No passado dia 29 de Fevereiro faleceu em Odivelas
(Portugal) o sr. José Aldeia Soares, que teria entre 65 a 67 anos. Não consegui
obter a sua data de nascimento mas, pela época que entrou no exército,
enquadro-o na minha faixa etária que é essa.
Afinal, quem foi José Aldeia Soares? --- Ele foi um
soldado de Cavalaria mobilizado para cumprir uma comissão de dois anos na então
Província Ultramarina da Guiné.
A Companhia de Cavalaria 1748 a que pertencia,
embarcou para a Guiné em 20 de Julho de 1967 onde chegou no dia 25, ficando
instalada em Bissau, com a missão de protecção e segurança das instalações e
das populações da área.
Entre 12 e 20 de Setembro desse ano, escalonadamente,
seguiu para Bula, afim de efectuar o treino operacional, tomando parte de patrulhamentos,
emboscadas e batidas nas regiões de Inquida, Quitamo, Blequisse e Bofe,
recolhendo a Bissau em 6 de Outubro de 1967.
Em 8 desse mês a companhia assume a responsabilidade
pelo subsector de Contubuel, destacando pelotões para Sare Bacar e Sumbungo,
sendo este deslocado para Geba e posteriormente para Dulo-Gengele.
Em 18 de Fevereiro de 1969 a subunidade é rendida,
fica transitoriamente em Bissau e segue mais tarde para Farim, onde assume a
responsabilidade deste subsector, integrado no dipositivo do Comando
Operacional nº 3, até 1 de Julho de 1969. Regressa à Metrópole em 7 de Junho
desse mesmo ano.
Na foto aqui publicada, José está à nossa direita e a
seu lado o seu irmão António que foi combatente em Angola.
Gostaria de ter uma foto dos dois, daquele tempo em
que foram valorosos soldados, mas não consegui e acredito que seja uma tarefa
muito difícil. Cavalaria, por exemplo, era uma Arma de elite e à qual eu também
pertenci. O José certamente que estaria imponente e galhardo numa foto
contemporãnea. Infelizmente, a exemplo de outros meios de comunicação, a foto
disponível é esta e mostra uma terrível realidade --- a dos Antigos Combatentes
Sem-Abrigo.
São algumas centenas de camaradas que preambulam por
esse país fóra (Portugal) ou que vivem em praças e jardins ou sob as marquizes
dos prédios. Encontramo-los fàcilmente. Se um indivíduo nessa condição
aparentar ser sexagenário, podemos ter a certeza de que se trata de um antigo
combatente que acreditou estar defendendo o território pátrio num qualquer dos
5 continentes... Ninguém escapava a uma dessas missões.
Os sucessivos governos jamais se preocuparam em
providenciar os vários tipos de assistência a que esses antigos soldados têm
direito e de muito precisam. Uma "pensão de guerra" deveria ser atribuída
a cada um de todos nós que démos 4 anos das nossas vidas no serviço militar com
todas as consequências pessoais negativas. Uma assistência médica gabaritada e
constante, principalmente aos traumatizados, seria mais importante ainda.
Infelizmente não temos nada disso e mostraram essa realidade estes dois irmãos
da foto.
Num apêndice, lembro aqui que muitas vezes, na minha
idade de criança, via andar pelas ruas de Estremoz um senhor mal cuidado a que
todos chamavam de "gaseado". Era como uma alcunha e a maioria,
como eu, não fazia a mínima ideia do porquê da mesma. Anos mais tarde, juntando
todas as peças, descobri que aquele senhor fôra um dos soldados portugueses que
combateram na França e, devido às bombas de gás ficou gaseado. Vê-se aqui a
ausência da devida assistência por parte do governo de antanho e leva-nos a
confirmar que todos fôram e continúam sendo omissos.
Agora o António continúa sózinho lá em Odivelas
aguardando o momento de se juntar nòvamente ao seu irmão José.
Quem sabe se um dia um governo decente olha para essas
mazelas e imita os de outros países que também tiveram as suas guerras e tratam
os seus antigos combatentes como herois e com dignidade.
Um grande abraço ao camarada José Aldeia Soares com o
desejo que, finalmente, descanse em paz.
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