segunda-feira, dezembro 25, 2006

PORTA GIRATÓRIA

Já se passaram meia dúzia de anos e esporàdicamente lembro-me do ocorrido. Costumo citar essa passagem nas reuniões com os amigos à volta de uma mesa de bar ou noutras tertúlias. Tudo sempre com aquele espírito brincalhão e até mesmo pelo inusitado da situação. Quem me conhece bem sabe que, apesar de eu ter um génio forte, vou contemporizando as coisas com muita paciência, levando uma porrada daqui, outra dali, mais uma dacolá, até que se solta a espoleta da granada. É nesse momento que vôam penas para todo o lado... Naquela manhã de um dia que prometia ser de grande azáfama, programei a minha ida ao Banco no horário da sua abertura. Mesmo assim já me defrontei com uma fila enorme na calçada e que enfrentei com certa resignação democràticamente. Na entrada tinha uma daquelas portas giratórias que todos os Bancos adoptaram por questões de segurança, obrigando os clientes a uma triagem por amostragem perante travamentos periódicos monitorados por um dos guardas-vigias ou automáticamente quando accionada pelo detector de metais. Entre a entrada de um e de outro e enquanto eu esperava a minha vez, o meu pensamento voava para muito longe, para a minha cidade de Évora, pois que naquele tradicional Café Arcada tinha uma dessas portas e que para mim e meus amigos de infância era um maravilhoso brinquedo... Entretanto comecei a notar que o guarda-vigia travava a porta, com o seu controle remoto, para cada um dos que se preparavam para entrar. Não era mais por amostragem e o facto começou a irritar toda a fila. E a minha paciência já se começara a esgotar. Arquitetei o meu plano! Cheguei a comentar com o parceiro de trás que, se continuasse assim esse tipo de provocação e desrespeito, quando chegasse a minha vez eu iria tirar toda a roupa do corpo e ficar só de cuecas... Afinal, neste clima tropical fazia um calor de rachar e normalmente eu só usava uma bermuda e uma camiseta como nos dias de hoje; não seria difícil... Chegou a minha vez! A porta travou! Falei para o guarda: "não tenho bolso na camiseta, só tenho um na bermuda e vazio e porto na mão este papel sòmente. Porquê travar a porta?" Tendo recebido um sorriso irónico, a reacção foi imediata: fiquei só de cuecas! A fila toda bateu palmas. O guarda pediu-me pelo amor de Deus que me vestisse e a porta não travou mais. Quando cheguei em casa a família já sabia do ocorrido... Porquê relatar neste espaço esta história? Porque ela é de muita actualidade apesar dos anos passados. Há alguns dias no centro do Rio de Janeiro um homem de 35 anos, cliente de um Banco há mais de 10, foi travado numa dessas portas. Não sei exactamente quais os motivos, mas pelo perfil deduzo ser uma pessoa honesta vítima de uma futilidade daquelas. Discutiu com o guarda e foi morto com um tiro. Já repensei o meu comportamento perante várias situações como no trânsito, por exemplo, e terei que repensar mais no que tange a outras. Todos nós aqui vivemos numa verdadeira selva.

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