sexta-feira, novembro 17, 2006

COZINHA DOS GANHÕES

Tomei a liberdade de transcrever do site da Câmara Municipal de Estremoz tudo o que abaixo está descrito. A exemplo do que faço todos os anos, é a minha contribuição para divulgação das coisas da minha saudosa cidade. Este é um evento já com fama além fronteiras e todos aqueles que navegam por este Portal, que estejam em Portugal ou que para lá forem por estes dias, não podem perder. MENSAGEM DO PRESIDENTE Eis-nos chegados a mais uma edição da Cozinha dos Ganhões, a décima quarta.E mais uma vez comemoramos os saberes e os sabores da rica gastronomia alentejana de outros tempos.Espaço de convívio a cada ano que passa, a Cozinha é o ponto de encontro para quem aprecia os pecados da gula, em forma de umas migas, ou de uma açorda ou ainda de um prato de caça, ou ainda... a doçaria conventual, que essa, é de bradar aos céus.Queremos que esta edição seja, para além da grande festa gastronómica, uma montra do nosso artesanato, dos nossos produtos tradicionais, em suma, uma mostra do melhor de nós.A animação está fundada na nossa cultura popular. Pelo palco da Cozinha passarão os Grupos Corais Alentejanos, Etnográficos, Poetas Populares, Tocadores de Concertina... e o Fado Castiço.O nosso reconhecimento a todos quantos tornaram possível a criação da Cozinha dos Ganhões em Estremoz, bem como aos homens e mulheres que vão encher de brilho como tasqueiros, doceiros, expositores e artistas, a edição 2006.A nossa ambição é que a Cozinha dos Ganhões 2006, seja uma Marca de Estremoz e do Alentejo. Aprecie bem esta Cozinha. Sinta-se desde já convidado(a). Um abraço amigo.José Alberto FateixaPresidente da Câmara 30 de Novembro de 2006 (Qinta-feira) 18:30 Cerimónia de abertura da XIV Cozinha dos Ganhões. 19:00 Abertura das Tasquinhas e Doceiros. 21:30 Actuação do Rancho “As Azeitoneiras” de S. Bento do Cortiço 22:00 Espectáculo Musical com o Grupo Coral “Os Ganhões” de Castro Verde 01 de Dezembro de 2006 (Sexta-feira) 12:00 Abertura da Cozinha dos Ganhões. 17:00 Prova de Azeites de Estremoz, pela SICA. 18:15 Prova de Enchidos de Estremoz, pela Salsicharia Estremocense. 18:30 Apresentação do Livro “Sorrindo no Alentejo com Zé d´Alter”, da autoria do Dr. Alberto Ribeiro. 19:15 Prova de Vinhos de Estremoz · Encostas de Estremoz · Margarida Cabaço – Unipessoal · Quinta do Carmo · Tiago Cabaço 22:30 Noite de Fados com António Pinto Basto, José Gonçalez e Patrícia Leal acompanhados pelo Trio de Guitarras de Jorge Silva. 02 de Dezembro de 2006 (Sábado) 12:00 Abertura da Cozinha dos Ganhões. 15:00 Actuação da Orquestra de Percussão de Estremoz “Tocábombar”, pelo recinto. 15:30 4º Encontro de Poetas Populares do Concelho de Estremoz, numa organização da Associação Filatélica Alentejana, com o apoio da Câmara Municipal de Estremoz, no Palco Principal. 17:00 Prova de Azeites de Estremoz, pela Cooperativa de Olivicultores de Estremoz. 18:15 Prova de Enchidos de Estremoz, pela Salsicharia Moreira e Pimenta. 18:30 Prova de Vinhos de Estremoz · Herdade do Pombal · João Portugal Ramos · Monte Seis Reis · Vinhos Dona Maria 19:30 Cantares ao Desafio pelo Grupo Coral “Unidos do Baixo Alentejo”, em ronda pelos restaurantes. 19:15 Prova de Vinhos de Estremoz 22:00 Espectáculo Musical com o Grupo Coral “Unidos do Baixo Alentejo” 03 de Dezembro de 2006 12:00 Abertura da Cozinha dos Ganhões. 15:30 Encontro de Tocadores de Concertina e Acordeão. 18:15 Prova de enchidos de Estremoz, pela Salsicharia Cortes. 