domingo, abril 25, 2021

Revolução dos Cravos


 A MULHER que fez do cravo o símbolo do 25 de abril de 1974

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Em 1974 Celeste Caeiro tinha 40 anos e vivia num quarto que alugara no Chiado, com a mãe e com a filha. Trabalhava na rua Braancamp, na limpeza do restaurante Franjinhas, que abrira um ano antes. O dia de inauguração fora precisamente o 25 de Abril de 1973. O gerente queria comemorar o primeiro aniversário do restaurante oferecendo cravos à clientela. Tinha comprado cravos vermelhos e tinha-os no restaurante, quando soube pela rádio que estava na rua uma revolução. Mandou embora toda a gente e acrescentou: "Levem as flores para casa, é escusado ficarem aqui a murchar".
Celeste foi então de Metro até ao Rossio e aí recorda ter visto os "chaimites" e ter perguntado a um soldado o que era aquilo.
O soldado, que já lá estava desde muito cedo, pediu-lhe um cigarro e Celeste, que não fumava, só pôde oferecer-lhe um cravo. O soldado logo colocou o cravo no cano da espingarda. O gesto foi visto e imitado.
No caminho, a pé, para o Largo do Carmo, Celeste foi oferecendo cravos e os soldados foram colocando esses cravos em mais canos de mais espingardas.
Fonte: RTP

África

terça-feira, abril 20, 2021

Nova Portugalidade

 Quando acordará o Brasil?

A língua portuguesa, contrariando os mais negros vaticínios, cresceu acompanhando a espantosa ascensão do castelhano. Em África, sobreviveu e cresce enquanto língua veícular, língua de poder e selecção de quadros. Na América do Sul, já se estuda e fala no Uruguai, na Argentina e Paraguai, acompanhando a emergência do Brasil e satelização das economias circunvizinhas. Nos EUA, são tantos os departamentos e leitorados de português que dir-se-ia vivermos uma verdadeira primavera de florescência de vocações. Na Ásia, sobretudo na China e Japão, mas também na Coreia e Índia, o português foi-se afirmando empurrado pelas trocas comerciais entre o Brasil e essas grandes potências económicas e pelo crescente interesse pela cultura brasileira, da mais duvidosa - que conquista sucessivas editoras e milhões de leitores, como é o caso de Paulo Coelho - à mais cativante. O timbre e os ritmos brasileiros inundam a "música enlatada" em supermercados, aeroportos, consultórios médicos, centros comerciais e programas de entretenimento facultados pelas companhias aéreas; o cinema brasileiro ganhou vastos mercados; o estilo brasileiro, com o seu toque de exótico e colorido, prendeu muitos amantes do diferente.
Contudo, o Brasil, inerte e incapaz de projectar o seu grande potencial, continua comodamente a viver do esforço português. É inacreditável que esta inércia continue sem que as nossas autoridades elejam o tema como tópico para uma das habituais cimeiras luso-brasileiras. O Instituto Camões, quase falido, vai trabalhando por esse mundo fora para a diplomacia económica brasileira. O Brasil não tem um leitorado, uma revista cultural, um programa de ensino da língua comum, nem se predispôs enviar mais que 50 míseros professores para Timor-Leste, contrastando com os 150 portugueses que ali desenvolvem verdadeira missionação linguística há mais de quinze anos. É um escândalo que tal gigante se reduza voluntariamente ao papel de colosso sem vontade.
MCB
https://www.facebook.com/jose.barbarabranco





quinta-feira, abril 01, 2021

Esteva

 


Esteva, a majestosa flor de cinco pétalas brancas

Todo o bom alentejano conhece o cheiro mediterrânico da esteva e a sua majestosa flor de cinco pétalas brancas, adornadas por uma unha castanho-avermelhada no seu interior. O que alguns talvez não saibam, é que esta planta pertence a uma família botânica designada CISTACEAE e que o seu nome singular e universal, é Cistus ladanifer L.. Pois é, à esteva chamam-lhe muitos nomes: xara, roselha-branca, cinco-chagas-de-cristo, estepa negrajara de las cinco llagas ou txaraska se formos até espanha, e terá tantos outros, conforme quem os disser e onde.

