domingo, junho 29, 2014

Correios

Os serviços dos Correios no Brasil estão pela hora da morte, expressão popular que usamos na classificação de algo que não vai bem, ou mesmo que vai muito mal.
Eu, como usuário assíduo e de grande potencial, durante toda a minha vida, tenho a natural percepção da qualidade dos serviços oferecidos. Por isso mesmo, li interessadamente um artigo publicado na edição de Domingo -- 22 de Junho de 2014 -- da Folha de S. Paulo e que transcrevo a seguir em itálico:

Negócio em Crise

Com a entrega de cartas cada vez menor, Correios têm problema de eficiência e mudam o foco para serviços de logística, financeiros e até de telefonia.
Entregando cartas e pequenas encomendas, os Correios transformaram-se numa das maiores empresas do país. Nunca foi tão difícil, contudo, manter tal posição.
O principal negócio da companhia --a distribuição de correspondências --míngua a cada dia, e a estatal, com isso, passou a enfrentar uma crise de eficiência.
Desde 2009, as receitas cresceram 35%, chegando a R$ 16,7 bilhões, mas os custos aumentaram 60%. No ano passado, o lucro foi de parcos R$ 300 milhões, uma forte queda ante o mais de R$ 1 bilhão obtido em 2012.
"O resultado neste ano será igual ou até mais baixo", diz Wagner Pinheiro, presidente dos Correios, à Folha. "Mudamos de patamar. Fazíamos investimentos muito baixos e estávamos ficando com uma estrutura cada vez mais velha. Revertemos isso."
A estatal sabe que, daqui para frente, será preciso cortar gastos, elevar investimentos e, por fim, mudar completamente a cara do negócio.
Neste ano, a meta é reduzir em R$ 600 milhões as despesas, o equivalente a mais de 20% dos gastos de 2013.
Para isso, a empresa contratou a consultoria de Vicente Falconi, uma espécie de guru da gestão no país. Pagou quase R$ 30 milhões para aprender a não gastar tanto. "Vamos rever a contratação de fornecedores, os serviços de terceiros, renegociar contratos. Apertar os cintos de verdade", diz Pinheiro.

Novo foco
Para sobreviver, não bastará, porém, tornar-se uma estatal mais enxuta. A ideia é transformar os Correios numa companhia de logística, aproveitando a expansão do comércio eletrônico no país.
A estatal já mantém parcerias com varejistas como Magazine Luiza e Ponto Frio, mas quer avançar no segmento com a marca Correios Cargo. Em análise, está a chegada de um sócio para ajudar a companhia nos planos de expansão. "É um mercado potencial de mais de R$ 150 bilhões ao ano", diz Pinheiro.
Segundo ele, mais de 70% das receitas dos Correios virão do segmento de logística e entrega de encomendas no futuro. O restante deve vir de produtos financeiros, serviços postais eletrônicos e até mesmo da telefonia móvel.
A ideia é que os novos braços de atuação sejam explorados sempre com um sócio. Os investimentos no Banco Postal, que passará a oferecer crédito neste ano, serão feitos com o Banco do Brasil.
A entrada no segmento de certificação digital, e-mail e digitalização de documentos acontecerá em parceria com a Valid, que atua no segmento de meios de pagamento, como produção de cartões.

Já a incursão em telefonia ocorrerá com a Poste Italiane, os correios da Itália. A estatal espera começar a vender seus primeiros chips de celular ainda em 2014. Será uma "operadora virtual", utilizando a infraestrutura de uma empresa de telefonia já estabelecida no país.
Os investimentos, contudo, só devem começar a refletir no resultado da companhia em 2016.

