quarta-feira, outubro 28, 2009

Desconhecidos

No decorrer das nossas vidas deparamo-nos com certas situações inusitadas que, do mesmo modo que factos de impacto, marcam para sempre. E convivendo com essa memória, que esporàdicamente aflóra, continuamos sem uma explicação plausível.
Nos meus tempos de juventude eu era frequentador assíduo do jardim público e mata anexa, na cidade de Évora. Até hoje não entendi o porquê dessa distinção dos lugares, pois acabava por tudo ser um mesmo espaço físico dentro de um conjunto de muralhas medievais. O jardim ficava aberto até à meia-noite (Verão) e a mata tinha o acesso bloqueado por um guarda depois das 18 horas para coibir excessos no relacionamento dos namorados…
Gostava de frequentar aquele espaço aprazível e tranquilo. Assistia aos concertos da banda militar do Regimento de Infantaria 16, que incluía muitas zarzuelas entre as marchas. Outras vezes retirava um livro da biblioteca sanzonal para o ler sentado num daqueles  bancos de jardim que, apesar de tudo, eram cómodos e anatómicos. Havia, também, os momentos de gaiatice quando fazia uma espécie de forca corrediça, na extremidade de um caule de capim, e ía caçar lagartixas, ou provocávamos um dos guardas --- o Pé de Xarinha, que era um tipo muito chato e carêta e sobre o qual ainda aqui escreverei um dia.
Na escola sempre acabamos por formar um grupo mais homogénio de amigos e o meu resumia-se a quatro elementos. Adávamos sempre juntos para o que désse e viésse. Num espaço de tempo livre entre as aulas ou mesmo na gazeta às mesmas, íamos para o citado jardim que ficava perto da escola, outras vezes íamos nadar no Rio Dgebe; acompanhávamos turistas estrangeiros pelo burgo como cicerones e frequentávamos eventos culturais; jogávamos bilhar no Café Portugal ou matraquilhos na cave do Diana-Bar e Bar do Cachatra.
Eramos ecléticos nas nossas andanças e costumes. Porém, não só por timidez, uma das características de todos do grupo, mas também porque não nos interessava muito essa coisa de amarração, nenhum de nós se preocupou em arrumar uma namorada antes dos dezoito anos.
Claro que muitos dos nossos colegas de escola já namoravam a partir dos doze ou treze e, por isso mesmo, não se misturavam connosco nas actividades extra escolares e os seus gostos e ocupações descambavam para outras órbitas…
Num certo dia, caminhando os quatro da vida airada pelas estradinhas e veredas da mata, cruzámo-nos com o Romero e a Cristina, colegas da escola e namorados desde sempre e para sempre… Cumprimentei-os com um “boa tarde” sonoro, mas não obtive qualquer tipo de resposta.
Gualter, o mais velho de nós quatro, numa espécie de repreensão, disse: “ Ò pá! Não sabes que não se cumprimenta um gajo quando ele está acompanhado da miúda ou vice-versa!?”.
É verdade! eu não sabia disso naquele tempo e, até hoje, não entendo o porquê, pois jamais alguém me explicou…

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