terça-feira, dezembro 29, 2009

Salavaux

Este, como muitos seguidos dias chuvosos, propôs-me nada mais além que uma navegação a esmo pela internet. Não de propósito, lendo uma matéria publicada num jornal de Genebra (Suiça), referente a métodos de racionalização de produção de leite, vi que a mesma era assinada por alguém nada estranha para mim. Josette Hurni, da cidade de Salavaux, no cantão de Vaud.
Não me lembro se alguma vez na minha juventude consultei uma qualquer enciclopédia das melhores para procurar essa cidade e região. Devo ter consultado e nada achado… Hoje a internet abre-nos todos esses caminhos com facilidade e assim encontrei três fotos referentes, sendo uma delas a que ilustra esta crónica.
Josette foi uma das dezenas de correspondentes epistolares que tive naqueles anos dourados. Dourados, talvez nem tanto numa visão geral, mas certamente noutra mais pontual. Era uma das mais assíduas no escrever e assim, aliando-se o detalhe a outros aspectos positivos, foi também participante de um grupo mais íntimo e escolhido.
Confesso que eu não escrevia mais para Josette porque sempre tinha que o fazer em francês e o que aprendia naquela época na escola, o mesmo que sei hoje, não era assim tão fluente e ocupava muito tempo para escrever uma carta. Algumas vezes, até mesmo, recorri a uma professora da língua para traduzir os meus rascunhos, mas as minhas possibilidades económicas restringiam-me esse luxo, além do entrave da minha timidez ao expor detalhes íntimos…
Acho que já aqui uma vez escrevi algo a respeito de mania que não abandono e que nem sempre é pertinente. O caso de me lembrar de pessoas que de algum modo fizeram parte da minha vida de antanho e, porque guardo os endereços, resolvo enviar um cartão de Natal ou coisa do género. Nem sempre essa atitude é bem interpretada e, como no caso de Josette, recebi uma vez resposta dizendo que era casada, que tinha a sua família, etc. e tal, dando-me a entender que não era para escrever mais…
Sou uma pessoa respeitadora e jamais escreveria alguma coisa fora das linhas. Não considero que eu esteja errado, mas comecei a admitir que nem todas as pessoas pensam como eu e tornei-me mais cauteloso.
Nada se passou entre eu e Josette além de uma amizade bonita. Porém, admito que até algo mais poderia ter-se passado se a minha escolha tivesse recaído nela ao invés da brasileira que fazia parte daquele grupo restrito e que veio a ser a minha primeira esposa.
Olhando para as fotos de Salavaux e pelo que conheci pessoalmente de Genebra quando lá estive na década passada, até que eu poderia ter-me movimentado no sentido de, clandestinamente, ter saído de Portugal, fugindo à guerra e viver lá hoje tranquilamente.
Mas, será que “tranquilamente” é o termo certo? Pensando melhor, talvez estivesse hoje cuidando da ordenha de vacas, absorto nos negócios lácteos, rodeado de belas paisagens. Porém, a consciência  estaria pesada quando pensasse nos jovens do meu tempo.

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