sábado, junho 26, 2010

Torcida

Início da semana e atendo o telefone. Era do Consulado Geral de Portugal em São Paulo, informando-me pessoalmente do agendamento da minha presença lá na quinta-feira dia 24. Na hora alertei que, como trabalhava nesse dia, se seria possível adiar para sexta. A resposta foi que sim, mas que seria dia do jogo do Brasil. Disse-lhes não me importar com isso e preferia sexta por ser meu dia de folga. Assim, ficou marcado para as 14 horas, depois do jogo…
Nada de mais a assinalar no que relatei atrás, a não ser a minha estupefacção em relação à frase “dia do jogo do Brasil”, uma vez que um funcionário do Consulado português em conversa com cidadão do país, deveria dizer “dia do jogo de Portugal” ou simplesmente “dia do jogo Portugal x Brasil” (aqui a ordem dos factores não altera o produto…).
A minha crónica de hoje baseia-se na relação desta semana entre eu e o Consulado. Sempre escolhemos uma nota para escrever o lamiré nas várias que pipocam por aí…
Dirigi-me várias vezes ao Consulado quando este se situava no Bairro da Liberdade e com uma estação do Metro à porta. Tudo era fácil naqueles tempos. Depois que mudou para os “Jardins”, bairros nobres de São Paulo, nunca lá fôra. Conheço bem a grande cidade, mas há lugares onde jamais pisei e esse é um deles; só estivera na Paulista como o mais perto. Mas dali se inicía a Alameda Casa Branca, paralela à Avenida 9 de Julho e que tem continuidade com a Avenida Canadá, endereço pretendido. Foi fácil.
Faltava uma hora para o grande jogo e comecei a descer, a pé, a Casa Branca até chegar ao Consulado. Era um estudo da região. Grandes mansões quase todas ocupadas por consulados e, como não poderia deixar de ser, a representação portuguesa numa delas. Não sei quanto sai do meu bolso para pagar aquelas mordomias, mas sei que sai algum… Mas olhem que eles parece não terem dinheiro ara trocar a bandeira cuja negritude da poluição já não deixa distinguir o vermelho e o verde…
Perguntei na portaria se poderia entrar e se teria uma tv para assistir o jogo, enquanto passava o tempo para o meu atendimento. Resposta curta e grossa com um sonoro “não!”. Tudo bem, pois ninguém me mandara ir com tanta antecedência e ninguém tem culpa de eu ser tão pontual, ou precavido, nessas coisas… Só fiz mais uma pergunta, sobre se ali por perto haveria um restaurante ou um boteco e foi-me informado que sim a duas quadras dalí.
Fui caminhando e um monte de gente tomava a mesma direção. Eram quase todos funcionários dos vários Consulados que por ali existem. Os do de Portugal tinham essas mordomias dentro das próprias instalações, mas outros não --- a maioria, como o de Angola e cujo país é muito mais rico que o meu…
Cheguei no restaurante “Esquina 9”, com esse nome por se situar na esquina da Av. 9 de Julho com a Av. Estados Unidos. Estava cheio de gente e só se viam as cores do Brasil apesar de ali estarem presentes cidadãos de outros países, como eu. Se torciam para o Brasil ou para Portugal, aí eu desconhecia. Tomei as minhas precauções e isso baseado em passagens anteriores relacionadas com Copas, pois o brasileiro assume um nacionalismo besta nessas oportunidades.
O único lugar disponível, um cantinho virado para a tv mais longínqua. Para lá fui. Até pensei que tenho uma pessoa amiga que não deve morar muito longe dali e que me poderia fazer companhia… Sentei-me, de expressão fechada, aguardando o começo do jogo. Pedi uma cerveja.
Começou o jogo e 3 negrões altos ficaram de pé na minha frente. Conversavam e certifiquei-me, pela conversa, que eram angolanos e funcionários consulares. Chamei um deles à atenção e pedi-lhe que ele e seus colegas se ajeitassem de modo a não me encobrir a visão. Dois deles se encostaram à parede e o outro procurou outro lugar mas, sem antes não deixar de me denunciar: sentiu pela minha pronúncia que eu era português e contou para todo o mundo… Fiquei com uma raiva enorme do “turra filho da puta” e comecei arquitectando o que poderia falar para ele. Talvez que eu tenha conhecido a sua mãe quando estive em Angola antes da independência… Resolvi ignorar. Não me manifestei nas jogadas perigosas contra ou a favor. Fiquei impávido e sereno. Quando faltavam 15 minutos para o final, saí dali.
Fui andando em direção ao Consulado pensando que, àquela hora e porque o jogo acabara, eu já tivesse a entrada franqueada e esperaria o atendimento na sala de espera. Nada disso! Enquanto não badalassem as 14 horas, eles não deixariam ninguém entrar…
Certamente que por causa das cervejas que tomei no restaurante, apoderou-se de mim, de um momento para o outro, uma intensa vontade de mijar. Se eu fôsse crente perguntaria, a alguém em quem acreditasse, onde encontrar um lugar para aquela emergência. Voltei à portaria e expliquei-lhes a minha desesperada situação, solicitando que me cedessem a entrada e uso do banheiro. Não deixaram! Daí para a frente pensei em mijar no meio da rua, numa árvore ou parede. Mas eram câmeras e vigias por todos os lados…
Quando eu percebi 3 operários tapando alguns pequenos buracos na mansão defronte ao Consulado, aproximei-me e perguntei-lhes se não morava ninguém ali. Quiseram saber o motivo da minha pergunta (claro) e eu expliquei-lhes que era cidadão português, dono de uma parte do prédio em frente, que me estava quase mijando nas calças e ninguém me deixava entrar lá, para sair logo depois… Pô! Eles disseram-me para eu entrar ali e usar o sanitário de serviço tranquilamente.
Dali para a frente fiquei mais tranquilo e até a raiva me passou, pois pensei na minha hipertensão arterial. Finalmente entrei e na sala de espera a primeira coisa que vi foi a informação que existia livro de reclamações. Mas pensei que se o usasse iria-me tramar um dia mais tarde. Fui compensado pela rapidez, perfeição e alta tecnologia  com que trataram da minha documentação.
Enquanto estive naquela sala de espera, muitas outras pessoas, portugueses pelos traços, entraram para aguardar também. A última delas, uma senhora de idade avançada, amparada por familiares, foi a única que cumprimentou os demais e, claro, recebeu da minha parte um sorriso e um bem sonoro “boa tarde senhora!” Fui o único que lhe respondeu…
Este último episódio foi para mim uma surpresa porquanto eu sempre assisti a essa falta de educação aqui no Brasil e pensava que na minha terra era diferente. Porque realmente era no meu tempo. Agora é tudo igual; lá e cá pelo jeito. Então, quando outro jogo houver entre Brasil e Portugal, não torcerei para nenhum por falta de algo que faça a diferença…