18:30 Espectáculo Musical com o Grupo de Cantares de SouselApoio: Geopedras 19:15 Prova de Vinhos de Estremoz · Herdade das Servas · Poeiras & Xarepe · Quinta do Mouro · Sociedade Agrícola Monte da Caldeira 22:00 Encerramento da XIV Cozinha dos Ganhões 2006. O Que é um Ganhão GANHÃO: “s.m. Aquêle que lança mão de tudo para ganhar; ganha dinheiro. Jornaleiro, trabalhador; criador de lavoura: Seria condenável o ganhão, ou mancebo do lavrador, que deixando de lavrar nas terras de seu amo, fôsse a dar jeiras nos casais alheios, D. Francisco Manuel de Melo, Apólogos Dialogais, III, p. 173; Guarde – Deus, mana mulher... Isto aqui de quem é?... Trazem ganhões cá na herdade? Fialho de Almeida, O País das Uvas, p. 187. Prov. Beir. Aquêle que trabalha com uma junta de bois, (Cf. Revista Lusitânia, XI, p. 157).” Grande Enciclopédia Luso-Brasileira Categoria de trabalhador agrícola cuja hierarquia difere de região para região. No distrito de Portalegre corresponde ao homem que se ocupa de serviços de lavoura não especializados, tais como; lavrar com bois, que são guardados e tratados por outro homem denominado “boieiro”; cavar moitas; carregar os molhos de cereal nos carros; etc. O Ganhão aqui é, por assim dizer, um trabalhador de pouca categoria que actua debaixo das ordens de um capataz conhecido por abegão. No distrito de Évora, chama-se Ganhão ao que no de Portalegre se dá o nome de abegão e designa-se por moço de lavoura o que nesse mesmo distrito de Portalegre se denomina Ganhão.” Fonte:A.J. SARDINHA DE OLIVEIRA Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura Ganhões eram os moços da lavoura e de outros serviços, como cavas, acarretos, eiras, etc. A colectividade que os agrupava denominava-se por ganharia ou malta. Muitas vezes existiam rapazes de 14 a 16 anos, que só se consideravam ganhões depois de lavrarem toda uma época de uma sementeira outonal. Entre os ganhões de uma casa havia duas categorias: os de “pensão” (anuais, que se acomodavam por muito tempo e que, por vezes, eram encarregados interinos) e os “rasos” (eram temporários, de poucos dias). O ganhão raso era simplesmente máquina de trabalho, ganhava pouco e era constantemente fiscalizado. A “casinha dos Ganhões” era o dormitório, a casa de descanso dos ganhões ou dos moços da lavoura, que constituíam a ganharia. Como se pode supor, tem semelhanças com as casernas dos soldados. Na maioria dos casos era uma casa ampla que acomodava vinte a trinta homens. Todas elas tinham sempre uma lareira espaçosa, num dos cantos ou no centro, que era por eles designada de chaminé. As paredes eram caiadas de branco, mas na sua maior parte estavam enegrecidas do fumo da lareira. Era aí que se juntava a criadagem nos serões, sentados nos burros (bancos rústicos de pernadas de azinheira) aquecendo-se e enxugando-se das chuvadas que sofriam durante o dia. As tarimbas erguiam-se em redor das paredes, formadas por leitos de carros velhos, portas inutilizadas, tábuas, etc., revestidas com rama de piorno, giesta e palha. A copa (vestuário), safões, chapéus, esteiras e calçado amontoavam-se, sem que mão bondosa se lembrasse de os arrumar. Mas para os ganhões estava tudo bem. O arranjo, a compostura e a limpeza eram para as mulheres e para as suas casitas de vila ou aldeia. As noites eram divertidas. A maioria eram rapazes novos, cheios de vida e sem grandes preocupações. Faziam simulações de touradas, jogos de brincadeiras para logro dos novatos e dos mais velhos que, já cansados, rejuvenesciam e recordavam as partidas que eles mesmos já haviam feito e das quais tinham saudades. Noutras noites os papéis invertiam-se, eram os mais velhos que distraíam os mais novos, tomando ares de superioridade paternal. Propunham adivinhas, recitavam décimas, narravam contos e episódios de guerra ao ponto dos moços exclamarem:”Caramba rapazes! Sempre o tio fulano sabe muito!... É poço sem fundo! Não sei como lhe cabe na cabeça tanta coisa!!! Se fosse homem de letras era doutor!...” Como Surgiu a Ideia Em Abril de 1985, num convívio de vinhos e petiscos, sentámo-nos à mesma mesa o João Albardeiro, o Jacinto Varela, o Armando Alves, o João Paulo e eu. Petiscos saborosos e vinho de qualidade, e a ideia nasceu: e se fizéssemos uma casa de petiscos para a feira de Maio! (...) Cada tasca, cada restaurante, cada cozinheiro, em dias diferentes, apresentaram as suas especialidades. Tratou-se ainda, com grande participação, da promoção e divulgação de vinhos alentejanos Aníbal Falcato Alves – Os comeres dos Ganhões. Memória de outros sabores, Porto, Campo das letras, 1994, página 7.

