quarta-feira, novembro 19, 2025

Eventos em Estremoz

De 28 de novembro a 1 de dezembro, acontece em Estremoz, em simultâneo com a Cozinha dos Ganhões, a Estremoz Caça, Pesca e Atividades da Natureza, no Parque de Feiras e Exposições de Estremoz. Não perca!

segunda-feira, agosto 25, 2025

Lembranças

 Em agosto de 1932, o regime soviético adotou uma das leis mais cruéis da sua história – o infame decreto sobre “a proteção da propriedade socialista”, que ficaria conhecido como a “lei dos cinco espigas”. Redigida com a assinatura direta de Josef Stalin, esta legislação tornou-se rapidamente num instrumento de terror de Estado, através do qual centenas de milhares de camponeses – muitas vezes famintos, exaustos e vulneráveis – foram castigados de forma brutal, chegando mesmo a serem executados. Não se tratava de grandes roubos nem de sabotagens planeadas: bastava apanhar do chão uma espiga de trigo deixada para trás na ceifa ou comer um punhado de grãos para se cair nas garras da repressão.

Na propaganda oficial, o decreto pretendia “proteger os bens dos kolkhozes” – as cooperativas agrícolas estatais. Na realidade, tratava-se de uma ofensiva cínica contra os últimos vestígios de dignidade humana num contexto de fome generalizada, provocada pela coletivização forçada, pela política brutal de requisições agrícolas e pelo plano deliberado de aniquilação do campesinato ucraniano. Os arquivos soviéticos comprovam que, só entre 1932 e 1933, mais de 54 mil pessoas foram condenadas ao abrigo desta lei. Dessas, mais de duas mil foram fuziladas. E o mais chocante: mais de 80% dos condenados eram camponeses pobres — não os chamados “inimigos de classe”, mas agricultores humildes que apenas procuravam sobreviver num inferno criado pelo próprio regime comunista.
A fome que assolou a Ucrânia e outras regiões da União Soviética não foi um simples desastre natural ou um problema económico. Foi uma política deliberada de extermínio. Um genocídio executado através de um arsenal de mecanismos repressivos: legislação punitiva, listas negras, batidas policiais e uma censura total sobre a tragédia em curso. Desde Moscovo, as ordens eram claras: os planos de recolha de cereais tinham de ser cumpridos a todo o custo, mesmo que isso significasse deixar milhões sem alimento. Por isso mesmo, qualquer tentativa de autossubsistência era considerada crime. A “lei das espigas” previa penas que iam desde 10 anos de trabalho forçado até à pena de morte – e tudo isto sem possibilidade de amnistia, sem direito à defesa, e com julgamentos sumários.
A crueldade atingia níveis indescritíveis quando as vítimas eram crianças. Documentos históricos comprovam que menores com apenas 12 anos podiam ser julgados e condenados por apanharem espigas no campo. Um dos casos mais emblemáticos é o de Mikhail Shamonin, um adolescente fuzilado em dezembro de 1937 por ter comido umas migalhas de pão. Ele não era criminoso, nem ativista, nem rebelde — era apenas uma criança esfomeada. Histórias como a de Mikhail existem aos milhares. São os rostos silenciosos de um Estado que declarou guerra aos seus próprios cidadãos.
Mesmo entre os juristas soviéticos, começou a emergir a consciência do horror legal em curso. Em 1936, o Ministério Público analisou cerca de 115 mil casos julgados com base nesta lei e concluiu que, em mais de 90 mil deles, as sentenças eram ilegais ou excessivamente severas. Propôs-se a revisão e reabilitação de 37 mil condenados. No entanto, em vez de permitir qualquer gesto de justiça ou arrependimento, Stalin ordenou o oposto: perseguição a quem tivesse sugerido a revisão dos casos. O resultado foi uma nova vaga de repressão ainda mais feroz — o chamado Grande Terror de 1937–1938.
O mais perverso de tudo isto foi o modo como a máquina jurídica soviética se tornou cúmplice da barbárie. A “legalidade socialista” transformou-se num mecanismo para destruir pessoas. A Justiça deixou de servir os cidadãos e passou a obedecer cegamente à ideologia. Milhares de agricultores foram presos por tentarem alimentar os filhos. As prisões enchiam-se de mães condenadas por roubarem uma espiga, de crianças levadas para campos de trabalhos forçados por apanharem migalhas nos trilhos do campo. A simples tentativa de sobreviver era tratada como sabotagem ao Estado.
Para dar uma aparência de legalidade, os julgamentos eram realizados de forma acelerada, muitas vezes sem advogados ou testemunhas. As sentenças, já definidas de antemão, serviam apenas para “exemplarizar” os restantes. As execuções eram sumárias. Quem não fosse fuzilado acabava deportado para campos de trabalho na Sibéria, onde morria de frio, de fome ou de exaustão. As crianças órfãs eram deixadas ao abandono ou acabavam institucionalizadas como “filhos de inimigos do povo”.
O regime soviético tentou, durante décadas, reescrever essa história, apresentando a lei como um ato necessário para proteger a coletividade. Diziam que “os trabalhadores exigiam punições exemplares” para impedir “a sabotagem dos inimigos do socialismo”. Mas por trás da retórica esvaziada de sentido, escondia-se a lógica de um Estado totalitário que arrogava a si o direito de decidir quem podia viver e quem devia morrer. A “lei das espigas” tornou-se o símbolo máximo da degradação moral do regime, onde a própria noção de justiça foi substituída por uma política de medo, castigo e obediência cega.
Estes crimes não podem ser relativizados nem esquecidos. Não foram “erros de percurso”, nem “excessos de um tempo difícil”. Foram crimes contra a Humanidade, planeados ao mais alto nível do poder soviético. Foram atos friamente executados contra um povo que apenas queria sobreviver. Só com a abertura dos arquivos e a exposição dos factos é que foi possível compreender a real dimensão do terror. Hoje, quando evocamos estas memórias, não o fazemos por vingança ou retórica. Fazemo-lo porque a justiça começa pela verdade. Porque a memória é a única arma que resta às vítimas. E enquanto lembrarmos o nome de Mikhail e de todas as crianças assassinadas por uma espiga de trigo, nenhum ditador, passado ou futuro, poderá apagar o seu crime.


