Esta cidade de Campinas onde moro, tem mais de um milhão de habitantes. Estou aqui há 34 anos. Passam-se os anos e, eleição vai, eleição vem, são sempre os mesmos candidatos ou descendentes deles…
É a cidade equivalente ao vale do silício nos EEUU; tem muitas empresas de ponta, alta tecnologia. Porém, em infra estrutura jamais percebi avanços interessantes.
Há muito deixei de pagar o plano particular de saúde que mantive por quase 20 anos. Raríssimas vezes usei os serviços e cheguei à conclusão que a poupança dessa mensalidade engordaria o meu caixa e daria para pagar alguma intervenção de urgência.
Agora que a idade avançou para o chamado estágio crítico, começam a aparecer os problemas de dor daqui e dali, hipertensão, falta de tesão, etc. etc.. Por isso, comecei a usar o serviço único de saúde (SUS) e confesso que nada tenho a reclamar quanto ao atendimento e acompanhamento.
Hoje, depois de já ter efectuado outros exames que compõem o check up, fui tirar um RX do tórax para observar possíveis problemas do coração.
Mais uma vez adentrei naquele que é o principal hospital da cidade. De nome Dr. Mário Gatti, é pau para toda a obra na região. Já conheço os meandros, mas hoje fui num local diferente.
Passei perto da cozinha e até tapei as narinas porque não suportei aquele cheiro de azêdo; depois ambientei-me… Zanzei por aqui e por ali até chegar ao ponto de atendimento que procurava. Ultimada a burocracia, ali fiquei aguardando num corredor com mais uns 50 cidadãos iguais a mim, escutando chiadeira de um lado e do outro…
Os pacientes vão sendo chamados em grupos de 4 mas, no meio deles há os fura-fila. Estes últimos veem em macas, ensanguentados, cagados, mijados, entubados, meio mortos e meio vivos. É uma cena dantesca, se bem que tal não mais me afecta há muitos e muitos anos.
Lembrei-me daquele dia em que, vítima de um corte num dedo, dirigi-me ao Hospital Universitário de Genebra. Estava eu na Suiça. Lá eu nem queria acreditar no que estava vendo. Ali era tudo tão perfeito que até o chão poderia ser lambido. Claro que prefiro lamber outras coisas…
O cara lá do hemisfério norte tocou na tecla ao instituir o serviço público de saúde. E precisava. É claro que é muito difícil navegar nessas águas onde existe o serviço privado de saúde com mão forte e bem apoiado. Porém, o caminho certo é acabar com isso ou com eles… Todo o serviço de saúde, em qualquer país, deverá ser público e de primeira categoria; a única categoria.
Sonho ainda com esta cidade entrando por esse caminho. Talvez até eu venha a morrer num bom hospital público e pensando que estou num hotel 5 estrelas rodeado de belas enfermeiras.