sábado, dezembro 31, 2011

Dicas Windows XP


Quando se tenta trabalhar com fotos no Windows XP, no menu "Modos de exibição" o item "Miniaturas" não funciona.
Tenho visto na internet muitas perguntas sobre solucão desse problema e constatei haver muita dificuldade em responder ou que as respostas não satisfazem, por motivos variados.
Tenho a dica para solução desse problema, pois também sofri muito com ele: vá em "Iniciar" -- "Executar" e digite............................................................... regsvr32% windir%\system\shimgvw.dll depois clique em ok e pronto. Problema resolvido. Repare que entre o 32% e windir tem um espaço...

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Velho Artesão

Tinha prometido a mim próprio que iria contar esta vivência no blog e cá estou eu, apesar de quase 3 meses já se terem passado sobre o acontecimento.

Outubro passado, logo nos primeiros dias de estadia em Évora, fui buscar um dos meus netos na Escola de São Mamede. Velha conhecida esta escola pois que, além de eu ter endereço naquela Freguesia (quando em Portugal), um dos filhos brasileiros também estudou lá.

Parece meio confusa esta colocação, não é? Sim, para os que não me conhecem ou pouco sabem a meu respeito, eu sou um cidadão do Mundo e por muitos lugares já assentei arraial com uma ou outra família. Realmente uma verdadeira confusão...

Voltemos ao âmago da questão para eu falar do Sr. Isidro. Velho artesão de 96 anos de idade que tem uma aparência muito semelhante à minha de 66... Parabéns para ele!

A Rua da Mouraria desemboca no Largo de São Mamede e por ela eu ía caminhando desde o seu começo na Rua de Avis. Quase no final, pegado onde outrora morou o falecido grande amigo Gabriel (Lambuça) notei haver ali um grande portão, aberto, e lá dentro um senhor idoso rodeado de inúmeros trabalhos artesanais que ele próprio confecciona. E o que mais me chamou a atenção fôram as esculturas em cortiça pois que, modéstia à parte, era coisa que eu fazia muito bem nas aulas de trabalhos manuais do curso secundário que eu fiz em Évora. Era meu parceiro na confecção  dessas esculturas o Sardinha colega que eu não vejo desde antanho e tão pouco sei se  vivo será.

Lògicamente que não lhe contei sobre a minha veia artística neste campo, pois conheço muito bem o interior dos alentejanos, principalmente no que diz respeio à sua sensibilidade. Mas outros tipos de trabalho eu verifiquei que aquele artista fazia bem: latoaria com peças perfeitas e funcionais e pintura. Ali eu vi alguns esboços e um retrato do grande toureiro português que foi Manuel dos Santos. Versatilidade!
 
Mostrou-se muito interessado em me falar sobre o seu trabalho da multidão de turistas que pela sua oficina passa. E eu ía fazendo as minhas perguntas, mais até para que ele mantivesse toda a disponibilidade. E às tantas, apontando para duas fiadas de garrafas perguntou-me se eu sabia do que se tratava. Parece que quase todos erravam na resposta quando indagados como eu. Mas o meu olho de lince viu que a primeira garrafa tinha uma pequena etiqueta com as letras "do" o que ràpidamente me levou a deduzir e afirmar que se tratava de uma escala musical e, portanto um tipo de instrumento. Na môsca!

Acertei e o senhor Isidro ficou feliz por isso. Foi quando ele pegou em duas batutas e começou a tocar Aquarela do Brasil. Eu não queria acreditar no que estava vendo e ouvindo e vocês podem ter a certeza que foi isso mesmo.


