terça-feira, abril 27, 2021
domingo, abril 25, 2021
Revolução dos Cravos
A MULHER que fez do cravo o símbolo do 25 de abril de 1974
quarta-feira, abril 21, 2021
terça-feira, abril 20, 2021
Nova Portugalidade
Quando acordará o Brasil?
segunda-feira, abril 19, 2021
sábado, abril 17, 2021
quinta-feira, abril 08, 2021
quarta-feira, abril 07, 2021
segunda-feira, abril 05, 2021
quinta-feira, abril 01, 2021
Esteva
Esteva, a majestosa flor de cinco pétalas brancas
Todo o bom alentejano conhece o cheiro mediterrânico da esteva e a sua
majestosa flor de cinco pétalas brancas, adornadas por uma unha
castanho-avermelhada no seu interior. O que alguns talvez não saibam, é
que esta planta pertence a uma família botânica designada
CISTACEAE e que o seu nome singular e universal, é Cistus ladanifer L.. Pois é, à
esteva chamam-lhe muitos nomes: xara, roselha-branca,
cinco-chagas-de-cristo, estepa negra, jara de las cinco llagas ou txaraska se formos até espanha, e terá
tantos outros, conforme quem os disser e onde.
Os nomes comuns são pouco fiáveis Aqui verificamos
que os nomes comuns, podem ser pouco fiáveis, já que variam conforme a
geografia e o interlocutor. O mesmo acontece com todas as espécies de
plantas vasculares (as que têm canais vasculares por onde circula a seiva), de
modo que “chamar as coisas” (espécies ou taxa) pelo seu nome
(científico) é sempre o mais certeiro. Os nomes científicos apresentam
sempre em primeiro lugar o nome do género, neste caso Cistus, que possivelmente
deriva do grego kíste “cesto” ou do
latim cista “cesta, caixa”, devido à semelhança dos seus
frutos com estes objetos.
ESTEVA: O ÓLEO AROMÁTICO Segue-se o epíteto específico, que dá o nome à espécie propriamente dita (já que um género pode comportar um elevado número de espécies diferentes). Para a xara, é ladanifer. A origem deste epíteto, deve-se ao ládano ou lábdano, a resina aromática e peganhenta que a planta segrega e que lhe dá o seu aroma tão caraterístico. Este óleo aromático (como a maioria dos óleos essenciais, ou seja, produzidos pelas chamadas plantas
aromáticas), serve para a esteva se proteger da perda de água e da dissecação, já que o clima Mediterrânico, de estios quentes e secos, onde a espécie ocorre naturalmente (Península Ibérica e Sul de França) é propício a tais fenómenos.
Esteva:
uma planta aguerrida e solitária, muito resistente a perturbações ambientais
O óleo, figura
ainda no conjunto de estratégias adaptativas e de desenvolvimento da planta,
pois a xara, perdão, o Cistus ladanifer, é uma planta
aguerrida e de poucas conversas, muito resistente a perturbações ambientais,
como os fogos, desbastes rasos e até contaminações do solo com metais pesados,
sendo, pois, não raras vezes, a primeira a aparecer e mesmo a única a existir,
durante muitos anos em determinado local. Sobrevive em ambientes inóspitos e
prospera na adversidade, talvez porque se adaptou a viver e florir, onde muitas
outras plantas, mais sensíveis aos rigores climáticos e exigentes nos seus
requisitos ecológicos, simplesmente não vingam para ver a luz do dia!
A esteva, uma valente solitária: não aprecia a companhia de outras espécies
Como é colonizadora de novos espaços, incluindo solos pobres e pouco
evoluídos que não são apropriados à agricultura, e por norma, não aprecia muito
a companhia de outras plantas, sendo poucas as exceções, usa ainda os seus
fluidos como substâncias alelopáticas (que inibem o crescimento de outras
espécies, na sua proximidade). Não é por isso de espantar, que no Alentejo existam
tantos estevais, alguns mais altos que um homem alto (ou dois baixos) e tão
cerrados como um matagal! Aqui não há novidade, a expressão “ir fazer qualquer coisa atrás das estevas” é ou
não é tipicamente alentejana?!
O
género e o epíteto
O género e o epíteto específico são normalmente escritos em itálico,
remetendo à sua classificação primordial em latim. E é de seguida que
aparece o classificador, ou seja, a identificação da pessoa que primeiramente
identificou e descreveu uma determinada espécie. Neste caso, o L. é um
diminutivo de Carolus Linnaeus (para nós, o Lineu), considerado o “pai” da
nomenclatura binomial ou binária, no século XVIII. Uma espécie, pode
ainda dividir-se em diferentes subespécies.
O Cistus ladanifer L. subsp. ladanifer, que é presença
comum em matos secos e de zonas quentes, no sob coberto de sobreirais e
azinhais (ou de montados) e em pinhais, e que, como antes dito, prefere solos
pobres e ácidos (derivados de xistos, granitos, arenitos ou calcários
descarbonatados).
Só para lançar mais
umas achas à fogueira, também existem Cistus ladanifer L. subsp. ladanifer com flores
totalmente brancas, sendo esta a forma albiflorus (Dunal) Dans..
