando vencer os pensamentos negativos, dormi das 0 às 2. Tentei na cama, perto da janela para receber ar fresco da madrugada no rôsto e, assim, dormi das 3 às 5. Como não trabalhava na segunda-feira, procurei a cabeceira da cama e dormi das 5:30 às 7. Mais tarde, no sofá outra vez, dormi das 7 às 8. Depois não consegui dormir mais e sentei-me na área abservando os pássaros nas minhas árvores. Eles estavam felizes, como sempre, e parece que me transmitiam algo que eu não decifrava.
Fiquei relutante em tomar a habitual bateria de comprimidos, pois começava a sentir-me bem sem eles. Mas, como o médico me alertara que se eu parasse certamente não viveria muito mais, às 9 horas tomei-os todos. Meia hora depois começou o meu habitual sofrimento de todos os dias. Enfraquecimento das pernas e braços com  formigação. Quentura no peito, ânsias de vómito, tontura e um sentimento de vazio no cérebro.
Desta vez decidi que iria ter uma segunda opinião de um cardiologista. Tinha que ser no dia e pagaria o quanto custasse. Entre alguns nomes fiquei voando sem saber a qual me dirigir e nem todos estavam disponíveis. Uma das minhas cunhadas sugeriu-me o dela que, além de ser professor numa renomada Universidade, era seu médico há muitos anos. Isso concorreu para a escolha e lá estava eu às 16 horas.
Uma clínica que transmite boa impressão a quem chega, não só pela organização, como também pela contestação de uma enorme equipe de cardiologistas.
Levei junto comigo as três recentes radiografias do tórax e uma específica do coração, bem como os últimos exames clínicos, mapa da pressão e relatório pessoal do meu estado de saúde, consultas e terapias. O médico apreciou essa minha organização e tudo foi útil.
Foi uma entrevista morosa e ali não ficou esquecido um único detalhe; até alguma coisa que eu jamais imaginaria me ser perguntada o foi. Percebi que tudo concorreria para um perfeito diagnóstico quando associado aos exames ali feitos na hora e os que ficaram programados para estes dias.
Finalmente o médico mandou-me deitar numa maca para fazer um último exame e, antes que eu subisse, disse-me: “o seu coração não está grande; ele é um coração normal!” --- E onde é que eu ouvi dizer que homem que é homem não chora? E foi o que aconteceu. Embargou-se-me a voz e as lágrimas corriam que nem cataratas pelo meu rôsto. Voltaram a correr agora que escrevo estas palavras, mas isso não me inibe e me dá forças.
Eu não tenho excesso de líquidos no corpo. Eu tenho gordura localizada porque sempre fui bom de garfo e colher, gosto de dormir a sesta e pouco ando a pé por aí… A falta de ar que originalmente me levou ao médico do hospital e posteriormente ao primeiro cardiologista, deve-se à pressão do abdómen sobre os pulmões.
Três exames mais terei que fazer e já estão programados. Todos serão particulares e, portanto pagos. Farei um plano de saúde depois; é necessário, pois não se sabe o dia de amanhã…
Anteriormente escrevi uma outra crónica em que abordava essa discrepância de laudos médicos e dei-lhe o título muito sugestivo de “Filhos da Puta”. Na época não achara outro mais ajustável e até hoje acho que está bom.
O título para a crónica de hoje ainda não emergiu. Mas vejamos e pensemos sobre isto. O primeiro médico (clínico geral) que me avaliou na primeira vez que fui no hospital, pelo Sistema Único de Saúde, achou que todos os exames clínicos estavam bons. Perante o raio X do tórax exclamou que os pulmões e o coração estavam bonitos. Sim, foi essa a expressão usada. Levei todo o material ao meu médico do Posto de Saúde com o qual tenho consulta a cada 4 meses. Também clínico geral, teve a mesma opinião sobre todos os exames.
Numa segunda ida ao hospital, nas emergências, por causa dessa fatídica falta de ar nocturna durante o sono, voltei a fazer a mesma bateria de exames e só com a diferença de, além de chapa do tórax, também uma específica do coração. Tudo normal outra vez! Só que fui aconselhado a procurar um cardiologista, pois ali não me encaminhavam e isso seria com o meu médico do Posto.
Como a consulta no Posto só poderia ser marcada para Setembro, fiquei com a cabeça às voltas. Tendo alguém me indicado uma clínica popular com preços módicos e bons profissionais, marquei uma consulta com o cardiologista e dois dias depois lá estava eu. Mostrei todos os exames (sempre os carrego comigo) e, quando ele olhou as chapas, exclamou: “o coração está enorme e já sei o que você tem!”. O resto eu já comentei anteriormente.
Neste última sábado que entrei nas Urgências do hospital, situação que também já relatei anteriormente, lembro que o médico, neuro-cirurgião, apontou-me na chapa de raio X o pedaço enorme da dilatação do coração. Eu nem imaginava que o coração estivesse tão cá em baixo… Depois foi o que também já relatei.
Agora eu pergunto: um médico cardiologista e um outro neuro-cirurgião nunca terão visto um coração quando estudaram? Nunca aprenderam a interpretar as imagens radiológicas? Será que o cardiologista obtém algumas vantagens quando receita, a êsmo, medicamentos caríssimos? --- O que está acontecendo com os nossos médicos e com o nosso sistema de saúde?
Joguei no lixo todos os comprimidos que tomei durante quase um mês. Foi essa a ordem do Professor Doutor. Certamente levará algum tempo para limpar todo o mal que me ocasionaram, mas senti que hoje passei um dia maravilhoso sem eles. Estou até relutante em tomar o segundo faixa preta do total de 20 que ontem me foram receitados para organizar o meu conturbado sono; na última noite dormi maravilhosamente. Não o tomarei, a não ser que sinta falta dele.
Hoje tomei a água que me tinha sido proibida; tomei uma garrafa de vinho alentejano junto com um sashimi que fiz na feira. Fiz de madeira uma rampa de skate para o meu neto. Amanhã passearei com o meu cachorro, pois não mais estou proibido de o fazer. Do mesmo modo passearei em volta da quadra com a minha mulher e colocaremos em dia o papo que há muito estava em stand by. Ela foi uma grande companheira nestes últimos dias de grande sofrimento.
Viva o Amor e a Vida!