sábado, dezembro 24, 2011

Volta ao Brasil

Dois meses e uma semana passados em Portugal. Eram para ser sómente dois meses, não fôra aquela ameaça de greve dos pilotos da TAP que me obrigou a ficar mais um tempo. Por sorte que o dinheiro chegou. E se não chegasse, eles também não me indemnizaríam certamente, pois há que atender as directrizes da troika, do FMI, enfim. É sempre pau no cú do pobre, como sempre foi e sempre será.
Foram dias maravilhosos que por lá passei e isso em todos os imaginários aspectos. Encontrei e convivi com muitos dos meus velhos amigos, conheci outros, reafirmei amizade com algns internautas. Lamentei muito não ter podido conhecer mais, mas fica para a próxima oportunidade.
O mais importante, porém, foi o convívio com a família. Afinal, lá na terrinha eu também tenho família...
Todos os dias que estive em Évora passava algumas horas ao lado de minha mãe. Convivi muito com os meus 3 filhos e com os meus 4 netos. E, muito importante para assinalar, retomei uma amizade muito especial com a minha ex mulher, pois concluímos não ser interessante alimentar velhas richas, mal entendidos e teimosias. Ela era o fulcro de toda essa convivência familiar, não só porque está em contacto permanente com os nossos filhos, mas porque também cuida da minha velhota.
Inesquecíveis serão sempre os momentos gastronómicos. Portugal tem a melhor gastronomia do Mundo e todos precisam saber disso. Eu serei sempre incansável nessa propagação.
Por incrível que pareça, almoçando todos os dias como um verdadeiro monarca, ainda emagreci 10 kilos. Isso só se explica pela nobreza dos pratos e excelência dos vinhos...
Hoje já se passou uma semana que regressei ao Brasil. Aos poucos fui-me ambientando, pois as mudanças são bruscas e muito acentuadas...
As minhas plantas e árvores, com que muito convivo e dialógo nos momentos em que me afasto um pouco das pessoas, estavam lindas. Principalmente as roseiras e a aceroleira, esta já carregada de frutos vermelhinhos, saborosos e nutritivos. A mangueira coquinho também carregada de mangas. Os netos brincando na rua e muita molecada soltando pipa. São visões que nos dão muito ânimo e nos convencem de que os tempos ainda são muito bons, como os de antigamente. É triste verificar que na Europa não se vêm mais essas coisas, talvez porque por lá pensem que são mais evoluídos... Mas hoje eu não estou aqui para dizer mal de quem quer que seja. Quero simplesmente dar notícias aos meus amigos dos dois lados da poça grande e apontar semelhanças e diferenças do meu quotidiano e da vivência nos dois países.
No Bar do Gaúcho as coisas continúam como dantes e, para a readaptação ser triunfal, hoje teve churrasco e leitão assado. Muita fartura, grátis, regada com muitas loirinhas de vários tipos e tamanhos. Aqui, aquele delicioso vinho alentejano não tem lugar... Também, com quase 40 graus ao cair da tarde, só temos que tomar banho de cerveja...
Logo pela manhã fui avisado de que haveria uma churrasco ao cair da tarde e, como sempre gentileza da casa. Só se pagam as bebidas.
A hora prevista lá me fui aproximando e já de longe se via um grupo com as cadeiras na calçada, informalidade que por aqui muito se vê e que não adianta proibir em certos lugares, principalmente nos bairros fóra da área central. Não que aqui seja a voz do povo quem mais ordena (...), mas a sua alegria está acima de todas as coisas. Até um pouquinho da rua invadimos e a própria polícia chega a dar adeusinho nas suas esporádicas passagens. E estes só não param para tomar uma cervejinha porque daria muito nas vistas...
Belíssimas e escolhidas peças de carne o Gaúcho exibe na preparação do churrasco e só de olhar escorrega mais uma loirinha pela goela abaixo...
E, como sempre, tudo muito gostoso; desde aquele maravilhoso vinagrete até ao próprio pãozinho francês. 
Quando já todos pensávamos que a festança iria parar por ali e que pouca prosa correria mais, eis que chega um belíssimo leitão assado! Haja estômago e vontade de comer e beber para enfardar tudo e mais alguma coisa. Mas é assim mesmo aqui no meu Brasil, do mesmo modo que é no meu Portugal. Quando toca a comer e beber, as coisas são muito semelhantes. A alegria transborda, as brincadeiras entre os amigos são idênticas. Talvez aqui no Brasil haja uma maior descontracção e mais irreverência que, por sinal, alguns portugueses que eu bem conheço não gostam e mostram uma certa relutância (alô Coimbra!...).
Como tudo o que é bom tem o seu término mais rápido, este encontro de amigos foi-se esvaiando e eu tive ainda que sair dali mais cêdo porque amanhã a véspera de Natal vai ser muito movimentada e, por isso, deverá ser um árduo dia de trabalho a que eu já andava um pouco desacostumado...
Ainda dediquei um tempo a escrever estas linhas para desenferrujar o blog e me comunicar um pouco mais, algo que hoje esteve muito complicado, principalmente no download das fotos que teimava em não ter sucesso...
Aproveito para desejar um Feliz Natal a todos os que por aqui passam e me dão o prazer dos seus comentários ou, quanto mais não seja, dessa companhia virtual.
Tenho feito muitos amigos neste e outros espaços cibernéticos, tendo muitas dessas amizades virtuais se tornado reais. Espero que o próximo ano seja pródigo nesse aspecto.

sexta-feira, novembro 25, 2011

Meu Coração é Vermelho

O último jogo de futebol a que assisti pessoalmente aqui em Portugal foi um Benfica x Milan e ainda no antigo e famosíssimo Estádio da Luz. Isto há dez anos atrás, quando da minha última viagem ao meu país.
Ontem um grande amigo benfiquista veio buscar-me na casa de minha filha, em Sintra. A ideia principal era ir-mos almoçar juntos mas... como estávamos muito perto, fui levado a conhecer a nova "Catedral" e,  como todos os benfiquistas fazem, visitar o "primo" e junto a ele tirar a tradicional foto.

Pode parecer uma babaquice, algo um tanto ou quanto brega, mas a realidade é que essa avaliação é sempre feita por alguém que está do lado de lá, mas um acto de grande sentimentalidade por parte de quem o pratica. E não ficarei por aí, pois também penso ser fotografado ao lado do outro grande "companheiro", o Fernando Pessoa lá no Chiado tomando um cafézinho na "A Brasileira"...
Uma coisa é verdadeira: aqui em Portugal, como no Brasil, o meu coração é vermelho!

domingo, novembro 20, 2011

Coimbra Tem Mais Encantos

Nas minhas andanças pelo meu Portugal, noto que muita coisa está a mudar. Até nesta minha maneira de escrever quando não uso o gerúndio como até então... A grande mudança, no entanto, está na área desportiva, mais exactamente na futebolística.
Nesta última quinta-feira, já tinha passado a primeira noite em Coimbra, estava muito doente com grave problema estomacal e foi inevitável a minha ida às urgências do Hospital Universitário. Nos momentos em que decorriam os trâmites de inscrição, notei que estava ali na parede o emblema da Associação Académica de Coimbra. Há quanto tempo eu não via aquele emblema, ou mesmo me debruçava a pensar no time!? Comecei a lembrar-me do quanto a Académica foi um time importante nos tempos da minha infância e juventude, ao lado de outros que já não existem, como Lusitano, CUF, enfim. Veio ao de cima aquele carinho que sempre nutri e comecei a lembrar-me de detalhes de antanho como os nomes de Wilson e Rocha, este último certamente o mais célebre doutor-jogador de todos os tempos.
Ciente que a Académica iria jogar com o Porto (ontem), e sabedor depois que a Académica não ganhava do dragão há 41 anos, só faltou rezar, porque rezar eu não sei. Até aceitei a possibilidade de um milagre, apesar de neles também não acreditar. Afinal, ali a Rainha Santa operara o célebre milagre das rosas frente a seu esposo El Rei D. Dinis. Talvez um outro regaço viesse a oferecer algo parecido...
E não é que milagres acontecem?! Pois ontem, a Académica de Coimbra venceu o Porto por 3 a zero. Goleada! Derrube de tabú! Mais uma lavagem de alma para o meu Benfica do coração e a contestação de que muita coisa está mudando na área dos tripeiros, o que já não era sem tempo.
Hoje acordei cantando fados de Coimbra, com a minha saúde restabelecida e o espírito jovial e alegre...

