A
língua portuguesa recupera pouco a pouco sua força no Timor-Leste
graças a um plano de implementação na educação primária e no ensino
médio, e que a partir de 2013 alcançará também a formação universitária
nesta ex-colônia de Portugal na Ásia.
Mari Alkatiri, que foi o primeiro líder do Executivo da recente
história do Timor-Leste, declarou à Agência Efe que a implementação do
português na educação se deve ao fato de o tétum - a outra língua
oficial do país - ainda não estar suficientemente desenvolvido, de um
ponto de vista acadêmico e científico.
Alkatiri, primeiro-ministro timorense entre 2002 e 2006, explica que
outra das razões pelas quais o Governo decidiu que o idioma veicular da
educação seja a língua portuguesa é que apresenta "uma identidade que
diferença o Timor-Leste dentro da região Ásia-Pacífico".
Timor-Leste, o país asiático mais jovem e que conta com pouco mais de
um milhão de habitantes, escreveu em sua Constituição, aprovada em
2002, que tanto o português como o tétum são as duas línguas oficiais do
país e relegou o indonésio a idioma de trabalho.
Após mais de quatro séculos de colonização portuguesa, o Exército
indonésio aproveitou a proclamação da independência do Timor-Leste de
Portugal em 1975 e ocupou a pequena nação durante os 24 anos seguintes.
Durante o período de ocupação indonésia, o idioma português foi
proibido e perseguido ao constituir-se como a língua da resistência
timorense, confinada nas montanhas da ilha.
Uma vez recuperada a soberania, em maio de 2002, o português voltou
às ruas e instituições políticas como o Parlamento e as cortes de
Justiça, enquanto ainda se consolida no sistema educacional.
Nas ruas do Timor as saudações e os agradecimentos em português são
parte da vida cotidiana, mas são o indonésio e o tétum os que predominam
nos ambientes de trabalho e são mais frequentes nos principais meios de
comunicação.
Alkatiri reivindica a necessidade de insistir na língua portuguesa, e
não no indonésio ou no inglês, para evitar que o Timor se transforme em
um país "satélite" da Indonésia ou da Austrália, as duas potências mais
próximas geograficamente.
Longe desse sentimento de identidade, Luis Nivio, um professor
timorense de 26 anos, reconheceu à Efe que a aplicação da nova língua é
mais difícil na prática: as crianças quando chegam à escola
frequentemente não entendem português e, portanto, aprender algumas
disciplinas lhes parece mais complicado.
"O pior é que muitos professores também não falam português, ou quase
não o conhecem, e por isso optam por ensinar em tétum ou misturar os
dois idiomas durante as aulas", confessou o professor.
Nivio, que aprendeu português em Aveiro graças a um acordo em matéria
de educação com o Governo de Portugal, admite que a falta de
desenvolvimento gramatical do tétum complica muito a formação acadêmica
nesta língua.
Brasil e Portugal fecharam um acordo com o Timor-Leste para a
expansão do português no país asiático mediante a colaboração de suas
universidades para formar professores e criar material escolar.
Segundo os dados do Governo do Timor-Leste, em 2010 cerca de 90% dos
cidadãos do país utilizava o tétum em sua vida diária, 35% dominava o
indonésio e 23% falava, lia e escrevia em português.
No entanto, este último é o idioma que registra maior crescimento nos últimos anos.
O futuro da língua de Camões no Timor-Leste parece promissor; José
Ramos-Horta, ex-presidente do país e prêmio Nobel da Paz, deixou isso
claro em um recente artigo no jornal indonésio "The Jakarta Post".
"Em dez anos, pelo menos metade dos timorenses falarão português;
nossa própria versão, tão viva e musical como a do Rio (de Janeiro) ou
de Luanda", previu o político.
Agência EFE