sexta-feira, novembro 25, 2016

Romãs


Acredito que uma das coisas mais gostosas da vida é, com quase 100 anos de idade, voltar a fazer algo que muito fiz na minha infância --- "roubar" fruta do quintal alheio.

Lembro-me tão bem como se hoje tivesse acontecido que, naqueles tempos de tenra idade, na minha cidade natal de Estremoz (Portugal), subia o muro do quintal da D. Conceição, atrás da Rua dos Telheiros, e lá mesmo abocanhava aquelas  lindas e saborosas romãs. Enormes e muito doces. Rachadas de  maduras, era porta de entrada para as formigas que eu acabava  de incluir no bolo alimentar e saborear. Só me apercebia de  algo diferente por causa de um gostinho acre. Dizia-se que  comer formiga fazia os olhos bonitos e talvez seja por isso que  eu me envolvi com algumas belas mulheres muitos anos mais  tarde...

 Há anos que na minha rua, aqui no Brasil, existe um terreno  murado cheio de árvores de frutos diversos, de muitas espécies; pitangas, carambolas, nêsperas, ameixas, laranjas, limões, acerolas, romãs, etc., etc., tudo perdido porque o proprietário faleceu e os herdeiros só esporàdicamente aparecem.

Nunca liguei para aquela fartura e tão pouco alguma vez pensei em pular o muro. Mas lamentava o desperdício quando pensava na multidão de pessoas carentes ávidas de saborear algo a que não têm acesso.

Mercê de um problema de saúde que carrego e para o qual a romã é um dos melhores "medicamentos" naturais, que dizem ser muito eficaz, comprei alguns desses frutos importados, muito caros, e comecei a "namorar" aquelas amadurecendo por cima do muro...

Lembrei-me que tinha um cano de ferro bem comprido entre os badulaques que costumo guardar. Tinha, também, um suporte de extintor da minha velha kombi. Cortei este e soldei-o naquele. Fiz uma garra longa e nenhuma romã escapou. Todas maduras, inclusivamente as bem pequenas. Ainda por lá ficaram muitas mais a aguardar-me para uma segunda apanha...

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