sábado, novembro 05, 2011

Carraspana

Em Portugal todos sabem o que é carraspana, o título da minha crónica de hoje. No Brasil não se usa esse termo mas alguns outros que significam a mesma coisa. Aliás, também em Portugal existem  muitos mais.
Quando cheguei a Évora naquele dia 13 de Outubro, as primeiras pessoas a visitar foram, lògicamente, os familiares e de pronto tratei de arrumar a minha hospedagem na casa de minha mãe. No dia seguinte parti para uma pequena digressão pelos recantos da cidade em busca dos amigos. Eu já estava preparado para algumas surpresas, mas não para tantas, pois muitos deles já partiram para outra dimensão. Lamentei as perdas e fui encontrando os ainda vivos.
Nessa tarde de quinta-feira, conversando com o amigo Manata, velho companheiro de caçadas e pescarias, fui convidado para um almoço de lebres assadas na casa de um outro amigo comum na segunda-feira seguinte.
Chegado o dia, como não era muito longe --- uns 6 km apenas, fui andando a caminho da casa do casal Dulce e Prezado. E foi agradável a caminhada, pois passei por locais em que não passava há muitos anos. Como a velha Fábrica dos Leões, outrora uma grande potência no ramo das massas alimentícias e onde mamãe trabalhou por muitos anos com grande sacrifício. Hoje, ali, é uma dependência da Universidade de Évora.
Cheguei ao destino e pela fresta do portão vi o meu amigo com a arma na mão tentando afugentar aqueles pardais que não caíssem com os chumbinhos da pressão; era a veia de caçador em acção...
Fui o primeiro a chegar e o anfitrião tão pouco sabia que eu tinha sido convidado... Mas essas coisas não têm a mínima importância no nosso tipo de relacionamento entre amigos. As lebres estavam a assar. Os demais foram chegando e foram-me apresentados os que não conhecia.
Enquanto as lebres assavam, saboreámos umas deliciosas ameijoas. O vinho, um maravilhoso tinto alentejano, foi correndo goela abaixo de cada um dos presentes e esgotava-se uma garrafa atrás da outra.
Finalmente chegaram as lebres á mesa. O aroma maravilhoso e o sabor divino. Coisa da Deusa romana da caça, a nossa muito conhecida Diana que tem na cidade um grande templo em sua homenagem... Sei que há muitos anos eu não tinha tão grande prazer à mesa, pois caça sòmente aqui.
Comidas as lebres muito bem regadas, tomámos uma maravilhosa aguardente de medronhos que veio directamente do Algarve para nós. Não imaginam a octanagem daquela bebida caseira... E o pessoal não se contentou em saborear um gole e sim o cálice cheio a ser emborcado.
Não satisfeitos, arrematámos com um tradicional Licor Beirão e a desgraça foi assim configurada com dois "estrangeiros" na mesa alentejana --- um algarvio e outro beirão.
Eu vi que os companheiros foram-se retirando aos poucos e quando dei por mim, estava só com os anfitriões. Vim embora também e do mesmo modo que fui regressei. Do mesmo modo? Não! Tudo me pareceu estar fora do lugar naquela noite estrelada. Até mesmo as estrelas me confundiam, se é que eu tinha naquele momento capacidade para distinguir o mapeamento celeste dos dois hemisférios...
Reconheci que estava muito mal e reconheço que há muitos, muitos anos eu não apanhava uma carraspana daquele calibre. Achando-me perdido e incapacitado, ainda tive o descernimento de apertar a tecla no telemóvel para pedir à mãe dos meus filhos (ex esposa) que mandasse um taxi para me pegar. Era a única tábua de salvação. Mas do outro lado ouvi: "Jamais aturei bebedeiras na minha vida e não será hoje que irei aturar!". Interpretei isso como uma incompreensão e falta de solidariedade, achando mesmo que foi desrespeitado um certo Código de Ética que costuma estar afixado nas paredes dos bares.

quinta-feira, novembro 03, 2011

Crise Portuguesa

Crise? --- Tá bem, ò parente!
Estou aqui na terrinha há quase um mês e, adicionando no prato da balança os conhecimentos teóricos da informação que trouxe com o que tenho vivido no local, o fiel indica para a ignorância, estupidez, erros macro e micro económicos, comodismo e uma enchente de adjectivos mais. Este é um país que poderia ter uma situação análoga à Suissa, Luxemburgo e outros pequenos que sempre estão na crista da onda quanto a estabilidade e níveis de cultura e vida dos seus cidadãos.
Tenho necessidade premente de uso de um carro para as minhas deslocações a outros pontos do país, pois é mais viável que estar dependendo de autocarros ou comboios com tudo o que os horários atrapalham no desajuste e as hospedagens que poderão ser evitadas. Assim, tentei alugar um carro pela internet e achei o mais barato oferecido por 130 Euros por 13 dias na Eurocar. Isso daria 10 paus por dia. Tentei fechar a reserva antecipada, mas não obtive êxito porque o meu cartão é de débito e só aceitam de crédito...
No dia seguinte dirigi-me à loja de rent a car referida, na agência local de Évora. Aí recebi o primeiro baque ao ser informado que na internet o aluguer custaria os referidos 130 Euros, e que o preço passaria para 450. Porra! É mais que o triplo. Uma justificativa para isso a funcionária não me soube dar. E foi confirmado que, mesmo que eu aceitasse pelo novo preço fóra da internet, só com cartão de crédito. E nem com dinheiro vivo e caução extra... Não houve negócio e eu continuei a pé.
Há duas semanas atrás, ao passear pelo Rossio de Estremoz, notei que um grupo grande de turistas se dirigiu a uma daquelas tendas que vendem artesanato, principalmente artigos de barro. Não tinha ninguém para atendê-los, mesmo eles tendo rodeado o local e ali terem gasto 2 ou 3 minutos. Retiraram-se! Depois é que a proprietária do local abriu a porta do carro, onde estava refastelada num banco, saíu para fóra, bocejou, se espreguiçou e voltou a dormir a sesta.
Hoje voltei ao Mercado de Évora e lá fui comprar umas frutas. Claro que não me dirigi àquele box onde na passada semana fui mal tratado, caso que relatei aqui numa crónica.
Estes são pequenos exemplos de coisas que estão erradas por aqui e que certamente se verificam por todo o país. Imagine-se o estrago que é, junto com o que os sucessivos governos pós 25 de Abril por aqui plantaram.

