quarta-feira, abril 01, 2009

Crise de nervos

Muitas vezes, em tom de brincadeira mas com ar circunspecto, costumo dizer que nos dias de hoje só se fica rico ganhando na loteria ou enveredando pelos caminhos do submundo das ilegalidades. Trabalhando honestamente, jamais! Todavia, acontecem tantas coisas estranhas que já chego a pensar que, com uma das duas hipóteses referidas sendo descartada, passa a ser um caminho só.
Costumo jogar nas loterias oficiais da Caixa Económica Federal fazendo, como se costuma dizer, uma pequena fezinha. Jamais fui um sortudo em potencial e só uma vez ganhei um terceiro prémio que me rendeu uma mixaria; mesmo assim, com meio bilhete...
Lembro-me que, dessa vez, dirigi-me à agência principal da Caixa onde havia um pequeno reservado para recebimento desses prémios. Entrei e notei que tinha algumas pessoas sentadas num banco encostado na parede e que não participavam de fila alguma. Vim a saber, mais tarde, que são indivíduos que oferecem pelos nossos bilhetes premiados uma quantia 20% maior que o valor. Estes fazem parte de um esquema de lavagem de dinheiro e encaixam-se num daqueles caminhos que citei no início... Simplesmente ignorei o detalhe e dirigi-me ao caixa. Apresentei o bilhete, assinei um documento com os meus dados pessoais para efeitos de tributação, fiquei com uma cópia e o caixa com a outra. Fim de papo. Tão simples assim...
Ontem fui conferir, na Internet, os recibos da aposta da "Lotofácil" que tinha feito no dia anterior. Teria que acertar 15 números para ficar milionário. Num dos recibos acertei 11, o que habilitava a um prémio de consolação de 2 reais; no outro, acertei 14. Estremeci! Voltei a conferir mais uma, duas, três vezes e concluí que eram realmente 14 pontos. Respirei fundo e conformei-me --- o prémio era de 1.100 reais e mais uns quebradinhos.
Hoje, depois do almoço, fui na casa lotérica para receber o meu prémio, pois é normal ali pagarem pequenas importâncias. Entreguei os dois recibos premiados à funcionária, ela fez a leitura eletrónica e me disse: - "Um dos recibos tem 2 reais e o outro não tem nada". Olhei bem nos seus olhos, lindos por sinal, e perguntei-lhe: - "Tem a certeza? é que eu conferi várias vezes e tenho a certeza que um dos recibos tem 14 pontos!". Ela insistiu e eu insisti também. Cada um com a sua versão... O gerente escutou e veio conferir. Disse-me que, sendo o valor superior a 800 reais, eu teria que receber na Caixa.
Aqui está um dos motivos porque muitos prémios não são resgatados, pois aquelas pessoas que não dispõem de internet ou que não conferem diretamente as listas, acabam por inutilizar os recibos perante uma informação errada de uma funcionária mal preparada ou nem tanto...
Dirigi-me à agência da Caixa mais próxima pensando que seria fácil resgatar o meu pequeno prémio, tanto mais com o direito a utilizar o guiché prioritário pela minha condição de ancião. Aliás, é a única situação em que não me importa de ser velho...
Não foi fácil, não! E não foi possível. Do guicé encaminharam-me para o balcão de informações para ali ser cadastrado numa espécie de fila eletrónica. Depois fui aguardar num salão que me chamassem pelo nome. Demorou quase uma hora.
A atendente pediu-me o RG, o CIC e um comprovante de endereço e nisso já resultou a minha primeira reclamação e protesto. Afinal, porque motivo somos anónimos quando fazemos o jogo e temos que abrir o livro da nossa vida para receber o prémio? --- se fôr um prémio grande, amanhã ou depois os bandidos estarão na minha casa com todas as informações e eu não poderei escapar...
Mais calmo, entreguei-lhe a documentação solicitada que, por acaso, tinha comigo. E nestes entretantos ela ficou digitando não sei o quê no computador, o que demorou mais um interminável tempo. Foi numa outra sala e voltou, dizendo: - "Senhor, tem um probleminha! A nossa fotocopiadora está com problema; terá que ir lá fora e tirar fotocópias dos documentos!".
Peguei os documentos, amassei o recibo premiado e simplesmente disse que não mais tinha interesse em receber o que quer que fôsse. Joguei o recibo no lixo; se alguém o achar, desejo-lhe boa sorte...
Já se passaram dez anos em que essa mesma agência da Caixa foi assaltada durante a noite e, dos cofres de penhores, tudo foi retirado. Eu tinha lá alguns valores. Essa peripécia resultou numa ação judicial movida por grupos de pessoas que estavam na mesma situação que eu. Ganhámos nas três instâncias e foi sentenciado pelo Supremo Tribunal Federal que a Caixa deveria nomear um perito para avaliar o montante da indemnização a ser rateada, caso não concordasse com o indicado. Já se passou um ano e nada; eles não respeitam as sentenças. Só coloquei este anterior parágrafo, que nada tem a ver com o assunto dos prémios de loterias, porque cismei que a Caixa talvez tenha um cadastro das pessoas que com ela tenham contencioso e, assim, faça-se negra a vida das mesmas. Será?

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