Neste caso, as cinco-chagas-de-cristo (que representam a f. maculatus (Dunal) Samp.),
talvez sejam melhor nomeadas por roselhas-brancas!
Exclusiva do Litoral Alentejano
Mas, existe outra subespécie em Portugal, que habita os matos costeiros
sobre arribas do litoral, mais frequente em solos arenosos que assentam em
rochas calcárias. É a subsp. sulcatus (Demoly) P.Monts.
(o que nem todos os botânicos aceitam, já que muitos a consideram como sendo uma espécie
particular, o Cistus
palhinhae Ingram). A “esteva-da-costa” (inventei agora este nome, porque me parece
adequado, e, já que uma vantagem dos nomes comuns é esta liberdade – talvez um
pouco anárquica – que se guia pela lógica e opinião de cada um), é mais
baixinha e robusta. Parece ser um pouco mais sociável e apresenta-se como um arbusto de
formas arredondadas, de folhas menos longas e flores algo menores, e, quase
sempre imaculadas, como seria de esperar de uma pura-seiva lusitana!
A
esteva uma valente solitária: existem no Alentejo diferentes espécies
É que o Cistus palhinhae (assim nomeado em homenagem ao grande botânico português, açoriano da Ilha Terceira, Ruy Telles Palhinha) é um endemismo português, significando este palavrão que a ocorrência e distribuição natural desta planta em todo o globo terrestre, é restrita a uma estreita faixa litoral em Portugal Continental, ao longo do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (tem bom gosto!).
Segredos, no Litoral Alentejano
Poucos saberão que
começa logo a aparecer aos caminhantes que se aventurem a percorrer os caminhos
junto às arribas entre Porto Côvo e a Ilha do Pessegueiro, meia escondida nos matos costeiros
dominados por Stauracanthus sp., por entre
ERICACEAE, Halimium sp., Helichrysum sp. e outros Cistus sp..
A
maioria das ameaças são humanas
Esta planta chega ao sudoeste algarvio e, a Norte, existirão algumas
populações “desgarradas” para as bandas de Peniche. Dado o seu estatuto
especial, é protegida por lei e mencionada na “Diretiva Habitats” que foi
criada especificamente para proteger espécies de animais e plantas e as suas
comunidades, dentro do espaço europeu, que, tal como esta beldade, se encontram
ameaçadas. Infelizmente, a maioria destas ameaças são de origem humana, derivadas,
por exemplo, da introdução de espécies exóticas que se tornam invasoras (como o
chorão, Carpobrotus edulis L.) roubando o habitat, espaço
e recursos, das plantas nativas.
A
esteva: floração
No Sul de Portugal,
o Cistus
ladanifer normalmente começa a florir em finais de março, sendo a floração
nas zonas do Norte onde existe (áreas de clima mediterrânico, como
Trás-os-Montes) um pouco mais tardia (abril-maio), prolongando-se até junho. Este ano, porém,
talvez devido a uma primavera antecipada, um pouco por todo o Alentejo já se
encontram desde há algumas semanas, uns salpicos do branco das vistosas flores,
e, tudo faz crer que o pico de floração da espécie, estará para breve.
Quem se compraz, para além das vistas, são as várias espécies de insetos
polinizadores, que, esfomeados se alimentam do seu néctar, e em troca, ajudam a
planta na sua reprodução.
Os usos ancestrais
da esteva uma valente solitária
· PONTO 1 Os usos ancestrais do Cistus ladanifer ladanifer,
incluem a utilização da sua lenha nos fornos de cozer o pão e outros alimentos
(já que, para além de ser muito combustível, liberta um agradável aroma) e
vários usos medicinais.
· PONTO 2 De facto, os antigos já sabiam que esta planta pode ser utilizada numa
quantidade quase infindável de tratamentos: para diminuir o catarro e como
expetorante, que o seu aroma é equilibrador de emoções, facilita a menstruação,
coagulante, antibacteriana e antiviral, combate a diarreia, auxilia na
circulação venosa, é descongestionante, desinfetante e analgésica! Mas atenção, já
que, devido às suas propriedades emenagogas (potencialmente abortivas) e
coagulantes, deverá ser usada com precaução (pois poderá originar problemas cardíacos
ou respiratórios).
· PONTO 3 Ao que parece, Alentejanos e Algarvios tradicionalmente também usam o
seu óleo essencial para eliminar o mau cheiro dos pés! E
não são poucas as aplicações cosméticas e como fixador de perfumes que se lhe
dá, na atualidade.
· PONTO 4 Em forma de despedida, uma informação que aos mais aventureiros de
palato, servirá: as pétalas da esteva são comestíveis, frescas ou desidratadas!
Não é, pois, difícil, imaginar novas possíveis aplicações gourmet para esta planta carismática, de pétala
com sabor suave e adocicado nas suas máculas (eu provei e gostei!).
· PONTO 5 Sem mais novidades e com o cheiro quente da esteva a pairar-me na
memória, convido-vos a (re)descobrir esta rústica, cuja flor parece tão frágil
quanto é bela, mas que esconde mais do que aparenta, sendo na realidade, uma
valente solitária, que em si contém e reflete na perfeição, muita da bravura e
resiliência do Homem e do Território
Alentejanos.