domingo, fevereiro 09, 2025

Lã de Ovinos



Eis os edredons de lã. Um projeto 
inovador de economia circular

A ideia começou a ganhar forma durante uma conversa de Luís Rebola, economista, com um pastor, na estrada entre Sousel e Estremoz. Contava o guardador de rebanhos que se via forçado a queimar a lã, cujo valor nem sequer chega para pagar a tosquia dos animais.

 “Comecei a pensar como seria possível uma matéria-prima tão valiosa, como a lã, usada há milénios, ser considerada um desperdício”, conta Luís Rebola, nascido no Porto, mas com raízes familiares em Sousel.

Formado em economia, com um percurso profissional que passou por Lisboa e pelo Brasil, Luís Rebola fixou-se em Sousel há dois anos, apostou na consultoria de empresas e em projetos de desenvolvimento pessoal, até que o seu caminho se cruzou com o do tal pastor e desse encontro surgiu uma reflexão e dessa reflexão nasceu um projeto empresarial. Antes começou a fazer perguntas. Constatou que o caso não era isolado, pelo contrário, todos os pequenos produtores de ovinos se debatiam com o problema da lã, queimada por uns, enterrada po outros, ou até por vezes colocada em sacos pretos, escondidos no meio do lixo urbano.

Encontrou também sinais de esperança, casos concretos de utilização desta lã enquanto matéria-prima. Por exemplo, em Urubici, município de 11 mil habitantes no estado de Santa Catarina, no Brasil, onde a 26 de junho de 1996 foram registados uns impressionantes 17,8 graus Celsius negativos, o que faz desta a terra “mais fria” do país. E onde, vejam-se os caminhos do acaso, a mulher do edil criou uma associação para dar trabalho a mulheres com problemas de inserção profissional, dedicando-se ao fabrico de edredons com lã de ovelha. 

“Comecei a falar com essas mulheres e a pensar no que poderia ser um processo de fabrico menos artesanal que o delas. Desenvolvi o projeto e fui apresentá-lo à Pasto Alentejano, um dos maiores produtores de carne de borrego do país, cuja sede é em Sousel”, lembra Luís Rebola.

“Disseram-me que se tratava de um problema enorme e que queriam fazer parte da solução para o resolver”, acrescenta o economista, que acabou contratado pela empresa como consultor externo. Estava iniciado o processo que haveria de conduzir ao nascimento da marca Lãmb, cujo primeiro produto é um edredom de lã orgânica 100% pura.“Para noites de sono aconchegantes, sem contar carneirinhos”, garante a empresa. 

Existindo lã em abundância, havia no então outros problemas por resolver. “Uma das questões era saber como é que se poderia lavar a lã, tendo em conta que muitas empresas deste sector já fecharam.

"Chegámos a uma empresa na Guarda que o faz de forma ecológica e isso é muito importante, pois trata-se de um projeto desenhado com preocupações de sustentabilidade”, conta o promotor, economista com trabalho em grandes multinacionais e na área do marketing, mas cujo conhecimento específico sobre o mercado da lã era, à época, pouco mais que nulo.

Já lavada e em tufos, a lã sai da Guarda em direção à Trofa, onde é feito o agulhamento, ou seja, a transformação dos tufos de lã num manto uniforme, com a altura e a densidade desejada. Sucede que essa empresa dedica-se, sobretudo, ao agulhamento de sintéticos, apenas trabalhando a lã de dois em dois meses, dado tratar-se de um mercado residual. O próximo processo de agulhamento de lã seria em novembro, pelo que era necessário acelerar o processo.