sábado, outubro 29, 2011

Eu e a Loira

O Mercado Municipal de Évora, nas suas instalações originais, era um belo e funcional lugar. Principalmente aos Sábados. Ali me desloquei muitas e muitas vezes, se não para comprar algo, pelo menos para passear, observar e tomar um copo num dos tradicionais bares internos. Sempre achei muito interessante, principalmente a área das bancas de venda de peixe.
Quando da minha última estada em Évora, há dez anos atrás, todo aquele espaço estava a passar por grandes transformações e reformas. Lembro-me, até mesmo, de se terem encontrado inúmeras ossadas em toda a cercania, o que me parece ter sido uma continuidade do antigo cemitério franciscano que deu origem à mundialmente famosa Capela dos Ossos, anexa à Igreja de São Francisco.
Hoje voltei àquele local, mas mais embuído de curiosidade e a tentar fazer uma comparação dos produtos ali à venda com os do mesmo género que se comercializam nas feiras e mercados do Brasil. Afinal, eu trabalho no ramo...
Houve grandes mudanças arquitetónicas e de lay out, se bem que se tenha mantido a sua estrutura básica original nas paredes externas e cobertura. Mas perdeu-se muito espaço útil e perdeu-se principalmente aquela comunhão de freguês com comerciante.
Ao adentrar a parte coberta, comecei pelos boxes de frutas. Parei ali em frente dos de número 2 e 4 que são acopolados. A numeração é par de um lado e ímpar do outro. Comecei a comparar as frutas dali com as que vendemos nas feiras no Brasil e fiquei impressionado com a gritante diferença de qualidade e apresentação. As do Brasil são infinitamente melhores e eu, como filho aqui da terrinha portuguesa, tenho que dar a mão à palmatória...
Enquanto eu estava nas minhas observações e conjecturas, percebi que a vendedora, uma loira espampanante, dirigia-se à vendedora da banca ao lado com a frase "Eh pá! paraste de comer?". Duas vezes fez a pergunta e eu, pelo canto do olho, percebi que a coisa era a meu respeito. A outra, percebendo que eu tinha captado a mensagem, ficou um pouco encabulada e nada respondeu. É lógico que eu entendi, pois ùltimamente tenho-me relacionado muito com os amigos alentejanos e comecei a relembrar muitos dos ditos e frases típicas no seu jeito cantado. Ela simplesmente estava gozando com o meu barrigão. Deve ter percebido que eu ainda sou aquele cara gostosão, mas barrigudo...
Claro que eu não iria dizer nada. Tranquilamente me afastei e fui visitar outros pontos, principalmente as bancas de venda de peixe noutro pavilhão. Lògicamente que dali já fui articulando tudo para poder vir a escrevar algo relacionado com o acontecimento. Tudo eu ando a aproveitar para matéria do meu blog e, a par deste assunto de agora, já tenho um punhado de outros para desenvolver. São a continuação das minhas impressões de viagem.
Todas as matérias que aqui posto têm uma ilustração condigna e, por isso, eu teria que fotografar aquela banca de fruta... E lá voltei eu com a minha máquina fotográfica em punho. Fui fazendo algumas fotos antes de lá chegar perto e, quando me preparava para tirar a derradeira foto, a loira me interpelou dizendo: "o senhor não pode tirar fotografias aqui!" O meu esperneio foi imediato e contestei. Respondi que talvez não pudesse tirar foto das pessoas sem autorização das mesmas, mas mesmo isso dependia do quanto o cenário fôsse ou não público, etc., etc., mas o local eu poderia fotografar com toda certeza. A certa altura da discussão alertei-a que eu tinha entendido o que ela estava querendo dizer à vizinha quando eu ali parara pela primeira vez e, como ela não esperava isso, só faltou vomitar fogo... Como a coisa começou a descambar para a baixaria, eu me afastei. Ainda pensei em fazer uma reclamação oficial, mas desisti.
Por portas e travessas eu até descobri  o nome da loira  e consegui informações sobre o proprietário antigo e o actual. E, mais importante, que a mãe dos meus filhos daqui é freguesa daquela banca...
Na linguagem castiça alentejana e se se tratasse de homem, o desabafo soaria, mesmo no plural, mais ou menos assim: "são uns cabrões"...