quinta-feira, novembro 16, 2006

UMA IMAGEM...

É muito conhecida aquela frase "uma imagem vale por mil palavras"!? E eu começo assim para já fazer uma ligação com o título da crónica...Habituado desde os tempos do ensino básico, leio alguns jornais todos os dias, principalmente aqueles dos quais sou assinante. Ainda sou um dos que cultivam esse hábito imprescindível para uma formação que é constante durante toda a nossa vida. Infelizmente notamos a diminuação desses leitores, como eu, o que tem originado o desaparecimento de pequenos e grandes jornais.Dos vários cadernos ou páginas específicas que compõem um jornal, há aquela tal de "Coluna Social" que, normalmente, só merece da minha parte uma ligeira passagem de olhos... Muitas vezes até me enoja aquele desfile de fotos, quase sempre de personagens da alta sociedade. Até pouco se escreve, limitando-se o colunista a fazer uma identificação das pessoas e dos eventos. Desperta-nos a atenção aquelas "madames" com as suas peles repuxadas e, por isso e pelos cremes usados, aquele brilho característico... Como diria aquela minha amiga, ainda livre de tudo isso e exibindo, tão sòmente, a sua beleza natural: horripilante!!! E muitas dessas pessoas fazem questão de serem fotografadas para aparecerem depois na coluna. Chegam a pagar, algumas vezes, por tal previlégio... É tudo uma questão de status.Hoje foi um dia diferente dos demais. Primeiro porque não tive tempo de ler qualquer jornal logo pela manhã, como faço habitualmente, pois estava-se desenhando um dia de muito e árduo trabalho na minha profissão; só fui ler o primeiro a meio da tarde. Segundo porque me debrucei com muito interesse sobre a tal "coluna"...Uma página quase totalmente dedicada ao casamento de um filho de conhecidíssimo banqueiro de São Paulo. Mais exactamente, o casamento de Alberto Safra e Maggy Candi. Ela não sei quem é e nem se é judía, também, como o noivo. Estes e outros detalhes, como a magnificência da festa, enfim, tabém são sem importância para a essência do que me propuz abordar.Naquelas nove fotos existem quatro que, se levado ao pé da letra o ditado transcrito no primeiro parágrafo, valem mais que muitos e muitos milhares de palavras. Tantas que viriam a preencher um bom calhamaço sobre os últimos vinte anos da economia brasileira, principalmente sobre as causas de tamanho desastre...Descreverei as fotos por ordem cronológica em relação ao que cada um dos personagens desempenhou no seu tempo: José Sarney, Fernando Henrique Cardoso (ex-presidentes), António Palocci (ex-ministro da Fazenda), Geraldo Alkmin (ex-governador de São Paulo), Aécio Neves (governador reeleito de Minas Gerais) e... Jorge Gerdau (um dos maiores e mais bem sucedidos empresários do Brasil, cogitado para assumir um posto de ministro no futuro governo de Lula).Banqueiros sabem muito bem quem devem convidar para as suas festas!!!E a m inha crónica de hoje é postada no blog, sem foto...

domingo, novembro 12, 2006

NACIONALISMO EXACERBADO

A minha dissertação de de hoje relaciona-se com o recente trágico acidente aéreo na floresta amazónica, no Brasil. Analisando por vários prismas, o acontecimento em si, bem como os seus desdobramentos, afectam-nos a todos e não só àqueles que, esporàdicamente ou com frequência, utilizam os meios de transporte aéreo. O primeiro clamor foi o de tentar achar-se o culpado ou culpados, uma vez que se aventavam de imediato várias hipóteses de causas e efeitos. Aí tivémos o artigo publicado no New York Times e de autoria de um dos ocupantes do Legacy que contradizia as primeiras declarações dadas no Brasil. A "detenção" domiciliar dos pilotos por parte das autoridades brasileiras, em princípio justificável e ao abrigo das leis, foi mais uma gôta de combustível para alimentar a chama de uma mesma fogueira -- a do nacionalismo. Um porta-voz da Associação de Pilotos da American Airlines criticou as autoridades e imprensa brasileiras pelo tratamento dado aos pilotos do Legacy, e disse que os pilotos americanos estão optando por não voar para o Brasil. Não é seguro voar sobre o território brasileiro, disse. As afirmações não fôram de todo levianas e até mesmo se depreende que já baseadas em estudos perliminares e base de dados. A recentemente terminada "operação padrão" (greve) levada a cabo pelos controladores de vôo veio expôr o quão de periculosidade existe, em função das precárias e improvisadas condições de operacionalidade. E até uma certa instabilidade institucional adveio por causa dos reboliços no seio de um ramo das forças armadas. No Brasil, mais exactamente no sul saíu nota num jornal em que a autora ironizava: "Seguro, então, deve ser voar sobre os Estados Unidos onde aviões batem em edifícios!!!". Publica-se, também, um comunicado da Associação de Passageiros do Brasil: Recomendamos aos passageiros brasileiros que não vôem em aviões de empresas aéreas que têm pilotos americanos, pois eles costumam bater noutros aviões. E, se fôr em território americano, pior ainda, pois eles não costumam desviar dos prédios!"... É proposta uma campanha contra a arrogância americana. Aí está! O início de uma navegação em mar agitado e em que cada um dos arrais enfuna as velas das suas embarcações a seu belo prazer e contrariando a direção dos ventos. É o mar do nacionalismo exacerbado.

sábado, novembro 11, 2006

ARTIGOS E CRÓNICAS SOBRE TIMOR

Ao abrir a minha caixa de e-mails no "yahoo" fiquei surpreendido ao verificar a existência de um, enviado pelo grupo "Crocodilovoador", uma vez que do mesmo faço parte. Não tinha nada escrito no seu corpo, a não ser um link que me transportava ao este meu blog. Assim, acredito que outras pessoas venham visitar o blog atraídos pelo nome "Alentejano em Timor". O nome deve ter sido encontrado algures nas navegações pela Internet...
Como consta da minha apresentação do blog, o mesmo foi criado com esse título e a intenção era debruçar-me sobre temas de Timor, principalmente. Não obstante, outros assuntos e outros temas seriam abordados, até por uma questão de actividade. Lamento o facto de decepcionar aqueles que aqui venham interessados em assuntos
que o título do blog possa sugerir, se bem que possa postar alguns a qualquer momento.
Houve alguns problemas técnicos neste Portal, como já referi anteriormente e, no momento, além de outro título ("Alentejano2004"), entre as várias línguas não nos oferecem a opção do português, estando a estrutura do blog em espanhol...
Vou tentar resolver estas distorções.

