Em muitos lugares do Planeta, mercê dos fusos horários, o Dia Internacional da Mulher já é coisa do passado. Aqui no Brasil, de onde escrevo neste momento, ainda se comemora esse dia por mais uma hora e meia... É portanto, pertinente a minha abordagem do tema Mulher.
No decorrer deste dia, muito se escreveu e falou sobre infindáveis vertentes que o tema abrange. Chamou-me especialmente a atenção uma reportagem da televisão em que se prevê que as oportunidades de emprego só sejam iguais entre homens e mulheres daqui a pelo menos vinte anos. E ainda na mesma reportagem, a contestação de haver maior número de estudantes e formaturas do sexo feminino, porém sem acesso a cargos só desempenhados pelos homens.
Concordo em que tudo isso é uma triste realidade, apesar de já se ter avançado muito nesse ambicionado campo da igualdade de oportunidades e competências. A comprovar isso, fora da generalidade, tenho algumas amigas pessoais engenheiras de produção e da construção civil, delegadas de polícia, motoristas de caminhão e de outras profissões até há pouco tempo campo restrito aos indivíduos do sexo masculino.
Mas, o fulcro desta questão que abordo hoje é o facto de confessar que tenho muito orgulho de quando naquela época distante, início dos anos 70, eu tomei uma iniciativa, incrédula para muitos.
Ocupando o cargo de gerente de produção na então Purina do Brasil, uma multinacional líder do ramo de alimentação animal, fui convidado a exercer o mesmo cargo na Mogiana Alimentos (Guabí), hoje também uma gigante do ramo.
Mudei-me com armas e bagagem da cidade de Canoas, no extremo sul do Brasil, para a cidade de Orlândia, ao norte do estado de São Paulo.
A primeira missão foi supervisionar a montagem da nova fábrica nos armazéns desactivados de uma grande empresa de produção de óleos vegetais. Em paralelo a essas funções, também me coube a montagem das equipes que viríam a operar os vários setores fabris.
Nos muitos momentos em que planejava uma série de medidas, lembrei-me de minha mãe em Portugal, que trabalhava numa fábrica de massas e rações no setor de sacarias. Um trabalho muito duro para uma mulher, mas que não era raro no meu Alentejo. Inspirei-me nisso e coloquei sobre a mesa de reuniões com a diretoria a viabilidade de contratar mulheres para algumas áreas da produção.
A ideia não foi muito bem aceite num primeiro impacto gerado. Se aprovada a minha sugestão, seria a primeira fábrica do género a empregar mulheres em cargos até então ocupados por homens. E ainda conspirava contra mim o conservadorismo daquela região em que predominavam as regras dos grandes fazendeiros, alguns dos quais sócios da nova empresa...
Com base na minha insistência e dando o aval de que a experiência inovadora daria certo, houve acordo.
Comecei a treinar a supervisão sectorial e as equipes de operários e operárias. Estas eu coloquei em serviços mais leves, naturalmente, como operadoras de ensaque, de costura da sacaria, rotulagem de embalagens, varrição e micro mix.
Sem querer desfazer dos homens, o rendimento de produção das mulheres era mais alto. Elas se debruçavam nos seus afazeres com muito mais responsabilidade e menos tempo perdido. A simples presença delas no mesmo
espaço impunha um certo respeito que contrariava algumas previsões.
Muitos anos já se passaram desde que eu abandonei essa profissão e abracei outras no decorrer da minha vida profissional. Mas ainda hoje me orgulho daquele pioneirismo na emancipação da mulher.
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