terça-feira, maio 25, 2010

Um olhar de criança

Hoje vou escrever sobre crianças. Pode parecer estranho, mas foi algo relacionado com elas a minha fonte de inspiração para esta crónica.
Quando solteiro eu não era muito chegado a elas, e não as havia na família. Um choro qualquer me irritava; eu não as atraía e também não era atraído. Mas esse meu comportamento não era porque fosse uma pessoa tosca e embrutecida e sim antes despreparada e arredia pela minha timidez e pela carência de carinho no lar.
Casei novo e logo veio o primeiro fruto desse casamento, uma linda menina loirinha e de olhos verdes/cajú. E viriam mais quatro filhos depois e alguns deles me deram 6 netos.
De repente me vi rodeado e participativo em duas gerações de crianças. Os filhos carreguei-os todos no colo, limpei-lhes a bunda e troquei-lhes as fraldas; dei-lhes carinho. Os netos já comigo não conviveram todos, mas os que conviveram usufruíram do mesmo tratamento que dispensei aos pais e talvez até com mais paciência.
Em todo esse embrulho concluía-se que eu dispensava uma atenção especial às crianças como se para tal tivesse um dom. E sempre assim foi no decorrer dos tempos até hoje. Mesmo aquelas que não me são nada me atraiem ou por mim são atraídas. Há uma simbiose perfeita.
Quando uma mamãe passa por mim com seu filhinho ou filhinha, normalmente eu mexo com esta e arranco um sorriso daquela ou das duas… Não o faço com a maldade de segundas intenções, até porque o tempo de Dom Juan já é passado ou atirado para as calangas gregas.
Hoje eu estava sentado no meu banquinho de madeira ao lado de minha banca de feira e tinha terminado de ler o jornal. O movimento estava meio fraco ou fraco inteiro, pois meio fraco pode significar meio forte…
De um momento para o outro percebi que três mamães pararam na minha frente com os três carrinhos e seus respectivos bebés. A cena está ilustrando esta minha postagem e a foto foi tirada com a autorização necessária, tendo tido o cuidado de só focalizar as crianças.
Notei que o menino à esquerda e a menina à direita comiam uma banana cada um. Descascavam a frutinha com cuidado e mordiscavam-na em seguida. No meio estava outra menina com o olhar focado em todos os movimentos da vizinha. A mãe desta percebeu que eu me concentrava na cena. Não resisti e disse-lhe (sic) que a sua filhinha estava com vontade. Arrisquei-me a ser chamado de intrometido ou coisa que o valha. Recebi tão só uma negativa à minha dedução.
Porém, a mãe que estava com a sacola das bananas que acabara de comprar, de imediato pegou uma e deu à menina do meio. Ela comeu-a toda! E todos, depois, comeram mais meia banana cada um.
Nesse momento aquela mãe olhou para mim, simpàticamente, mas meio sem graça e acenou positivamente com a cabeça. Retribuí o sorriso e a simpatia manifestando a minha felicidade. Eu era, afinal, um homem feliz que acabara de flutuar num mundo diferente de pureza e convencido que entende as crianças, talvez até porque tenha sido uma delas por alguns momentos.

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