“Foi o tempo de montar tudo”, conta Luís Rebola, que por esta altura já tinha falado com o presidente da Câmara de Sousel, ManuelValério, no sentido de obter algum apoio para o projeto. “Foi o presidente quem, primeiro, me encaminhou para a Pasto Alentejano e, depois, manifestou a intenção de comprar os primeiros 100 edredons para oferecer, antes do Natal, aos lares da terceira idade”.

Com uma data-limite para executar o projeto, ainda foi necessário fazer o acolchoamento, o que sucedeu em Guimarães, tratar dos acabamentos finais e etiquetar.

O resultado final é um edredon de lã pura, de borrego, lavada num processo ecológico, com uma capa de algodão puro e com todas as características da lã, usada pelos seres humanos desde há cerca de seis mil anos. Por características entenda-se um isolamento térmico ao nível dos produtos mais caros do segmento, como as penas, com a vantagem de se tratar de uma matéria-prima que resulta da economia circular, cuja obtenção não origina quaisquer maus-tratos animais.

“A tosquia não maltrata os animais”, refere ainda Luís Rebola, assinalando outra característica interessante desta matéria-prima: “Absorve até 30% do seu peso em humidade”. Dito de outra forma: “A lã tem capacidade para absorver a transpiração e é por isso que ajuda as pessoas a dormirem melhor”.

SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL

Responsável pela comunicação na Pasto Alentejano, Tiago Serralheiro confirma que a lã “não tem preço para o produtor, nem sequer chega para cobrir os custos com a tosquia”, pelo que o projeto agora inaugurado permite “tirar proveito do bem-estar animal, ou seja, da tosquia, para promover a economia circular”.

Segundo refere, a empresa “desenvolveu uma solução empresarial para um problema transversal ao sector”. Os primeiros 500 edredons estão feitos. A ideia, refere, “é aumentar a produção”, com o foco especial na hotelaria. A exportação será o passo seguinte, de olhos postos nos mercados do norte da Europa.

In Brados do Alentejo

segunda-feira, dezembro 09, 2024

Que Rei Sou Eu?

 Essa novela foi ao ar em 1989. "Que Rei sou Eu?". Não sou noveleiro, mas novelas como essa e como o "O Bem Amado" ocuparam um pouco do meu tempo. Muitas das narrativas, tanto duma como da outra, são actuais. Antônio Abujamra, actor principal da primeira citada, tinha interpretações fantásticas de textos premonitórios. Nostra Damus ficou devendo...


segunda-feira, outubro 21, 2024

Círio de Nazaré

Desde então, nas festividades do Círio de Nazaré em Belém do Pará, ele tem a proteção da Santa. A Bolsonaro foi-lhe impedida essa oportunidade quando da campanha eleitoral de antanho. Parece que prevalece o ditado "há males que vêm por bem"...
 

sábado, outubro 19, 2024

Constituição Federal


Luiz Philippe de Orleans e Bragança, Deputado Federal. Esse senhor é absurdamente correcto, diferenciado! Verdadeiro génio da lucidez! Eu, Cláudio Portalegre, não tiro e não acrescento uma única palavra. Perfeito! É o que nós abordamos frequentemente nas tertúlias de pessoas cultas.

segunda-feira, outubro 14, 2024

Pandemia?

Abram o link para verem mais um vídeo sobre as trapaças da pandemia. 

https://x.com/IceSohei/status/1845791881143496829/video/1


domingo, julho 28, 2024

Relíquias velhíssimas

Passo muito tempo ligado ao Mundo no meu computador. E sempre tenho a meu lado uma boa companhia. A última, um vinho do Porto branco, não aguentou uma vida de mais de 70 anos e ficou ruim. Mas usá-lo-ei na culinária, conforme a Lei de Lavoisier... Fui ao baú buscar outra companheira. Vou ver como se comporta esta aguardente velhíssima...




sábado, junho 15, 2024

Relíquias


 Hoje resolvi abrir esta velhíssima Aguardente de Medronhos. Se já era velhíssima quando engarrafada, imaginem como estará com mais 70 anos de casa!... Se eu não abrir e consumir estas maravilhas, na minha falta os herdeiros jogarão tudo no lixo...

Na tela do meu PC tem uma foto de Chico Buarque e Raí segurando uma bandeira do MST. É a esquerda milionária em Paris...

sábado, maio 25, 2024

Imbecil


 

À vossa saúde!

 Esta semana tem sido demasiado pesada para mim. Pensei em tomar algo forte que, de alguma forma, atenuasse as dores físicas e psíquicas. Lembrei-me que tinha um garrafão de cachaça de Montes Verdes que um dia um amigo meu me trouxe. Passei-a do garrafão para garrafas de 1 litro (também um ritual interessante). Vi, com surpresa, ser amarelinha. Talvez curtida em barril de carvalho. Uma delícia no primeiro trago; melhor nos seguintes. Enchi nòvamente o copo para fazer um brinde aos meus amigos. Falando de copo, este tem o distintivo do meu Internacional e foi presente que o meu neto Lucas trouxe de Alagoas. Afinal, em Alagoas tem algo bom --- torcedores do Colorado... Um abraço a todos. Saúde!