sexta-feira, maio 01, 2009

Elo perdido

Algumas vezes já tenho pensado no quanto eu sou insistente em abordar assuntos do passado e, até certo ponto, lamento isso. Tanto mais que frequentemente ouço de algum dos meus amigos que "viver do passado é estancar no presente". De uma amiga até ouvi uma explicação sobre que não se devem guardar objectos antigos, pois os mesmos deverão estar sempre em movimento; devem vender-se ou simplesmente repassá-los...
Não que, com a corda a que me agarro, eu me queira igualar a muitos dos bons cronistas, uma vez que só estou na fase do engatinhamento, mas é verdade que muito do que leio da produção deles, inúmeras vezes o fio da meada vem lá dos antanhos. Portanto, isso não significa estar constantemente obcecado com o passado e sim porque as próprias ideias se movimentam num espaço sem calendários. As ideias afloram porque algo do presente é marcante e, inevitàvelmente, comparações aparecem.
Já referi numa das minhas crónicas que o meu principal passatempo na juventude era a troca de correspondência com moças de vários países e que só vim a conhecer pessoalmente uma meia dúzia, se tanto. Frequentemente recordo tudo isso. Solicitava a publicação do meu pedido de correspondência numa revista, jornal ou rádio; semanas depois, a fio, o carteiro entregava na minha casa maços de cartas amarradas com um barbante. Afinal, muitos outros jóvens compartilhavam das minhas preferências...
Infelizmente eu não conseguia responder a todas. A maioria por falta de tembo hábil, algumas por falta de dinheiro para poder pagar um tradutor (...) e outras por seleção pura e simples. Moralmente já pedi desculpas centenas de vezes a esta maioria.
Um restrito grupo foi eleito e ainda hoje, quase meio século passado, comunico-me com algumas e com os seus maridos. Todas casaram e eu também. Porém, a não ser quatro casos que viraram namoradas, as demais sempre foram amigas especiais e mantem-se essa amizade.
Um dos motivos que colocavam um ponto final nessa relação epistolar era a falta de resposta a uma carta enviada. Isso vigorava de uma ou da outra parte. Acredito que esse comportamento tenha gerado injustiças pois que, como em qualquer acusação, deve sempre existir o direito de defesa.
Fui no meu baú de recordações e lá achei o envelope que ilustra esta minha crónica (com a respectiva carta que continuará sigilosa...). Da mesma remetente recebi uma vez uma carta, para mim redireccionada pelos Correios do Brasil, toda desbotada mas ainda perceptível. Acompanhava uma nota explicativa informando ter sido recuperada nos destroços de um avião que caíra no mar na baía da Guanabara. Conclui-se que, a não ter sido recuperada essa carta, o elo estaria perdido. Esse elo foi recuperado e recolocado no seu lugar da corrente e isso viabilizou o meu casamento com aquela gaúcha que me deu três filhos maravilhosos.

2 comentários:

dor@ disse...

Linda história, amigo!! Demais!!! Dá até pra acreditar em destino, eu que sou uma agnóstica...rsrsrs.
Mas como dizem, "o que é do "home" o bicho num "come"...E viva o amor e as cartas de amor.
E não tem nada de jogar fora coisa velha, não.Digo de coisas que fizeram história em algum momento da vida. Eu não jogo.Guardo tudo, até quanto posso.E quando tenho que fazer isto, é um "parto tão difícil"...ai, ai, ai...

Claudio disse...

É bom saber um pouco mais da nossa história ;)