Os nomes comuns são pouco fiáveis Aqui verificamos que os nomes comuns, podem ser pouco fiáveis, já que variam conforme a geografia e o interlocutor. O mesmo acontece com todas as espécies de plantas vasculares (as que têm canais vasculares por onde circula a seiva), de modo que “chamar as coisas” (espécies ou taxa) pelo seu nome (científico) é sempre o mais certeiro. Os nomes científicos apresentam sempre em primeiro lugar o nome do género, neste caso Cistus, que possivelmente deriva do grego kíste “cesto” ou do latim cista “cesta, caixa”, devido à semelhança dos seus frutos com estes objetos.

ESTEVA: O ÓLEO AROMÁTICO Segue-se o epíteto específico, que dá o nome à espécie propriamente dita (já que um género pode comportar um elevado número de espécies diferentes). Para a xara, é ladanifer. A origem deste epíteto, deve-se ao ládano ou lábdano, a resina aromática e peganhenta que a planta segrega e que lhe dá o seu aroma tão caraterístico. Este óleo aromático (como a maioria dos óleos essenciais, ou seja, produzidos pelas chamadas plantas


aromáticas
), serve para a esteva se proteger da perda de água e da dissecação, já que o clima Mediterrânico, de estios quentes e secos, onde a espécie ocorre naturalmente (Península Ibérica e Sul de França) é propício a tais fenómenos.

Esteva: uma planta aguerrida e solitária, muito resistente a perturbações ambientais

O óleo, figura ainda no conjunto de estratégias adaptativas e de desenvolvimento da planta, pois a xara, perdão, o Cistus ladanifer, é uma planta aguerrida e de poucas conversas, muito resistente a perturbações ambientais, como os fogos, desbastes rasos e até contaminações do solo com metais pesados, sendo, pois, não raras vezes, a primeira a aparecer e mesmo a única a existir, durante muitos anos em determinado local. Sobrevive em ambientes inóspitos e prospera na adversidade, talvez porque se adaptou a viver e florir, onde muitas outras plantas, mais sensíveis aos rigores climáticos e exigentes nos seus requisitos ecológicos, simplesmente não vingam para ver a luz do dia!

A esteva, uma valente solitária: não aprecia a companhia de outras espécies


Como é colonizadora de novos espaços, incluindo solos pobres e pouco evoluídos que não são apropriados à agricultura, e por norma, não aprecia muito a companhia de outras plantas, sendo poucas as exceções, usa ainda os seus fluidos como substâncias alelopáticas (que inibem o crescimento de outras espécies, na sua proximidade). Não é por isso de espantar, que no Alentejo existam tantos estevais, alguns mais altos que um homem alto (ou dois baixos) e tão cerrados como um matagal! Aqui não há novidade, a expressão “ir fazer qualquer coisa atrás das estevas” é ou não é tipicamente alentejana?!

O género e o epíteto

O género e o epíteto específico são normalmente escritos em itálico, remetendo à sua classificação primordial em latim. E é de seguida que aparece o classificador, ou seja, a identificação da pessoa que primeiramente identificou e descreveu uma determinada espécie. Neste caso, o L. é um diminutivo de Carolus Linnaeus (para nós, o Lineu), considerado o “pai” da nomenclatura binomial ou binária, no século XVIII. Uma espécie, pode ainda dividir-se em diferentes subespécies.

Cistus ladanifer L. subsp. ladanifer, que é presença comum em matos secos e de zonas quentes, no sob coberto de sobreirais e azinhais (ou de montados) e em pinhais, e que, como antes dito, prefere solos pobres e ácidos (derivados de xistos, granitos, arenitos ou calcários descarbonatados).

Só para lançar mais umas achas à fogueira, também existem Cistus ladanifer L. subsp. ladanifer com flores totalmente brancas, sendo esta a forma albiflorus (Dunal) Dans.. Neste caso, as cinco-chagas-de-cristo (que representam a f. maculatus (Dunal) Samp.), talvez sejam melhor nomeadas por roselhas-brancas!

Exclusiva do Litoral Alentejano


Mas, existe outra subespécie em Portugal, que habita os matos costeiros sobre arribas do litoral, mais frequente em solos arenosos que assentam em rochas calcárias. É a subsp. sulcatus (Demoly) P.Monts. (o que nem todos os botânicos aceitam, já que muitos a consideram como sendo uma espécie particular, o Cistus palhinhae Ingram). A “esteva-da-costa” (inventei agora este nome, porque me parece adequado, e, já que uma vantagem dos nomes comuns é esta liberdade – talvez um pouco anárquica – que se guia pela lógica e opinião de cada um), é mais baixinha e robusta. Parece ser um pouco mais sociável e apresenta-se como um arbusto de formas arredondadas, de folhas menos longas e flores algo menores, e, quase sempre imaculadas, como seria de esperar de uma pura-seiva lusitana!