terça-feira, novembro 07, 2006

ALTERAÇÃO DO BLOG

As nove entradas abaixo foram todas postadas hoje, mas resgatadas de outro blog. Na verdade, ao aderir à versão beta deste, defrontei-me com um problema técnico e acabei por deletar tudo. Assim, elas não obedecem a uma ordem cronológica. Esta nota de esclarecimento é para aqueles que me estão dando a honra da sua visita pela primeira vez. Aos velhos amigos terei que dar-lhes a informação e pedir-lhes que reponham os anteriores comentários.

O VASCULHO

"Centro de Convivência" é o nome pelo qual todos conhecem um dos lugares mais importantes desta minha cidade de Campinas. Minha porque eu a adoptei. Nos primórdios da cidade este lugar chamava-se "Passeio Público" e era muito parecido com os das cidades europeias, com o corêto ao centro, enfim. Em 1889 recebeu o nome de Praça da Imprensa Fluminense, como reconhecimento aos jornais cariocas que se empenharam numa campanha de ajuda à cidade quando esta sofreu um surto de febre amarela que originou a morte de milhares dos seus habitantes. Nada mais justo a atribuição desse nome. Injusto mesmo é dar a uma rua, viaduto, praça, etc., o nome de figura que nada tenha feito de bom, antes pelo contrário. Veio-me à lembrança a grande ponte que liga as duas margens do Tejo, em Lisboa, que fôra baptizada com o nome de Salazar e que em boa hora teve o mesmo substituído por "Ponte 25 de Abril"... Voltando à praça de Campinas, em 1960 foi ali construído um Centro de Convivência Cultural com um teatro de arena e um outro coberto, sendo mantidas as árvores, muitas delas centenárias. Por grande pressão dos moradores do bairro onde se situa a praça, o Cambuí, foi elaborado um projecto de remodelação, isto em 1963, e as obras começaram logo em seguida, até porque a Prefeita estava em fim de mandato... Um pouco antes o seu nome fôra alterado para "Praça Tom Jobim" numa homenagem ao célebre compositor brasileiro falecido havia pouco tempo. Uma injustiça para com os cariocas, se bem que Tom merece ter o nome num lugar assim também. É certo que a injustiça foi reconhecida e tudo voltou ao estado anterior na questão da toponímica. Aqueles moradores do Cambuí são muito estranhos, pois julgam-se senhores do pedaço que a todos nós pertence... Criaram até uma Associação e, por dá cá aquela palha, sempre estão com exigências, apontando defeitos aqui e ali, enfim, manifestando-se por qualquer pieguice. Depois da reforma concluída, a praça ficou muito diferente, mais modernista, enfim. Mantiveram-se quase todas as árvores, se bem que uma ou outra tenha sido sacrificada e colocadas algumas mais noutros pontos. O piso de paralelepípedos de maquedame, em dois tons de côres, substituíu os caminhos de asfalto. Aquelas árvores são uma grande dádiva da Natureza. Usufruimos da sua sombra, do ar renovado por elas. E as folhas caídas? Ah! as folhas... Num certo dia lá estavam os almeidas ou garis, como quiserem, da Prefeitura varrendo as ditas cujas como habitualmente fazem. Tive oportunidade de assistir ao diálogo entre duas senhoras que criticavam aqueles vassourões com cabo e ramagens de bambú. E dizia uma delas: "...a Prefeitura desperdiça tanto dinheiro e não compra umas vassouras decentes para esse pessoal; que vergonha!!!" Lá estavam as tais críticas... Não resisti, pedi licença e disse eu: "Senhora! o verdadeiro nome dessas vassouras é VASCULHO. É o único adequado a este tipo de serviço e em qualquer país dito desenvolvido." Recebi a seguinte resposta: "Nós estamos no Brasil! os outros países não me interessam!" Na verdade, aqui no Brasil não se usa o termo "Vasculho" como substantivo na conotação que lhe dei. É uma daquelas palavras que algumas vezes me veem à lembrança e, vejam, a prosa que ela originou...

