Quando cheguei ao Brasil nos idos de 1972, fui morar com os meus sogros na cidade de Rio Grande até que organizasse a minha vida.
Tomei conhecimento da história de alguns portugueses da região e conheci alguns pessoalmente, estes das relações do meu sogro que também era português.
Pelotas, a mais ou menos 50 km de Rio Grande, era ponto de passagem para Porto Alegre. Cidade interessante e de grande pêso na economia riograndense, graças às charqueadas e doceria, foi criada por portugueses. O nome do município, teve origem nas embarcações de varas de corticeira forradas de couro.
Conheci Pelotas por lá ter passado muitas vezes e ficaram na minha memória algumas cenas. Uma delas era o grande número de gaúchos vestidos a rigor nos seus trages tradicionais que embarcavam e desembarcavam na Rodoviária local. Achava aquilo muito interessante e até me reportava ao meu Alentejo onde, gradativamente, os trajes típicos foram ficando esquecidos. Tenho a opinião de que jamais devemos perder esses traços de cultura.
Voltando a Pelotas, sempre achei que aquela seria uma das cidades do futuro no Brasil. Passaram-se 22 anos desde a última vez que por lá passei. Agora lá voltei, neste pretérito Carnaval e fiquei com a impressão que a cidade ficou parada no tempo.
Na verdade, não saí da Rodoviária desta última vez, mas acredito que ela espelhe o que se passa no resto da cidade.
De Campinas a Porto Alegre fiz uma óptima viagem de avião. Do Aeroporto Salgado Filho já directamente embarquei no Metro de superfície que me deixou na Rodoviária. Aqui, a lista de horários de ônibus que eu copiara na Internet não coincidia com a realidade e, assim, tive que esperar 3 horas para pegar um que me levaria a Pelotas e ali outro para o Rio Grande.
Cheguei a Pelotas às 3 horas da madrugada sob um calor de 30 graus. Já imaginaram essa temperatura a uma hora daquelas? Fiquei grudado no guichê das passagens aguardando o funcionário para colher informações e comprar a passagem para a linha que mais me conviesse. Fiquei ali uns 10 minutos até que o dito cujo aparecesse. Ele estava entretido a ver os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro na tv... Que grande corno!
Foi difícil sacar dele uma opinião e das opções que me informou, meio contrariado, optei pelo ônibus das 6 horas para Rio Grande, pois sabia que na Junção apanharia outro para a Praia do Cassino que era o meu destino final.
Tudo resolvido, de mochila nas costas preambulei por ali, pois nessas horas e do jeito que eu vi a situação, jamais me deixaria vencer pelo sono num daqueles bancos de cimento horríveis. Em relação à Rodoviária que eu conhecera muitos anos atrás, nada mudou por ali e deveria ter mudado. Sei que a mesma foi construída sobre um antigo pântano e, por isso, milhões de mosquitos habitam o local. Foi difícil encontrar um banheiro aberto, pois tinha um masculino num extremo e um feminino no outro. Tudo sem placa de informação. Local imundo!
Lá para as tantas, de saco cheio, encostei-me sentado num dos bancos comunitários onde deveríam estar mais umas 8 ou 10 pessoas. Ouvi, atrás de mim e quase na minha orelha: "Boa noite! Sou artista de rua...." Antes que terminasse a apresentação já escutou de mim: "Cara! Não me chateia. Não tenho nada, estou na pior. Estamos os dois na merda..." O indivíduo sumiu que nem um raio e todos ficaram olhando para mim estupefactos. E porque logo eu fui o escolhido?
Ali não vi um segurança. Naquela Rodoviária só vi sujeira, degradação. Não se modernizou em 40 anos e isso fica muito mal para uma cidade como Pelotas. Quem sabe se na minha próxima viagem vou achar tudo mudado!?
Imagens Google
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