terça-feira, agosto 13, 2013

A sova

Ano de 1956. Minha mãe mudou-se, comigo e meu irmão, de Estremoz para a casa de meus tios em Évora. Tinha eu naquela oportunidade 11 anos e  fôra aprovado no exame de admissão ao ensino secundário.
Travessa de Mahomud era o nome daquela rua onde fômos morar. Um nome esquisito e muito estranho mas que decifrei no decorrer dos tempos, à medida que sentia na cidade os ares romanos, lusitanos, mouros, judeus, enfim. Évora oferece-nos testemunhos de tudo isso e jamais conseguiremos ficar indiferentes aos mesmos.
Em Estremoz vivi a minha infância com uma certa liberdade, de algum modo vigiada, mas sem as amarras dos tempos modernos. Reconheço, hoje, que era realmente livre como os passarinhos. Andava por todos os cantos da cidade e subúrbio da mesma. Tinha muitos amigos por aqui e por ali, mas sempre concentrados num certo perímetro à volta da minha casa. Fóra desse perímetro, havia outros grupos e muitas vezes as brigas entre eles eram inevitáveis. Eram as gangs de antanho...
Tudo o que aqui escrevo agora foi rascunhado nos tópicos enquanto almoçava num pequeno restaurante no Largo de Avis em Évora. Já não é a primeira vez que ali vou, mas em virtude do lugar onde me sentei, a vista externa era exactamente o jardim e a fonte daquele Largo, algo que não acontecera das outras vezes. E aquele jardim tem história... Acredite-se, foi a única vez na minha já longa vida que apanhei uma sova de estranhos, de alguém que não os meus pais. E porquê? --- Afinal eu sempre fôra um rapazinho bem comportado e pouco ou quase nada briguento; só me defendia quando atacado...
Pois é! Naquela mesa do restaurante, enquanto esperava ser servido, lembrei-me que saira de casa naquele dia de tempos longínquos para conhecer o terreno e sentei-me ali num dos bancos do jardim.
Às tantas senti-me cercado por um grupo de rapazes da minha idade e o que parecia ser o líder logo me perguntou: Robin ou Morcego? --- Caraco! Eu nem sabia o que significavam aqueles nomes e nem o contexto em que os mesmos se enquadravam. Assim, o que me soou mais agradável, o Robin, eu respondi. E de imediato comecei a apanhar de todos eles, até que se fôram embora felizes às gargalhadas. Então, compreendi que eles eram os Morcegos. E não demorou muito para que eu conhecesse os Robins e por estes ser aceite no grupo, depois que lhes contei a minha desgraça...
Pode até parecer meio estranho, mas só alguns anos mais tarde é que eu vim a saber que Morcego era o Batman (versão portuguesa) e Robin o seu fiel companheiro...
Tudo porque na minha infância jamais tivera acesso a revistas de histórias em quadrinhos e tal só me foi possível quando comecei a frequentar aquela que é uma das mais completas bibliotecas de Portugal e das mais ricas do Mundo, a Biblioteca Municipal de Évora.

quinta-feira, agosto 01, 2013

Alentejanices


Dia especial

Quando por altura de uma Revolução ou outro acontecimento importante desse calibre, as estações de rádio interrompem a sua emissão normal para dar a notícia dos factos. E os jornais vespertinos alteram a ordem das pautas na emergência; os matutinos ainda vão a tempo se a coisa se dá entre a tarde e anoite...
Este começo da minha postagem foi elaborado para dar uma certa conotação ao interromper das minhas férias e me debruçar sobre o blog. É que eu tinha prometido a mim mesmo que só voltaria a escrever aqui quando regressasse ao Brasil lá para o final de Setembro.
Hoje é um dia muito especial para mim e não sei se o mesmo se repetirá. Pelas circunstâncias do momento, ele, o dia, tem um significado tão profundo e tão importante, que não poderia passar despercebido. Os detalhes que envolvem tudo isto, serão a pauta da crónica que amanhã, ou depois de amanhã, escreverei neste mesmo espaço.
Sendo assim, ocupar-me-ei só com a data de 1 de Agosto que, há 89 anos atrás marcava o nascimento de minha querida Mãe. Presto-lhe, assim, uma singela homenagem e tão singela quanto o foi a nossa vida em comum nos 68 anos seguintes. Logo mais à tarde haverá bolo com velinha e o cantar de Parabéns.
Para a frente Velhota! É mais um degrau a subir, mas necessário para o seu bem estar.
Parabéns Dona Maria Rosa Portalegre!