MOVIMENTO DOS EX-COMBATENTES

Resolvi engajar-me nesta luta que considero de suma importância e, por isso, num primeiro passo, transcrevo a matéria publicada no site http://ultramar.terraweb.biz, referente a ex-camaradas que tombaram em combate nas antigas colónias portuguesas e cujos corpos se encontram sepultados em cemitérios abandonados, longe dos seus familiares. Outros, até mesmo nos deixam dúvidas sobre a real situação e sobre isso já escrevi anteriormente em crónica com o título "Guerra Colonial". MOVIMENTO DE ANTIGOS COMBATENTES 2006 PORTUGUESES MORTOS DURANTE A GUERRA COLONIAL ABANDONADOS EM CEMITÉRIOS EM RUÍNAS Proposta de Reflexão Porquê este Movimento Tomamos esta iniciativa a partir da reportagem realizada pela RTP 1, apresentada no passado dia 20/09/06, sobre os cemitérios em ruínas de soldados portugueses mortos durante a Guerra Colonial. Ao ver essas imagens, sentimos uma enorme indignação por vermos como são tratados os restos mortais, esquecidos e abandonados, daqueles portugueses que morreram em combate durante a Guerra Colonial e que ficaram sepultados nos territórios de África. Por essa razão, e por sentirmos que alguma coisa deve ser feita para restituir dignidade a esses cemitérios, um grupo de antigos combatentes tomou a iniciativa de apresentar esta Proposta de Reflexão, no sentido de se organizar um Movimento Nacional de Antigos Combatentes que tome nas suas mãos o encontrar de uma solução para este problema. Perante a inércia dos poderes que em Portugal deviam tratar deste assunto, mas porque ele também nos diz respeito, nós, que temos o sentido da honra e que fomos companheiros dos que tombaram, entendemos dever honrar a sua memória e restituir-lhes a dignidade possível. Achamos que devemos fazer um esforço e ser capazes de mobilizar as vontades e os meios para os resgatar do esquecimento. Devemos agitar as consciências de quem tem o poder para decidir medidas que honrem os homens esquecidos naqueles túmulos cobertos de destroços e capim, espalhados pela Guiné, Angola e Moçambique. Primeiros objectivos deste Movimento _ Identificar os cemitérios da Guiné, Angola e Moçambique, onde repousam soldados portugueses mortos durante a Guerra Colonial. _ Identificar os túmulos dos soldados sepultados nesses cemitérios. _ Fazer a transladação para Portugal dos restos mortais dos militares mortos durante a Guerra Colonial, abandonados até hoje, de acordo com a vontade das famílias que o queiram fazer. _ Dignificar os cemitérios nesses territórios através de trabalhos de reparação, e no futuro, encontrar formas de gestão e manutenção adequada para esses espaços. _ Onde a identificação for impossível, manter nesses cemitérios com a maior dignidade os restos mortais dos soldados portugueses ou, em alternativa, concentrar tudo num único espaço de modo a facilitar a manutenção. Proposta de acção para o curto prazo _ Criação de uma Comissão Coordenadora do Movimento que oriente o projecto, e que, desejavelmente, possa englobar militares dos três ramos das Forças Armadas, integrando antigos combatentes e actuais militares. _ Levantamento da situação sobre os esforços até hoje desenvolvidos pelo Ministério da Defesa, pela Liga dos Combatentes, pela Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar e por outras Organizações com interesse neste assunto. _ A partir dos elementos obtidos, reflectir nas medidas a tomar, estabelecer um objectivo, definir a melhor estratégia para o conseguir e criar um plano de acção com metas de realização exequível. Este Movimento deverá traduzir a boa vontade dos militares portugueses, antigos e actuais, sendo que, através da sua intervenção neste projecto, seja possível honrar a memória dos nossos irmãos de armas que tombaram lutando sob a bandeira de Portugal, e que ficaram abandonados nos cemitérios de África. Abandonados mas não esquecidos pelos seus companheiros de armas que hoje tentam erguer este Movimento. Face às grandes dificuldades deste projecto, entendemos que o mesmo deverá integrar todas as iniciativas que, de alguma forma, possam contribuir com diferentes tipos de colaboração e ajuda. Grupo de Antigos Combatentes “Pelos que tombaram durante a Guerra Colonial” Caro(a) Leitor(a), se concordas com esta nobre missão, para a qual em nosso entender todos os portugueses de boa vontade se devem mobilizar, fotocopia e divulga esta mensagem, pedindo a outros que o façam também. Se te for possível, usa o e-mail para aumentar a difusão. Informações: António Brito - 919 198 950 - e.mail: antoniobrito@msptx.com Nascimento Rodrigues - 932 300 901 - e.mail: nascimento.rodrigues@beltraocoelho.pt

CANCIONEIRO DO ALENTEJO

PROCURANDO UM CARACOLI Tava eu tirando moncos Cá da cana do nariz Enquanto fazia uma mija Assim tipo... chafariz Tinha a bexiga tã cheia Que fiquê lá uma hora Quando m'assomê em volta Tinha s'ido tudo embora Sacudi o "coiso e tal" Enquanto coçava a bilha De tal manêra atascado C'o entalê na braguilha Tirê as botas do lôdo Que fizera ma mijada Sacudi tamem as calças Sempre com ela entalada Pedi ajuda à Ti Micas Que cerca dali morava Mas depilou-me os tomates Ca força com c'a puxava Ensanguentado da pila Fui aos tombos pelo monti Vomitando quase as tripas Nã sei se queres que te conti Comera dois pães de quilo C'um garrafão p'rajudari Nã admira ter tado Três horas a vomitar Detê-me na palha fresca Pra ver se descansava Enterrê-me logo na bosta Da vaca c'ali pastava E foi assim qu'essa tarde Conheci um caracoli Dêtados os dois na palha C'os cornos secand'ó soli Do Cancioneiro Popular

