sexta-feira, junho 24, 2016

O Ballet

Um dia na vida de um jogador que coxeia: levanta-se a coxear, vai dar um passeio a coxear; enquanto coxeia, atira para o lago o microfone do repórter da estação de televisão mais odiada do país; faz uma assistência para golo; marca dois golos (um deles de calcanhar); põe a humanidade lusófona a postar comentários sobre ele (até eu, que tinha jurado a mim mesmo nunca o fazer); volta para casa a coxear e descobre que foi o modelo de uma das fotos mais belas alguma vez feitas: reparem na poesia do movimento a três, como se cada jogador representasse uma fase diferente do movimento; reparem na poesia da numerologia: 7+10=17; reparem na poesia da sequência 321 [CR: 2 golos + 1 assistência; Nani: 1 golo + 1 assistência; Mário: 1 assistência]; reparem na poesia da hierarquia; reparem na poesia do tempo: CR7 na sua fase descendente; Nani ainda a planar; J. Mário numa carreira em ascendência; reparem na poesia simbólica: por cada jogador um empate; reparem na poesia da negação: vamos em frente para que o desastre seja maior.

Texto de Rui Catalão
Foto : Max Rossi

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