domingo, agosto 08, 2010

Extremos

Um dia, do qual muito bem me lembro, incitado por alguns dos mais velhos dos meus amigos, fumei o meu primeiro cigarro, ou tentei fumá-lo, pois a primeira vez é sempre dramática e a tentativa acaba naquela típica bebedeira tabagista. A marca do cigarro, sem filtro, era Sporting.
Naquele ano tinham sido lançadas no mercado português 3 marcas homenageando clubes --- “Benfica”, “Sporting” e “Porto”. Coloquei aqui pela ordem decrescente com relação a campeão na época…
Como o “Sporting” não tinha filtro, era por isso o mais barato e, consequentemente, o obtido pelo grupo de gaiatos. Eu tinha 9 anos e a maioria andava por aí. Uns dois ou três teríam mais 2 ou 3 anos e, claro, os incentivadores…
Fumei várias marcas como “Definitivos”, “Avis”, “Paris”, “Português Suave”, “Vic”, “Gouloise” e “SG”, este último com filtro. O “Gouloise” era de rebentar os queixos, fortíssimo e francês. O “Paris” também era forte entre os portugueses. Eu preferi, não sei porquê e durante muito tempo, os tabacos fortes. No Brasil comecei com o “Continental” sem filtro, passei para o com filtro e terminei com o “Hollywood” com filtro.
O cigarro é ruim! Sim, ele faz mais mal do que bem ou talvez mesmo ele só faça mal. Mas, quantos e quantos momentos de agitação, de contemplação, meditação, desilusão, decepção e noutras situações ele foi o grande companheiro!? --- Mas minha mãe sempre me alertava para os malefícios. Até mesmo já depois de velho, quando pelo telefone com ela converso. Na semana passada, pelo seu aniversário, comuniquei-lhe que, finalmente, tinha tomado essa difícil decisão de parar de fumar e consegui.
Decidi que jamais colocaria um cigarro nos lábios naquele dia que passeava com o meu cachorro e me comecei a sentir mal. Notei que a pressão baixara e quase desmaiei; vi bolinhas de sabão zuando na minha frente… Isso me abriu os olhos para ir no médico e foi constatado o problema de agravamento da hipertensão. Agravamento, porque nestas andanças nos serviços de saúde do Estado, o cidadão que não tem posses para pagar um plano de saúde particular, sempre se dá mal… Também não é hora de abordar temas da política e, assim, passo à frente.
Muito tempo passado até que consultei com um cardiologista. A primeira vez na vida que procurei um especialista em algo. O diagnóstico não foi bom, pois eu tinha I.C.C. --- Insuficiência Cardíaca Congestiva, traduzido como coração dilatado e incapaz de bombear normalmente. E se eu já tinha dificuldades de dormir, isso para mim passou a ser um tormento, tanto pela reação aos medicamentos que passei a tomar, como ao estado psicológico que se estabeleceu. Fôram dias terríveis agrupando uma série de questões a apresentar no dia do retorno, ante-ontem.
Finalmente retornei. Fui avaliado e tive todas as perguntas respondidas. Até a que fiz sobre quanto tempo eu iria tomar aquele grupo de 4 comprimidos, cuja resposta, bombástica, foi que “para a vida inteira!”. Saí arrasado daquele consultório e pensando numa segunda opinião com outro profissional. Acho que todos pensam assim.
Passei mais uma noite em branco e me senti mal durante todo o dia de ontem. Resolvi que me levassem nas urgências do principal hospital da cidade. Os primeiros cuidados fôram prestados, novos exames fôram feitos. Depois fui parar no gabinête de um clínico de plantão que tudo avaliou.
Este médico, calmamente e com muita firmeza me explicou todo o quadro e, entre outras coisas referiu que 56 anos de cigarro detonaram o meu coração e ele só está batendo por causa dos comprimidos que eu estou tomando e isso porque ainda procurei um cardiologista a tempo. Resumiu que eu estou no bico do corvo e devo-me cuidar enquanto der.
A partir desse momento comecei a sentir-me mal, muito mal. O médico percebeu, mediu a pressão e aquela de 16 x 8 da entrada, estava agora em 7 x 4. Fui para as emergência e conseguiram que eu não apagasse definitivamente.
É assim. Numa crónica diferente que não sei por quem e por quantos será lida, abordei o que se passou entre dois extremos e a todos os fumantes sugiro que parem de fumar enquanto é tempo.