MARAFÍSA

Faz já algum tempo que não me debruço aqui neste espaço e até concluí que o mesmo anda um tanto ou quanto abandonado. Muitos factores concorrem para esse "desprezo", mas não cabe aqui enunciá-los agora. Hoje, visitando o fotoblog da minha amiga especial Sónia, vi a foto da sua gatinha siamesa. Dediquei a esta foto mais tempo do que normalmente dedico às demais e por um motivo especial também. É que aquela gata que eu ali estava observando era exactamente igual à minha e issso tocou-me profundamente. Mas, será que todas as gatas e gatos siameses teem alguma diferença?... Claro que teem. Tudo igual nós costumamos dizer que "é um caminhão carregado de japoneses", mas, na realidade os japoneses não são todos iguais... Como no caso da minha gata e a da minha amiga Sónia, cada uma tem as suas peculariedades físicas e temperamentais mas, à primeira vista, parecem iguais, um clone. Depois daqueles momentos de observação da foto eu ía postar um comentário mas, exactamente aquela foto não tinha esse espaço, ao contrários das demais. Não sei porquê, mas deve ser um detalhe técnico do Portal. Resolvi comentá-la através de e-mail que enviei à minha amiga e mais ou menos nos mesmos termos do que exponho a seguir. A minha gata, de nome Marafísa mas carinhosamente chamada de Miurinha, como na foto anexa, era castrada para que não tivesse mais proles, pois os gatos são terríveis nesses namoros sobre os telhados e eu não pretendia andar, mais vezes, procurando interessados em adquirir os seus rebentos e dos quais fiquei com um. Este, por sinal, sem nenhum resquício da raça, antes um vira-lata preto com algumas manchas brancas... Na sua condição de castrada, ela não saía do território delimitado pelos telhados e quintais de quatro vizinhos. Só tentava acompanhar-me quando eu saía a passear com os meus cachorros, do que eu a dissuadía de imediato. Era obediente... Um certo dia, a exemplo do que periòdicamente fazia e faço com os meus animais de estimação, providenciei um tratamento de combate aos parasitas. Como habitualmente, após a aplicação do medicamento, ela foi refugiar-se no telhado. E eu fui dormir uma sesta para manter as minhas tradições de bom Alentejano... Durante o meu sono leve tive uma premonição: alguém tinha agarrado a Marafísa e tentava afogá-la num bidon cheio de água. Acordei sobressaltado e corri para o quintal procurando e chamando por ela. Mas, três anos são passados e a Marafísa jamais apareceu. Anúncios nos jornais, buscas diárias nas redondezas, tudo infrutífero. Só ficou uma grande dor no coração e que é difícil passar, pois não consigo evitar momentos em que penso nela, recordando o nosso relacionamento carinhoso, as brincadeiras entre ela e os cachorros (!). Sónia respondeu ao meu e-mail dizendo que a sua gata era castrada, também, e não saía dos limites do condomínio onde mora. Um dia, depois de um daqueles pequenos passeios habituais, verificou que ela correu ao seu encontro e caíu morta a seus pés. Tinham-na envenenado! Passaram-se também três anos e, até hoje, tem aquela lembrança. Porque razão existem pessoas tão maldosas neste mundo? Ou será que neste mundo selvagem nós, os que gostamos de gatos e cães, estamos a mais? As fotos desses meus amigos estão arquivadas no Álbum de Família.

OS POMBOS

Hoje resolvi declarar guerra aos pombos! Aquelas aves que alguém, um dia, resolveu adoptar como símbolo da paz. Uma imagem bíblica, eu acho, com a soltura de uma pomba da arca de Noé e que regressou com um raminho de oliveira no bico, anunciando o fim do dilúvio...De origem europeia, foram trazidos pelos portugueses para o Brasil no século XVI. Acho que os pardais também. Os meus antepassados trouxeram muita coisa ruím, dependendo do ponto de vista, claro...Os pombos teem 4 ou 5 ninhadas por ano, vivem cerca de 5 anos nas áreas áreas urbanas e 15 nas rurais e silvestres.Importantes fontes de infecções e transmissores de doenças para o homem que ocorrem por inalação ou ingestão de partículas com bactérias e fungos, contaminam grãos de alimentos e isso atrai mais fácilmente ratos, baratas e moscas.Por tudo isso comecei a ficar preocupado com a visita diária de um bando, esperando o momento de avançar na ração dos meus cães. E a preocupação aumentou quando, depois de ter aplicado uma medicação anti-parasitária que normalmente é eficaz, começaram a aparecer carrapatos. E é aqui que a "porca mais torce o rabo"... Há, no momento, na Região Metropolitana de Campinas, um surto de febre maculosa transmitida pelo carrapato (carraça). Informei-me com uma especial amiga veterinária e conterrânea que vive no Rio de Janeiro, que confirmou a possibilidade dos carrapatos serem trazidos pelos pombos, pois costumam alimentar os seus filhotes com estes parasitas.Vou iniciar a guerra com a prevenção. Limparei com mais assiduidade as áreas frequentadas pelos visitantes, agora meus inimigos. E até com esta tarefa devo ter cuidados básicos como, o uso de máscara e humedecimento dos resíduos. Colocarei a ração dos cães sòmente à noite. Barreiras e repelentes não vou usar.Afinal, os columbídeos são em geral espécies cinegéticas, caçadas pela sua carne. Estão nesse leque pombos, pombas e rôlas. Na minha terra tem até um período oficial de caça e muitas vezes saboreei essas delícias. Repugnante? Então vejam o que vos ofereço hoje:POMBOS À MINHA MODAPombos ................................. 2Azeite de oliveira .............. 1 colherManteiga ........................ 1 colherSalva ............................ 1 folhaSalsa .......................... 1 raminhoToucinho ........................ 8 fatiasPresunto crú defumado ........... 8 fatiasCebola ................................. 1Dente de alho .......................... 1Vinho branco ........................ 1 dlLimão ............................... q.b.Abra os pombos pelas costas, de alto a baixo, e espalme-os bem. Leve-os ao fogo numa frigideira onde, prèviamente, se colocou o azeite, a manteiga, a salsa e a salva. Deixe fritar de ambos os lados. Separadamente, num tacho, em camadas alternadas, coloque metade das fatias de presunto e toucinho, a cebola picada e o alho picado também. Sobre este arranjo coloque os pombos abertos com o peito para baixo e derrame sobre eles o molho da fritura e cubra com as restantes fatias de toucinho e presunto. Tape o tacho e leve ao fôgo muito brando; a meio da cozedura junte o vinho branco.Depois de cozidos, coloque os pombos numa travessa e regue-os com o molho que passará através de um passador de rede fina. Por fim, regue com o sumo de limão e salpique com a salsa picada.

