Gosto muito de ver as charges do "Zé da fisga" publicadas em páginas dos veteranos militares portugueses. E hoje, enquanto apreciava a da ilustração da minha crónica, afloraram-me recordações dos tempos em que prestei serviço militar no Destacamento da Ameixoeira (Forte da Ameixoeira), em 1967.
Normalmente o Oficial de Dia andava desarmado e só colocava o cinturão com a pistola Walter ou a Parabellum nas formações da Parada ou no evento do hastear e arriar da bandeira. E ali, na parte externa do Destacamento, só portava o seu bastão ou vergalho, uma velha tradição da cavalaria copiada pelos de outras armas e serviços, principalmente os denominados "chicos", os militares de carreira.
Aqui na ilustração, fazendo uma pequena alteração nas divisas (galões), colocando os 3 traços rectos e não em forma de vê, teríamos, fiel, a imagem do capitão que, naquela época, era também o comandante do Destacamento. Esqueci o seu nome e só me lembro que era escritor, autor de pelo menos um livro --- "Cartas de Angola". Lembro-me, sim, que ele tinha residência para os lados da linha de Cascais. O outro capitão era o Amorim que vivia nas Galinheiras.
Eu era Cabo Miliciano e seria promovido a Furriel assim que embarcasse para o Ultramar. Por isso mesmo, os Cabos Milicianos faziam todo o serviço dos Sargentos.
Ainda no campo das adaptações na ilustração, em vez da fisga no bolso imagine-se uma daquelas mesmas pistolas referidas e em vez da morena africana a bela Belarmina que todas as tardes ali passava de regresso a sua casa na Azinhaga das Galinheiras, vindo do serviço que tinha lá para os lados de Alvalade.
Todas as tardes Belarmina comigo conversava durante algum tempo nos dias em que eu estava de Sargento de Dia ou Sargento da Guarda. Nos outros dias encontrávamo-nos no Café do Raimundo.
Quando o Oficial de Dia não era o Comandante do Destacamento e sim o Capitão Amorim ou algum dos Alferes e Aspirantes, tudo corria às mil maravilhas. Mas quando o meu serviço coincidia com o do Comandante, saía faísca no relacionamento, pois eu também não era flor que se cheirasse... E foi numa dessas ocasiões em que eu estava num papo gostoso com Belarmina que ele, acho que num acesso de ciúmes ou inveja, simplesmente me proibiu de ficar lá fóra e só desempenhar as minhas funções intra muros.
Jamais nutri ódio por ele. Certamente já não está entre os vivos, pois a diferença de idades era enorme. Todavia, confesso que já procurei o seu livro na Internet, mas sem sucesso.
Jamais reencontrei algum dos camaradas daquele tempo. Só uma vez reencontrei Belarmina quando regressei de Timor.
Assim, uma simples charge encontrada na Internet, se adapta tão perfeitamente a situações por mim vividas há tanto tempo.
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