quarta-feira, março 30, 2011

Bullying

Eu estava no bar e vi aquelas imagens em que o gordinho Casey Heynes levantou no ar o magricela Richard Gale e o deixou despencar, em seguida, como se fôsse um boneco de trapo. Não tinha assistido ao vídeo desde o início e, pelo que observei, a minha revolta e ira contra Casey foram impetuosas e imediatas. Só depois eu vi a repetição de tudo e tive que trocar o lugar dos personagens e, consequentemente, a minha opinião.


Quando vi que se tratava de mais um caso de bullying, de entre milhares que diàriamente acontecem por esse mundo afóra, não tive como evitar uma vibração de apoio ao gordinho Casey. Dirão os mais púdicos e moralistas que aqui não se tem que apoiar ninguém. Mas não é bem assim. Acabo até de ver na internet que são muitos milhares de pessoas que tiveram esse mesmo sentimento de aprovação ao desfecho do episódio.


Neste caso que já é mundialmente famoso eu me vi projectado num espelho. Todavia, comigo não houve noticias a respeito e pràticamente só os dois intervenientes guardaram isso para eles. Pelo menos eu nem com os meus pais comentei o acontecido.


Aquele era mais um dia como tantos outros em que saía da Escola do Caldeiro no final da tarde. Lembro-me, como se hoje fôsse, que chovia e fazia um frio tremendo. Tinha eu 8 anos naquele 1953. As minhas pernas que só conheceram uma calça comprida quando eu fiz 12 anos, ostentavam aqueles calções surrados; usava um capote de saragoça com um cinto de fivela.


Subindo a Rua Serpa Pinto em direcção ao Rossio e aos Telheiros, onde morava, mais uma vez lá estava parado no passeio aquele colega de escola, o Rato, que gostava muito de me bater. Apanhei dele muitas vezes e jamais me queixei a alguém. Se contasse isso ao meu pai, sabia que apanharia dele também por não ser valente o suficiente para me defender...


Mas nesse dia eu tive o tempo suficiente para arquitectar algo diferente que, covenhamos, poderia ter sido muito ruim para mim; um tiro que poderia ter saído pela culatra... E lá fui eu andando e ordenando as minhas ideias. Cheguei perto, a um passo apenas e o meu desafecto já preparava o primeiro golpe quando, de repente, saquei o cinto do capote e atirei a parte da fivela na direcção do seu rôsto. Vi o sangue jorrar de um enorme rasgão do seu rôsto. Não fugi correndo; continuei andando até minha casa.


Aquilo se passou ali e ali foi enterrado. Nem os pais do Rato se pronunciaram a respeito, se bem que eu sempre evitava passar defronte à sua carvoaria na Rua dos Currais. Talvez eu venha a encontrar a minha vítima, ou meu algoz, quando da minha próxima estadia em Estremoz. Terei a curiosidade de saber se alguma cicatriz existe no seu rôsto, mas faço votos que não...


Bullying é um estrangeirismo que adoptámos muito recentemente, como se essas coisas só começassem a existir agora. A verdade é que essa prática já vem de tempos muito remotos e para nós tinham outros termos de denominação. Vai ser difícil terminar...

1 comentário:

Anónimo disse...

verdade.sempre existiu...entre meninos e meninas...eu era previlegiada somente porque era a filha do prefeito.mas vi de tudo e um dia revidei para defender uam garota .que mundo.e agora? esta pior? nao sei