quinta-feira, outubro 27, 2011

Encontros e Reencontros

No pretérito dia 22, sábado, comemomorava-se em Estremoz os 151 anos da fundação da SAE --- Sociedade de Artistas Estremocense. Sinceramente, causa-me um certo embaraço o nome da Instituição, ou mais exactamente a discordância do nome em si. Acho que deveria ser Sociedade Estremocense de Artistas ou Sociedade de Artistas Estremocenses, algo mais arreigado ao bairrismo da urbe. Mas são 151 anos e por ali já passaram pessoas mais evoluídas e letradas que eu e isso não me dá oportunidade a discussão desse tipo.
Criticas à parte, até porque não é minha intenção criticar nada e ninguém, atenho-me ao motivo que me trouxe a escrever estas linhas de hoje.
Conheço a Sociedade desde que nasci, claro, mas jamais lá tinha entrado; até mesmo durante os anos rebeldes da infância e durante os quais se entrava em qualquer lugar sem convite... Ali, no Lago do Gadanha, eu remei muito nos barcos de recreio que todos os Verões lá eram colocados. Nunca nadei nas suas águas porque nadar eu não sabia. Hoje nem navegação nem natação ali há mais e só lá permanece Neptuno com a sua gadanha impávido e sereno no centro do Lago rodeado de repuxos. Cartão postal da cidade, é deveras um lugar bonito. Ali brinquei muito na infância e ali também passava todos os dias a caminho e na volta da Escola do Caldeiro onde completei o ensino primário na década de 50.
Acabei por me desviar da Sociedade que fica bem ali ao lado do Lago do Gadanha, mas à mesma estou voltando. No passado sábado, como referi, teve uma cerimónia com comes e bebes a comemorar o aniversário. O meu cunhado é sócio antigo e convidou-me a acompanhá-lo a ele e minha irmã, depois que solicitou autorização à directoria.
Salão grande longitunalmente e em toda a sua extensão uma enorme mesa farta de acepipes, vinhos e aguardentes. Também havia água para uma minoria... Lembro-me que ali eu comi ameijoas com carne de porco, bacalhau espiritual, croquetes, bolinhos, queijinhos, presunto, etc., etc... O vinho sempre alentejano da própria terra...
Naturalmente que, mesmo estando fóra das minhas águas, sentia-me como peixe... Não reconheci ninguém do meu tempo, até porque as fisionomias não são as mesmas e a falta de contacto supera os 50 anos, mas isso não me inibiu.
Às tantas ouvi no meu redor dois rapazes comentarem entre si se eu não seria "aquele senhor do blog"!? --- Claro que não poderia resistir a isso e de imediato aquiesci apresentando-me formalmente. Eram amigos da internet, das páginas sociais. Joaquim Mira e um seu amigo que, sendo amigo do meu amigo, meu amigo é...
Às tantas a minha irmã alertou-me sobre a presença de dois amigos da infância: o Ludgero e o Rato. A eles me dirigi e assim vi aumentado o meu círculo de amigos no recinto.
Não demorou muito e eu já estava conversando com o Sr. Presidente da Câmara Muniipal de Estremoz. Senti que à sua volta o grupo que o acompanhava, vereadores e outros, nutriam uma certa curiosidade sobre quem eu seria. Dirigi-me à rodinha e, estendendo a mão ao Presidente, apresentei-me e cumprimentei, na sua pessoa, todos os meus conterrâneos. Acho que, não sendo eu político e a tal não ter pretensões, saí-me bem... Senti-me ali ainda mais entrosado na festa e acho que deixei de ser um desconhecido.
Foi uma noite muito especial para mim e eu jamais esperaria ter um momento desses na minha terra. Será uma eterna e grata lembrança.

quinta-feira, outubro 20, 2011

49 Degraus

Propuz-me a escrever a crónica de hoje em que uma escada muito íngreme, com os seus 49 degraus, faz parte do tema. Na verdade, a escada pròpriamente dita tem 48 degraus que, somados ao poial da porta  entrada, dá aquele total. Ficou pairando no ar a dúvida quanto ao título.
A princípio lembrei-me do nome de um filme que eu vira na minha juventude. Um filme do cineasta Alfred Hitchcock baseado na obra homônima de John Buchan. Pensei que tinha como título "Os 49 Degraus", mas pesquisei na internet e vi que eram 39 degraus... Era para jamais esquecer esse título, pois considerei aquele filme um grande barrete, usando expressão muito usada aqui no Alentejo para filmes fracos ou decepcionantes. Este começava com a imagem de um grande navio e que depois se viu que era um barquinho de brinquedo, filmado num plano maior. Coisas de Hitchcock...
Como uma coisa leva a outra, lembrei-me do livro de ensaios do italiano Roberto Calasso, "Os 49 graus". Fiquei outra vez num impasse, pois fujo de plágios, naturalmente. Resolvi então suprimir o artigo e ficou só o numeral, pois a escada tem mesmo os 49 degraus e isso não pode ser alterado...
Com esta introdução acabei por já ter escrito meia crónica quase sem dar por tal. Garanto que tudo o que escrevi não foi conversa para boi dormir nem ar para encher pneu...
Minha mãe fez 87 anos no pretérito Agosto. Vim a Portugal para a rever depois de 10 anos passados, bem como os filhos e netos que aqui tenho.
Por opção, ela passa o dia num Centro de Dia e volta para casa no início da noite. Esperei-a na hora da chegada para lhe fazer uma surpresa.
Depois que ela chegou e após os muitos beijos e abraços, ela se apoiou no corrimão com a mão esquerda e na canadiana com o sovaco direito. Subiu os 49 degraus sem descansar um único momento. E ela faz isso todos os dias há 6 anos. Eu fui atrás, parei duas vezes (uma em cada vão) para retomar o fôlego e cheguei ofegante em estado lastimoso. Para eu chegar aos 87 da minha velhota vou ter que promover grandes e radicais alterações no meu modo de vida. Promessa a ser cumprida imediatamente!