POESIA ALENTEJANA (I)

Sou alentejano, como todos sabem ou deduzem e, por isso, o Alentejo está sempre prsente no meu coração. Para mais, porque tão longe estou. Gosto muito de poesia e, como não poderia deixar de ser, a alentejana é especial para mim. Os poetas do Alandroal são imortais! Nem sempre estou com inspiração ou tenho um assunto para desenvolver uma crónica. Assim, dando um pouco mais de vida ao meu espaço, hora ou outra colocarei aqui um poema, algumas quadras, enfim. Hoje publico poesia de Manuel Inácio Leitão (Pisco), natural de Hortinhas. MOTE Adeus quinta da desgraça Almadiçoada sejas tu Já criei ferrugem nos dentes E teias de aranha no cu. Eras por todos cobiçada Na freguesia do Carregueiro Reformei-me da vida de mineiro E foste por mim arrendada. Começaste a ser cultivada Davas fartura na praça E hoje quem por ti passa Vê as tuas árvores a cair, Vou-me de ti despedir Adeus quinta da desgraça. Tinhas muitas laranjeiras Todas as espécies de fruto A vender o teu produto Corria todas as feiras. Hoje romperam-se as algibeiras Que eram forradas de pano cru Já pareço um gabiru Que anda no mundo ao abandono, E eu vou-te entregar ao dono Almadiçoada sejas tu. Sempre tiveste valia Quando eu era teu rendeiro Tu é que me davas o dinheiro E era de ti que eu comia. Quem é que a mim me dizia Que iam abaixo os teus nascentes Foi talvez dos dias quentes Que vieram no pino do Verão, Fixaste-me a alimentação Já criei ferrugem nos dentes. Em água tinhas riqueza Foste sempre bem regada Hoje és por mim abandonada Por força da natureza. Da minha carteira andar tesa A culpada foste tu Ando roto e quase nu A viver sem alegria, Ando com a barriga vazia E teias de aranha no cu.

CEBOLINHAS EM CONSERVA

Uma cervejinha nós tomamos durante todo o ano com o maior prazer. Porém, a partir de agora e durante o Verão que se aproxima (Hemisfério Sul), essa sêde é mais enraizada e a qualquer hora o precioso líquido desce gostosamente pela goela abaixo... A primeira vai desacompanhada e abre (ou não) o caminho para as demais. Neste estágio já pensamos em algo para acompanhar e, porque hoje eu tive o prazer de saborear uma dessas combinações, que até inspiração me deu para escrever esta meia dúzia de palavras, não poderia omitir uma receitinha simples para que os meus amigos também possam desfrutar. Parece simples, mas se não tivermos os cuidados mínimos, tudo se vai por água abaixo...Aqui vai, então:- Cebolinhas ................................... 1 kg- Vinagre ...................................... 1 lto- Alho ......................................... 1 dente- Canela em pau, louro, pimenta em grão, cravode cabecinha, azeite de oliveira e sal q. b.Descascam-se as cebolinhas e escaldam-se com água fervente; escorrem-se e colocam-se num tacho com meio litro de vinagre, o dente de alho, um pedacinho de canela em pau, meia folha de louro, seis bagos de pimenta, um cravo de cabecinha e um pouco de sal.Leva-se o tacho ao fogo e deixa-se ferver durante dez minutos; passado este tempo, escorrem-se as cebolinhas e, depois de frias, colocam-se em frascos de vidro.Separadamente, ferve-se outro meio litro de vinagre, deixa-se arrefecer completamente, e enchem-se com o mesmo os frascos que teem as cebolinhas, deixando um centímetro vazio. Coloca-se dentro um pedacinho de louro e outro de pau de canela. Acaba-se de encher com azeite que se vai espalhar sobre a superfície do vinagre, o que auxilia a conservação. Fecham-se os frascos e guardam-se em lugar fresco.

