domingo, agosto 08, 2010

Extremos

Um dia, do qual muito bem me lembro, incitado por alguns dos mais velhos dos meus amigos, fumei o meu primeiro cigarro, ou tentei fumá-lo, pois a primeira vez é sempre dramática e a tentativa acaba naquela típica bebedeira tabagista. A marca do cigarro, sem filtro, era Sporting.
Naquele ano tinham sido lançadas no mercado português 3 marcas homenageando clubes --- “Benfica”, “Sporting” e “Porto”. Coloquei aqui pela ordem decrescente com relação a campeão na época…
Como o “Sporting” não tinha filtro, era por isso o mais barato e, consequentemente, o obtido pelo grupo de gaiatos. Eu tinha 9 anos e a maioria andava por aí. Uns dois ou três teríam mais 2 ou 3 anos e, claro, os incentivadores…
Fumei várias marcas como “Definitivos”, “Avis”, “Paris”, “Português Suave”, “Vic”, “Gouloise” e “SG”, este último com filtro. O “Gouloise” era de rebentar os queixos, fortíssimo e francês. O “Paris” também era forte entre os portugueses. Eu preferi, não sei porquê e durante muito tempo, os tabacos fortes. No Brasil comecei com o “Continental” sem filtro, passei para o com filtro e terminei com o “Hollywood” com filtro.
O cigarro é ruim! Sim, ele faz mais mal do que bem ou talvez mesmo ele só faça mal. Mas, quantos e quantos momentos de agitação, de contemplação, meditação, desilusão, decepção e noutras situações ele foi o grande companheiro!? --- Mas minha mãe sempre me alertava para os malefícios. Até mesmo já depois de velho, quando pelo telefone com ela converso. Na semana passada, pelo seu aniversário, comuniquei-lhe que, finalmente, tinha tomado essa difícil decisão de parar de fumar e consegui.
Decidi que jamais colocaria um cigarro nos lábios naquele dia que passeava com o meu cachorro e me comecei a sentir mal. Notei que a pressão baixara e quase desmaiei; vi bolinhas de sabão zuando na minha frente… Isso me abriu os olhos para ir no médico e foi constatado o problema de agravamento da hipertensão. Agravamento, porque nestas andanças nos serviços de saúde do Estado, o cidadão que não tem posses para pagar um plano de saúde particular, sempre se dá mal… Também não é hora de abordar temas da política e, assim, passo à frente.
Muito tempo passado até que consultei com um cardiologista. A primeira vez na vida que procurei um especialista em algo. O diagnóstico não foi bom, pois eu tinha I.C.C. --- Insuficiência Cardíaca Congestiva, traduzido como coração dilatado e incapaz de bombear normalmente. E se eu já tinha dificuldades de dormir, isso para mim passou a ser um tormento, tanto pela reação aos medicamentos que passei a tomar, como ao estado psicológico que se estabeleceu. Fôram dias terríveis agrupando uma série de questões a apresentar no dia do retorno, ante-ontem.
Finalmente retornei. Fui avaliado e tive todas as perguntas respondidas. Até a que fiz sobre quanto tempo eu iria tomar aquele grupo de 4 comprimidos, cuja resposta, bombástica, foi que “para a vida inteira!”. Saí arrasado daquele consultório e pensando numa segunda opinião com outro profissional. Acho que todos pensam assim.
Passei mais uma noite em branco e me senti mal durante todo o dia de ontem. Resolvi que me levassem nas urgências do principal hospital da cidade. Os primeiros cuidados fôram prestados, novos exames fôram feitos. Depois fui parar no gabinête de um clínico de plantão que tudo avaliou.
Este médico, calmamente e com muita firmeza me explicou todo o quadro e, entre outras coisas referiu que 56 anos de cigarro detonaram o meu coração e ele só está batendo por causa dos comprimidos que eu estou tomando e isso porque ainda procurei um cardiologista a tempo. Resumiu que eu estou no bico do corvo e devo-me cuidar enquanto der.
A partir desse momento comecei a sentir-me mal, muito mal. O médico percebeu, mediu a pressão e aquela de 16 x 8 da entrada, estava agora em 7 x 4. Fui para as emergência e conseguiram que eu não apagasse definitivamente.
É assim. Numa crónica diferente que não sei por quem e por quantos será lida, abordei o que se passou entre dois extremos e a todos os fumantes sugiro que parem de fumar enquanto é tempo.

1 comentário:

dor@ disse...

Faço minhas as palavras de Transtago:
"Nao pediste para nascer, sabes la quando vais morrer. Aproveita enqunto ca andas..."
Mas sei, estou certa que ainda andarás muito por cá.
Ainda vamos, os tres, tomar muitos copos em Portugal, espera e verás!!!
Só precisas te cuidar mais...