quarta-feira, outubro 19, 2011

A última barreira

Com esta postagem de hoje dou início a uma série de crónicas de viagem. A ideia era ter começado quando da minha chegada a Lisboa, mas uma série de deficuldades afastou-me do aceso a um computador. Tudo se remedeia, porém.
Após o grande trauma que lá muito atrás relatei e que se relacionou com o meu estado de saúde, ficaram algumas sequelas que aos poucos tento eliminar. Uma delas é a síndrome do pânico que com grande esforço tento vencer sem o uso de medicamentos receitados. Imaginar-me dentro de um avião e ver o fechar das portas, era algo que me incutía uma certa espectativa quanto a reacções que viesse a ter. E tudo isso apesar de dezenas de viagens aéreas no meu currículo. Afinal, até medo de elevador eu tivera e já eliminara...
A minha situação em Campinas estava deveras insuportável. Era muita pressão e, por isso, todo o esforço que eu fazia para vencer o pânico do medo, acabava por ser em vão, chegando mesmo a carregar a mente com muitas outras preocupações e stress. Eu precisava muito destas férias e teria que vencer todos os obstáculos.
Naquele terça-feira ainda trabalhei como todas as manhãs faço; e foi um bom dia de negócios. À noite lá estava no aeroporto de Viracopos onde ràpidamente fiz o chek-in.
Por ali andei passeando nas instalações que observei não serem adequadas para um aeroporto daquele porte e fiquei com a certeza que não estarão à altura da Copa do Mundo de 2014...
Na hora marcada começou o embarque. O pássaro é enorme e foi a primeira vez que entrei num desse porte --- Air Bus 340. Já senti que aproveitaram ao máximo o espaço para capitalização e comecei a duvidar que eu conseguisse passar o meu barrigão naquele corredor estreitíssimo que fica entre a parede da fuselagem e a área  serviço das comissárias de bordo. Mas consegui passar... O ruim foi começar a pensar que aquela passagem era realmente muito estreita... Mas esse pensamento eu fui evitando ao concentrar-me nas comissárias. Pô! A TAP continúa a ter pessoal com uma média de idade muito alta. Altíssima!
Esta viagem demorou 9 horas. As anteriores demoravam 10. Decorreu tudo às mil maravilhas e, por isso, acho que ultrapassei a última barreira.

segunda-feira, outubro 10, 2011

Caprichos da Natureza

Uma das variedades de árvores que eu considero ser das mais lindas, mais belas, é o ipê. O roxo, o branco e o amarelo. A minha preferência vai por este último e, por isso, cuidei de uma muda que ganhei há aguns anos atrás e hoje está transformada numa árvore enorme plantada na calçada da minha casa. Já comentei aqui sobre ele outras vezes por outros motivos.
Uma vez, numa das costumeiras incursões que faço na livrarias, despertou-me a atenção o título de um livro --- "Os Ipês Florescem em Agosto". Por acaso não comprei o livro e fiquei sem saber se o título era específico ou se se tratava de uma metáfora. Todavia, passei a olhar as florações dos ipês e a conferir se batia com o título do livro. Por diversas oportunidades, o que significa por vários anos, verifiquei que os roxos começam a florir em Maio e isso vai até Agosto ou mesmo Setembro. Os amarelos e os brancos na verdade florescem mais tarde, entre Julho e Agosto.
Este ano as coisas não fôram bem assim, pois um amarelo lindo e imponente que existe no Centro de Convivência Social de Campinas, floresceu em Junho, antes dos roxos. Já fiquei meio confuso com tudo isso. Quanto ao branco, os que conhecia fôram arrancados por aquelas pessoas que gostam de arrancar árvores a seu belo prazer --- e tem muitas dessas pessoas ignorantes nesta cidade. Não vi nenhum deles florescer.
Deixo para lá todos os ipês que não me pertencem e vou-me ater ao "meu".
Desde que começou a dar flores, isso sempre aconteceu no mês de Outubro. Este ano ele floresceu de acordo com o titulo do livro e eu fotografei-o em 30 de Agosto. Fiquei pensando sobre qual a razão porque ele entrou na linha, sem mais nem menos, e a única conclusão a que cheguei foi a de que deve ter sido porque eu rego o seu pé ao mesmo tempo que rego o jardim da frente de casa. Era raríssimo dar-lhe de beber... Aí estaria explicada toda essa mudança da anormalidade para a normalidade.
A grande encrenca é que após terem caído as flores, quando eu esperava que começaríam a aparecer as novas folhas, o ipê deu uma nova florada em Setembro. E isso não é para admirar?! Mas admiração mesmo, é que ele deu a terceira florada em Outubro e assim está no momento em que escrevo estas linhas.
O que aqui escrevi pode ser comprovado pelas datas das três fotos que ilustram esta matéria. Lembro-me que uma vez que cheguei a pensar que a árvore estava com problemas devido à demora das novas folhas, um senhor da EMBRAPA me contactou mas não continuou a troca de informações. Talvez agora ele me explique tècnicamente o que está a acontecer se, porventura, ele ler o que escrevo.
Será que o meu ipê me está agradecido por eu todos os dias o molhar e lhe dedicar o maior dos carinhos. Se fôr isso, é porque ele merece, a exemplo de todas as árvores que eu admiro.







sexta-feira, setembro 30, 2011

Comentários

Esporàdicamente surgem comentários em matérias aqui publicadas, que não abordam especìficamente o assunto e antes tentam agredir o autor. É pura ignorância e pouca ou nenhuma inteligência! Mesmo assim, desde que não sejam ofensivos, acabo por permitir a publicação dos mesmos e é aí que reside a diferença...