INDIGNAÇÃO

Por opção, abdiquei dos meus direitos e deveres políticos em Portugal e passei a tê-los no Brasil. Isto ao abrido de Acordo firmado entre os dois países na década de 70. Não sou naturalizado brasileiro porque, assim, não há necessidade. Por tudo isso tenho o direito de me manifestar polìticamente.Existe muita indignação com tudo o que ocorreu nestes quatro primeiros anos do governo Lula e agora, após a reeleição, com tudo o que está ocorrendo, principalmente com a postura do Partido dos Trabalhadores (PT) e com a declarada perseguição à imprensa, ficando a liberdade desta em perigo.Tomo a liberdade de transcrever um artigo oportuno.A INDIGNAÇÃO LULA Ganhou,a ética e a verdade perderam. DENIS LERRER ROSENFIELD Os que defendem os "erros" cometidos pelo governo Lula e pelo PT estão, de fato, abandonando o próprio exercício do pensamento UM PAÍS que perde a capacidade de indignar-se arrisca a sua própria existência política. A moral não é um utensílio qualquer que possa ser utilizado segundo as conveniências partidárias. Ela é uma finalidade em si mesma que, instrumentalizada, perde seu próprio significado. A política se mostra como uma forma superior de sociabilidade humana se tiver um comprometimento com princípios morais e com a verdade, sem os quais as relações humanas abandonam sua própria dimensão cívica, a que se realiza pelo exercício dos mais diferentes tipos de direito. O país cresceu nas últimas décadas pelo desenvolvimento e pelo aperfeiçoamento da cena pública. A liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral propiciou uma nova configuração da opinião pública, atenta ao comportamento de seus dirigentes. Líderes partidários e governantes tiveram de responder por suas ações e de se responsabilizar pelo que faziam. Políticos que baseavam suas ações em máximas do tipo "é dando que se recebe" ou "rouba, mas faz" perderam progressivamente credibilidade e foram sendo abandonados pelos eleitores. Parecia que o país tinha ingressado em um distinto e superior patamar político. Um presidente da República chegou a ser afastado do seu cargo por corrupção e por infrações à moralidade pública em manifestações que tomavam conta das ruas deste país. Nos escândalos que dominaram a cena do governo Lula, as ruas permaneceram vazias. As vozes, dificilmente audíveis, começaram a se calar, como se a perplexidade tivesse tomado o lugar da indignação. É como se as seguintes perguntas martelassem as cabeças: "O que fez com que o partido da ética a infringisse tão duramente?"; "Era tudo uma mera encenação de um partido oposicionista?". A única resposta a essas perguntas veio sob a forma do "errar é humano" para justificar a corrupção e a falta de ética na política. É como se uma "nova teoria" estivesse nascendo das cinzas da moralidade, a de que "erros" justificam todo tipo de ação. Ora, uma "teoria dos erros", cuja finalidade consistia apenas em acobertar a verdade, só podia se traduzir por uma valorização da "mentira" como forma de governo. O seu rebento é o "direito de mentir". Triste fim dos que se diziam defensores da moralidade, embora tenham com isso aferido "belos" resultados eleitorais. Acontece que a beleza e a eticidade desapareceram em proveito de uma grande enganação pública. Criticar, porém, é preciso. Uma cena pública que perde seus parâmetros começa a se desestruturar. Entra-se no lugar do vale-tudo em que a verdade e a moralidade são as primeiras vítimas. O mundo do vale-tudo é o mundo dos heróis sem caráter, que aproveitam as mínimas circunstâncias em proveito próprio. O tesouro público se torna privado ou privado-partidário, como se a República, a coisa pública, a coisa de todos nós e os recursos dos contribuintes pudessem ser dilapidados à vontade. Sempre explicações e justificativas serão apresentadas, algumas adornadas de belas expressões, como se um novo mundo estivesse sendo construído, um novo mundo possível, só que este surge sob a forma da usurpação e da perversão. O exemplo que está agora sendo vendido ao país é o de que o crime compensa, toda regra e toda norma podendo ser transgredidas. Tudo depende da "teoria do erro", chave mestra que procura colocar aquele que o cometeu na posição de vítima, de agente involuntário, injustamente acusado pelos malfeitores da imprensa, uma imprensa que não saberia investigar corretamente, porque não segue os ditames do partido no poder. De reveladora de fatos, ela se torna ré de um mau exercício da liberdade. De pequenos passos se constitui uma mentalidade e um uso autoritário do poder. Quem defende a imoralidade, quem a justifica, a trai. Defende, na verdade, a asfixia da cena pública, a asfixia lenta e gradual das liberdades democráticas. O comprometimento do pensamento é com a faculdade de julgar, de emitir juízos sobre fatos e comportamentos que atentam contra princípios morais, contra a verdade e contra tudo aquilo que baliza as instituições republicanas. Os que defendem os "erros" cometidos pelo governo Lula e pelo PT estão, de fato, abandonando o próprio exercício do pensamento, que não pode se tornar refém da servidão política -aqui, uma espécie de servidão voluntária. Se a "causa" toma o lugar da verdade e da liberdade, muito pouco se pode esperar da reflexão, da crítica. Lula ganhou, a ética e a verdade perderam. DENIS LERRER ROSENFIELD, 55, doutor pela Universidade de Paris 1, é professor titular de filosofia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e editor da revista "Filosofia Política". É autor de "Política e Liberdade em Hegel" (Ática, 1995), entre outros livros.