sexta-feira, junho 18, 2010

Saramago

Esse foi um dos momentos mais marcantes da vida de José Saramago e, consequentemente, na de todos os portugueses. Arrisco a afirmação, na de todos os cidadãos lusófonos. Foi o da entrega do Prémio Nobel da Literatura.
Não por falta de espaço ou de palavras, pouco mais aqui escreverei sobre um dos meus escritores favoritos. Além de escritor admirava-o como pessoa, pois comungava de muitas das suas ideias e ideais. Limito-me a registar aqui o meu profundo sentimento de pesar.

terça-feira, junho 08, 2010

Gastos públicos

A Prefeitura de Campinas montou todo um complexo para que os cidadãos (não sei quais) possam assistir aos jogos da Copa em 4 telões. Toda essa parafernálhia está no Centro de Convivência Cultural.
Votei e depois cliquei no resultado de uma enquete on-line de um jornal local e deu que só 1% dos votantes pretendem  estar naquele recinto nos dias dos jogos. Pô! será que mais uma vez se joga tanto dinheiro pelo ralo?

Andei tirando fotos da área e não poderia ter deixado de passar em branco o estado lastimoso do sanitário público do local. Está naquele estado há mais de 2 meses.

Tenho a certeza que se gastaria muito menos para consertar o entupimento e até para pagar a um vigilante que zelasse pelo património público. Lògicamente que, neste caso, ninguém teria vantagens...

quarta-feira, junho 02, 2010

A Coroa

Lembra a saga do rei português que foi lutar nas Cruzadas, em 1578, e não voltou -e, como se esperava que voltasse, seus sucessores no trono de Portugal tornaram-se guardiões da coroa, jamais a usando na cabeça. A imagem clássica do nosso dom João 6º ao ser aclamado rei, em 1818, mostra-o com a cabeça nua e a coroa a seu lado.
Assim se referia hoje Ruy Castro a El Rei Dom Sebastião na sua crónica do jornal Folha de S. Paulo.
Não foi isso que eu aprendi na escola e ainda pensei que o cronista, por ser brasileiro, não estivesse tão familiarizado assim com a História de Portugal. Mas logo emendei o meu raciocínio na medida em que, naquela época, o Brasil e Portugal eram um país só e, portanto, com a mesma história…
De imediato procurei na minha biblioteca desde os mais elementares livros de história até aos mais sofisticados calhamaços. Todos batiam na mesma tecla e que se resume mais ou menos ao seguinte:
Após a derrota na tão tristemente famosa Batalha de Alcácer Quibir, no norte de África, D. Sebastião não mais regressou a Portugal. Ficou a lenda sobre que reapareceria num dia de nevoeiro. Foi cognominado, por isso, de “O Desejado”.
Nessa sequência e mercê do governo desastroso do Cardeal D. Henrique “O Casto”, perdemos a nossa independência por 60 anos para os espanhois.
Em 1640 a independência foi restaurada por D. João IV “O Restaurador”. O rei ofereceu a coroa de Portugal a Nossa Senhora da Conceição e, a partir dele, todos se faziam retratar  com a coroa a seu lado e não mais sobre a cabeça.
E agora?