domingo, setembro 25, 2011

Cesária Évora

Há uns anos atrás, quando ainda Timor Leste se tentava livrar dos tentáculos da Indonésia, Ramos Horta passou pelo Brasil na sua incansável caminhada pelo Mundo e, sinceramente, não sei se pela primeira vez. A situação estava efervescente, pois isso tudo se passava após o massacre de Santa Cruz.
Sorrateiramente eu sempre andei envolvido em algo que de alguma forma pudesse ajudar o sacrificado povo timorense. Sempre fiz uma grande propaganda de Timor, explicava a muitos o que foi, o que era e o que aspirava a ser aquele Território. Por incrível que pareça, muita gente culta jamais tinha ouvido falar...
Nessas andanças de Ramos Horta, ele passou aqui por Campinas, mas eu não tive oportunidade de conversar com ele ou, pelo menos, de vê-lo. Mas tentei envolver-me mais e contactei algumas Organizações. Fiz alguns comentários em matérias publicadas na Imprensa e abordei certas passagens de que me lembrava de quando estive cumprindo comissão militar em Díli.
Por tudo isso, pela minha exposição no momento, surgiu um convite da Rádio Transamérica de São Paulo para que eu desse uma entrevista. Claro que de imediato recusei, pois a timidez sempre foi o meu fraco e eu sei que me iria engasgar ou entrar num buraco negro a qualquer momento. Além disso, acho que não seria a pessoa indicada para falar daquele Timor do momento.
Nessa mesma altura recebi um telefonema do então Director da Tv Cultura de São Paulo que me fez algumas perguntas sobre a situação em Timor e, lá pelas tantas, inquiriu-me sobre alguns dados pessoais como, por exemplo, a minha origem portuguesa. Citei-lhe Estremoz, a minha cidade natal e Évora onde mais vivi e estudei.
Não percebi a confusão que ele engendrou naquele momento ao confundir Évora com Cesária Évora e sobre esta tecer alguns comentários, pois a nobra caboverdiana não estava na pauta em discussão e um director de um Canal cultural jamais poderia cometer uma gafe dessas...
Após tudo o que escrevi até aqui nesta crónica só um detalhe assinalado na mesma me trouxe aqui. Exactamente a diva Cesária Évora.
Sim! desta vez é ela o personagem central da peça e vim até ao seu nome passando por Timor e São Paulo porque o seu nome foi citado naquelas situações e até se sobrepôs ao da cidade que é Património Mundial da Humanidade.
Cesária Évora também é Património Mundial para todos aqueles que ouviram as suas maravilhosas interpretações no titmo de mornas e coladeras.
Surgiu na Imprensa que Cesária Évora sofreu um acidente cerebral vascular nestes dias e isso me deixou estupefacto e muito aborrecido. Possìvelmente ela não voltará a cantar, mas teremos sempre o prazer de escutar as suas gravações, ver os seus clips e passar tudo isso e muito mais sobre ela às gerações futuras.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Movimentos

Esqueci de contar esta a que assisti na passada sexta-feira. Talvez não faça qualquer sentido para alguns que por aqui passam, mas achei interessante porque insólito. Aliás, é sempre bom lembrar que mais importante que a preocupação com o achatamento ou não das calotes polares, é o sentido que o Mundo está seguindo no seu movimento rectilíneo. Sim! o mundo tem um movimento rectilíneo; aquele em que ele não volta a passar pelo mesmo ponto do modo como passa no de rotação e de translação. Não sei se alguém já alguma vez escreveu isto e eu acho que a ideia foi minha agora, apesar de ser algo tão explícito...
Estava eu, como em quase todos os finais de tarde, tomando uma cervejinha estùpidamente gelada na calçada do Bar, depois que baixei a poeira da garganta com uma saborosa cachaça de Salinas. De repente notei que se aproximava um jóvem aparentando entre 18 a 20 anos. Corpo esguio, alto e bem vestido, com uma camiseta preta e alguns daqueles colares de prata que ora muito se usam. Dirigindo-se a um outro frequentador do Bar e num jeito desesperado, ofegante, perguntou onde se vendia "farinha pra cheirar". 
Acho que não será preciso explicar o que é essa tal farinha de cheirar, pois todos sabem que é cocaína. Uns a tratam simplesmente por "pó" e outros nomes mais íntimos. De qualquer modo, eu sempre andei muito longe dessas intimidades e só estou escrevendo sobre o assunto porque ele vem até mim quando eu mais fujo dele. Ele, o assunto...
Alguns logo indicaram que ele andasse mais duas quadras e voltasse à esquerda, etc. e tal. Acho que até mais por gozação, se bem que o pó se encontra hoje em quase todas as esquinas.
O insólito do quadro pintado, como o denominei lá atrás, é a tranquilidade com que o indivíduo se dirigiu a pessoas que ele não conhece e lugar que não frequenta, com aquela pergunta na ponta da língua. O vício se apodera de tal maneira dessas pessoas, que a ansiedade vence todos os obstáculos, até mesmo os de ordem legal.
Vemos, então, que esse movimento rectilíneo do Mundo tem muitos solavancos e, por isso, não mais oferece aquela gostosa tranquilidade. Talvez até entorte a direcção.