A esteva uma valente solitária: existem no Alentejo diferentes espécies

É que o Cistus palhinhae (assim nomeado em homenagem ao grande botânico português, açoriano da Ilha Terceira, Ruy Telles Palhinha) é um endemismo português, significando este palavrão que a ocorrência e distribuição natural desta planta em todo o globo terrestre, é restrita a uma estreita faixa litoral em Portugal Continental, ao longo do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (tem bom gosto!).


Segredos, no Litoral Alentejano

Poucos saberão que começa logo a aparecer aos caminhantes que se aventurem a percorrer os caminhos junto às arribas entre Porto Côvo e a Ilha do Pessegueiro, meia escondida nos matos costeiros dominados por Stauracanthus sp., por entre ERICACEAE, Halimium sp., Helichrysum sp. e outros Cistus sp..

A maioria das ameaças são humanas

Esta planta chega ao sudoeste algarvio e, a Norte, existirão algumas populações “desgarradas” para as bandas de Peniche. Dado o seu estatuto especial, é protegida por lei e mencionada na “Diretiva Habitats” que foi criada especificamente para proteger espécies de animais e plantas e as suas comunidades, dentro do espaço europeu, que, tal como esta beldade, se encontram ameaçadas. Infelizmente, a maioria destas ameaças são de origem humana, derivadas, por exemplo, da introdução de espécies exóticas que se tornam invasoras (como o chorão, Carpobrotus edulis L.) roubando o habitat, espaço e recursos, das plantas nativas.

A esteva: floração

No Sul de Portugal, o Cistus ladanifer normalmente começa a florir em finais de março, sendo a floração nas zonas do Norte onde existe (áreas de clima mediterrânico, como Trás-os-Montes) um pouco mais tardia (abril-maio), prolongando-se até junho. Este ano, porém, talvez devido a uma primavera antecipada, um pouco por todo o Alentejo já se encontram desde há algumas semanas, uns salpicos do branco das vistosas flores, e, tudo faz crer que o pico de floração da espécie, estará para breve.

Quem se compraz, para além das vistas, são as várias espécies de insetos polinizadores, que, esfomeados se alimentam do seu néctar, e em troca, ajudam a planta na sua reprodução.

Os usos ancestrais da esteva uma valente solitária

·                     PONTO 1 Os usos ancestrais do Cistus ladanifer ladanifer, incluem a utilização da sua lenha nos fornos de cozer o pão e outros alimentos (já que, para além de ser muito combustível, liberta um agradável aroma) e vários usos medicinais.

·                     PONTO 2 De facto, os antigos já sabiam que esta planta pode ser utilizada numa quantidade quase infindável de tratamentos: para diminuir o catarro e como expetorante, que o seu aroma é equilibrador de emoções, facilita a menstruação, coagulante, antibacteriana e antiviral, combate a diarreia, auxilia na circulação venosa, é descongestionante, desinfetante e analgésica! Mas atenção, já que, devido às suas propriedades emenagogas (potencialmente abortivas) e coagulantes, deverá ser usada com precaução (pois poderá originar problemas cardíacos ou respiratórios).

·                     PONTO 3 Ao que parece, Alentejanos e Algarvios tradicionalmente também usam o seu óleo essencial para eliminar o mau cheiro dos pés! E não são poucas as aplicações cosméticas e como fixador de perfumes que se lhe dá, na atualidade.

·                     PONTO 4 Em forma de despedida, uma informação que aos mais aventureiros de palato, servirá: as pétalas da esteva são comestíveis, frescas ou desidratadas! Não é, pois, difícil, imaginar novas possíveis aplicações gourmet para esta planta carismática, de pétala com sabor suave e adocicado nas suas máculas (eu provei e gostei!).

·                     PONTO 5 Sem mais novidades e com o cheiro quente da esteva a pairar-me na memória, convido-vos a (re)descobrir esta rústica, cuja flor parece tão frágil quanto é bela, mas que esconde mais do que aparenta, sendo na realidade, uma valente solitária, que em si contém e reflete na perfeição, muita da bravura e resiliência do Homem e do Território Alentejanos.

Mónica Martins,