sábado, fevereiro 17, 2007

GUERRA JUNQUEIRO

Os tempos hoje são muito corridos e o nosso modo de vida a eles adaptado. Muitos dos momentos que dedicávamos à leitura de um livro são divididos, hoje, pela navegação na Internet, por uma maior concentração nos problemas do dia-a-dia, enfim. Porém, há momentos ainda em dou alguma atenção à minha biblioteca e teve um deles. Sentei-me lá e fiquei olhando todos aqueles meus amigos, os livros, recordando algumas coisas que um e outro título me sugeria e que em tempos já li. Alguns jamais cheguei a ler, mas fiz a promessa que esse dia específico virá... Nessa panorâmica lá estavam algumas obras de um grande escritor português e, lembrando-me de algumas passagens de uma delas, folheei-a. Transcrevo, a seguir, um trecho: "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro [.] Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. [.] A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos [.] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, [.] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar." Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896. Alguns dos visitantes desta minha humilde página são portugueses e outros brasileiros. Não sei se outros haverá de outros países e só o saberei mercê de algum comentário a ser postado. Quero chegar ao ponto que cada um já interpretou, do encaixe perfeito dessa crítica denuncista à época de antanho e à actualidade; a Portugal e ao Brasil. Cento e onze anos são passados!!! Guerra Junqueiro Nasceu em Freixo de Espada à Cinta (Trás os Montes), em 1850. Faleceu em Lisboa, em 1923. Frequentou a Faculdade de Teologia (1866-1668). Formou-se em Direito (1868-73). Bibliografia: 1. Mysticae Nuptiae - 1966 2. Vozes sem Eco - 1867 3. Baptismo de Amor - 1868 4. A Morte de D. João - 1874 5. Musa em Férias - 1879 6. A Velhice do Padre Eterno - 1885 7. Finis Patriae - 1890 8. Pátria - 1896 9. Oração ao Pão - 1902 10. Oração à Luz - 1904 11. Poesias Dispersas - 1920

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