sábado, setembro 03, 2011

Frutas Tropicais --- Cacau

O cacaueiro, da família das esterculiáceas, é nativo das regiões tropicais da América Central e do Sul, provavelmente das bacias dos rios Amazonas e Orenoco, de onde se espalhou por toda região e onde ainda se encontram algumas espécies em estado nativo. Quando os primeiros colonizadores espanhóis chegaram à América, o cacau já era cultivado pelos índios, principalmente os Astecas, no México, e os Maias, na América Central.  De acordo  com os historiadores, o cacaueiro, chamado cacahualt, era considerado sagrado.   No  México os Astecas acreditavam ser ele de origem divina e que o próprio profeta Quatzalcault ensinara ao povo como cultivá-lo tanto para o alimento como para embelezar os jardins da cidade de Talzitapec.  Seu cultivo era acompanhado de solenes cerimônias religiosas. Esse significado religioso provavelmente influenciou o botânico sueco Carolus Linneu  (1707 – 1778), que denominou a planta de Theobroma cacao, chamando-a assim de “manjar dos deuses”.
Os índios consideravam as sementes de cacau tão valiosas que as usavam como moeda.
Antes do descobrimento do Brasil ele era encontrado em estado selvagem no Amazonas e Pará.
A região onde fica aquela que deveria ser a maior rodovia do Brasil e que jamais foi terminada, a Rodovia Transamazônica, possui hoje quase 100 milhões de pés de cacau, fazendo desta atividade produtiva uma das principais forças econômicas da região que vai receber a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
Em 1746 as primeiras sementes chegaram à Bahia, sendo o primeiro cacaueiro plantado na Fazenda Cubículo. O introdutor do cacau na Capitania foi o português António Dias Ribeiro, com sementes trazidas do Pará pelo francês Louis Frederic Warneau.
Hoje encontramos o cacauzeiro no Caribe, na África, no Sudeste da Ásia e até nas ilhas do Pacífico Sul, Samoa e Nova Guiné. Devem ter sido os portugueses que o levaram para esses lugares...
A produção de cacau é uma opção como atividade que concilia a necessidade de produzir com a proteção ao meio ambiente. O cacau tem que ser plantado consorciado com variedades florestais diversas para garantir o seu sombreamento, e por isso pode ser considerado como reflorestamento de áreas já alteradas. Isso torna a lavoura do cacau uma atividade sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental.
A "vassoura-de-bruxa", a mais destrutiva doença do cacaueiro, contribuiu fortemente com a derrocada da cacauicultura e da economia regional a partir de 1989, provocando grandes impactos econômicos e sociais negativos para a região. Fortes indícios indicam que esta doença foi introduzida nas plantações por sabotadores querendo o declínio econômico dos fazendeiros, enfraquecendo-os politicamente. Esta doença só existia no norte do país e somente o homem, intencionalmente ou não, poderia ter propagado a "vassoura-de-bruxa" no sul da Bahia.
Os preços internacionais baixaram e a tecnologia de plantio continua antiga, dificultando a produção e competitividade. Mas aos poucos as plantações vão sendo recuperadas.
Existem três principais variedades de cacaueiro. A mais comum é o forastero, responsável por cerca de 90% da produção mundial de grãos de cacau. Os grãos do tipo crioulo são mais raros e por causa do seu aroma e gosto são procurados pelos melhores chocolateiros. Há também o cacau trinitário, um cruzamento entre o crioulo e o forastero.
Após a colheita, os frutos são juntados, quebrados e retiram-se as favas que são levadas a fermentar em caixas de madeira. Esta fase do beneficiamento é de muita importância, pois de uma fermentação adequada resultará em grande parte o sabor do produto.
Depois da fermentação, as favas são levadas à secagem, onde é eliminada a umidade.  
O processo de transformar o cacau em chocolate começa na seleção e mistura dos grãos. Em geral são utilizadas diversas variedades de grãos. Todos os grãos são separados manualmente antes de começar a torrefação onde se desenvolve o aroma do produto. Cada variedade de grãos é torrada separadamente.
Após, as favas são resfriadas e levadas ao triturador. A casca e a amêndoa são separadas por peneiras sucessivas, com sistema de ventilação e sucção, sendo, a partir de então, utilizada apenas a amêndoa que é é o produto básico usado na produção de chocolate.
A etapa seguinte é a moagem, estágio em que é liberada a gordura, desprendendo substâncias aromáticas que dão ao chocolate sua qualidade de conservação. A máquina de moagem tem um dispositivo de granito que roda sobre uma plataforma de aço ou de pedra para amassar a semente triturada até obter uma pasta espessa, a massa de cacau (ou liquor de cacau), produto básico para a elaboração dos diversos tipos de chocolate. É nesta etapa são acrescentados açúcar e baunilha.
A seguir, vem a refinação e a conchagem, que dura por horas ou dias, durante a qual a massa é agitada até expulsar a acidez ainda existente, ganhando, então, textura e tendo seu sabor realçado, adquirindo aspecto brilhante e apetitoso.
As etapas finais são a moldagem, o esfriamento e o empacotamento do chocolate.
O cacaueiro sempre foi cultivado para dele aproveitar-se apenas as sementes de seus frutos, que são a matéria-prima da indústria chocolateira. As sementes secas representam no máximo 10% do peso do fruto do cacaueiro. Apenas recentemente é que os 90% restantes começaram a despertar o interesse dos produtores.
A casca do fruto do cacaueiro, também pode ter aproveitamento econômico. Ela serve para alimentar bovinos, tanto in natura como na forma de farinha de casca seca ou de silagem, como também para suínos, aves e até peixes. A casca do fruto do cacaueiro pode ainda ser utilizada na produção de biogás e biofertilizante, no processo de compostagem ou vermicompostagem, na obtenção de proteína microbiana ou unicelular, na produção de álcool e na extração de pectina.
O suco de cacau possui sabor bem característico, considerado exótico e muito agradável ao paladar, assemelhando-se ao suco de outras frutas tropicais, como o bacuri, cupuaçu, graviola, acerola e taperebá. É fibroso e rico em açúcares (glicose, frutose e sacarose) e também em pectina. Em termos de proteína e de algumas vitaminas, é equivalente aos sucos de acerola, goiaba e umbu. Algumas das substâncias que compõem o suco de cacau lhe conferem uma alta viscosidade e aspecto pastoso.
O chocolate possui vitaminas A, B, C, D e os minerais potássio, sódio, ferro e flúor. Além disso, pode aumentar o nível do hormônio responsável pela sensação de bem-estar, a serotonina, tornando-se eficaz no combate à depressão e à ansiedade.
Outra substância "positiva" encontrada no chocolate é a feniletilamina, também conhecida como "hormônio da paixão". Cientistas explicam que, quando estamos apaixonados, aumenta a produção de feniletilamina pelo organismo. Por isso, quando algumas pessoas passam por um processo de desilusão amorosa, muitos recorrem ao chocolate numa tentativa inconsciente de "compensar" a quantidade desse hormônio.
O melhor compromisso será comer com moderação e escolher, preferencialmente, chocolate preto (amargo). Não só contém mais cacau e proporcionalmente menos açucar e gordura do que o chocolate de leite, mas também é rico em compostos antioxidantes, chamados flavonóides. De facto, o chocolate preto contém mais flavonóides do que outros alimentos ricos em antioxidantes, como o vinho tinto. Os flavonóides previnem vários tipos de cancro, protegem os vasos sanguíneos, promovem o bem-estar cardíaco e contrariam a hipertensão moderada.
Os resultados de uma das pesquisas mais recentes sobre esse chocolate confirmam que ele protege o coração. Realizado na Alemanha, o estudo revela que seu consumo rotineiro reduz os níveis da pressão arterial. 6,3 gramas da versão de gosto mais acre derrubam a pressão que o sangue exerce sobre os vasos; a máxima, ou sistólica, em 1,6 milímetros de mercúrio e a mínima, a diastólica, em 1 milímetro de mercúrio.