Não poderia perder, de maneira alguma, a oportunidade de me manifestar e, por isso, enviei ao jornal a minha opinião. A mesma foi publicada dois dias depois no seu "Painel do Leitor":

Correios Tudo o que foi informado na reportagem "Negócio em crise" ("Mercado", 22/6), sobre a situação dos Correios, não surpreendeu ninguém. A gestão da empresa é péssima, e os serviços são um verdadeiro descalabro. Faltou, porém, comentar as constantes greves que muito afetaram a vida do cidadão comum. Ainda hoje sinto os efeitos maléficos, principalmente no que concerne ao pagamento de contas e outros problemas. Não sei por que não se toca no assunto de uma desejável privatização.
Cláudio Francisco Portalegre Trindade (Campinas, SP)


Hoje, com grande surpresa minha, notei que foi publicada no mesmo "Painel do Leitor" uma réplica ao meu comentário:

Correios Em relação à carta de Cláudio Francisco Portalegre Trindade (Painel do Leitor, 24/6), nós esclarecemos que, dentre quase 200 correios do mundo, apenas cinco são hoje privados: Cingapura, Líbano, Malásia, Malta e Holanda --nações que têm em comum pequenas área geográfica e população.
Os maiores operadores postais do mundo optaram pelo caminho de revitalização e de diversificação de atividades, também seguido pelo Brasil.
Thelma Kai, gerente de representação institucional dos Correios (Brasília, DF)


Naturalmente que este assunto é dado por mim como terminado no universo "Folha de S. Paulo, Leitor e Correios". Opto pelo uso do meu blog e compartilhamento nas páginas sociais como o Facebook e Twitter. A razão disto é uma certa espécie de censura que prevalece, pois os meios de comunicação preterem críticas aos seus grandes patrocinadores comerciais... Até me admirei quando o jornal publicou o meu comentário.
No que respeita à réplica da senhora Thelma Kai, só me resta dizer que não me surpreendeu a sua incoerência e manifestação de cunho político. Todos sabemos que a Empresa é normalmente presidida por um político de carreira da base aliada do Governo.
As greves nos Correios são frequentes e as duas últimas, pouco espaçadas uma da outra, duraram 45 dias. É fácil imaginar o enorme prejuízo que uma greve tão prolongada acarreta a toda a sociedade.
Lembro-me de facto recente quando uma Embaixada e Consulados de um certo país tentaram optar por outro meio, que não os Correios, para expedição de cartas relativas à emissão de passaportes. O freio a essa opção foi imediato, pois os Correios têm o monopólio desse serviço. Para o envio de encomendas existe a possibilidade de escolha, mas o mesmo não acontece com a correspondência. Esse é o grande problema!
Quando da última greve, montei uma espécie de cartaz que postei no Facebook. A finalidade era propagar o descontentamento da população e acreditando que a ideia abrangeria um grande número de pessoas. Era um protesto coerente e válido, mas sumiu da página inexplicàvelmente...
Desta vez o meu comentário no jornal focou a privatização, pois não vejo possibilidades de acabar com esse monopólio a não ser através da mesma.
O uso de cartas tem um decréscimo cada vez maior, mercê das facilidades e da rapidez que a internet nos oferece. Porém, existe uma notória parte da população que ainda necessita dos serviços dos Correios e até mesmo a parte dos que têm acesso aos meios informáticos não conseguem prescindir de alguns.
Não se pode admitir que uma carta, que há anos atrás demorava 5 dias de São Paulo a Lisboa e vice versa, demore actualmente 25 e isso em época sem greve. E ainda há casos muito piores como comprovo nas ilustrações seguintes em que uma carta registada em Évora (Portugal) no dia 18/03/2013, chegou ao destino Campinas (Brasil) no dia 09/05/2013; quase dois meses. Antigamente, de navio pelo Colix Posteau, não demorava mais que 15... Poderia dar outros exemplos, mas fico por aqui, pois é suficiente.
Só tenho a lamentar que as últimas manifestações a que assistimos no Brasil não coloquem em pauta o descontentamento com os serviços dos Correios exigindo o fim do monopólio ou a privatização dos mesmos.






 






 




 
 
 

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