sexta-feira, novembro 25, 2011

Meu Coração é Vermelho

O último jogo de futebol a que assisti pessoalmente aqui em Portugal foi um Benfica x Milan e ainda no antigo e famosíssimo Estádio da Luz. Isto há dez anos atrás, quando da minha última viagem ao meu país.
Ontem um grande amigo benfiquista veio buscar-me na casa de minha filha, em Sintra. A ideia principal era ir-mos almoçar juntos mas... como estávamos muito perto, fui levado a conhecer a nova "Catedral" e,  como todos os benfiquistas fazem, visitar o "primo" e junto a ele tirar a tradicional foto.

Pode parecer uma babaquice, algo um tanto ou quanto brega, mas a realidade é que essa avaliação é sempre feita por alguém que está do lado de lá, mas um acto de grande sentimentalidade por parte de quem o pratica. E não ficarei por aí, pois também penso ser fotografado ao lado do outro grande "companheiro", o Fernando Pessoa lá no Chiado tomando um cafézinho na "A Brasileira"...
Uma coisa é verdadeira: aqui em Portugal, como no Brasil, o meu coração é vermelho!

domingo, novembro 20, 2011

Coimbra Tem Mais Encantos

Nas minhas andanças pelo meu Portugal, noto que muita coisa está a mudar. Até nesta minha maneira de escrever quando não uso o gerúndio como até então... A grande mudança, no entanto, está na área desportiva, mais exactamente na futebolística.
Nesta última quinta-feira, já tinha passado a primeira noite em Coimbra, estava muito doente com grave problema estomacal e foi inevitável a minha ida às urgências do Hospital Universitário. Nos momentos em que decorriam os trâmites de inscrição, notei que estava ali na parede o emblema da Associação Académica de Coimbra. Há quanto tempo eu não via aquele emblema, ou mesmo me debruçava a pensar no time!? Comecei a lembrar-me do quanto a Académica foi um time importante nos tempos da minha infância e juventude, ao lado de outros que já não existem, como Lusitano, CUF, enfim. Veio ao de cima aquele carinho que sempre nutri e comecei a lembrar-me de detalhes de antanho como os nomes de Wilson e Rocha, este último certamente o mais célebre doutor-jogador de todos os tempos.
Ciente que a Académica iria jogar com o Porto (ontem), e sabedor depois que a Académica não ganhava do dragão há 41 anos, só faltou rezar, porque rezar eu não sei. Até aceitei a possibilidade de um milagre, apesar de neles também não acreditar. Afinal, ali a Rainha Santa operara o célebre milagre das rosas frente a seu esposo El Rei D. Dinis. Talvez um outro regaço viesse a oferecer algo parecido...
E não é que milagres acontecem?! Pois ontem, a Académica de Coimbra venceu o Porto por 3 a zero. Goleada! Derrube de tabú! Mais uma lavagem de alma para o meu Benfica do coração e a contestação de que muita coisa está mudando na área dos tripeiros, o que já não era sem tempo.
Hoje acordei cantando fados de Coimbra, com a minha saúde restabelecida e o espírito jovial e alegre...

sábado, novembro 05, 2011

Carraspana

Em Portugal todos sabem o que é carraspana, o título da minha crónica de hoje. No Brasil não se usa esse termo mas alguns outros que significam a mesma coisa. Aliás, também em Portugal existem  muitos mais.
Quando cheguei a Évora naquele dia 13 de Outubro, as primeiras pessoas a visitar foram, lògicamente, os familiares e de pronto tratei de arrumar a minha hospedagem na casa de minha mãe. No dia seguinte parti para uma pequena digressão pelos recantos da cidade em busca dos amigos. Eu já estava preparado para algumas surpresas, mas não para tantas, pois muitos deles já partiram para outra dimensão. Lamentei as perdas e fui encontrando os ainda vivos.
Nessa tarde de quinta-feira, conversando com o amigo Manata, velho companheiro de caçadas e pescarias, fui convidado para um almoço de lebres assadas na casa de um outro amigo comum na segunda-feira seguinte.
Chegado o dia, como não era muito longe --- uns 6 km apenas, fui andando a caminho da casa do casal Dulce e Prezado. E foi agradável a caminhada, pois passei por locais em que não passava há muitos anos. Como a velha Fábrica dos Leões, outrora uma grande potência no ramo das massas alimentícias e onde mamãe trabalhou por muitos anos com grande sacrifício. Hoje, ali, é uma dependência da Universidade de Évora.
Cheguei ao destino e pela fresta do portão vi o meu amigo com a arma na mão tentando afugentar aqueles pardais que não caíssem com os chumbinhos da pressão; era a veia de caçador em acção...
Fui o primeiro a chegar e o anfitrião tão pouco sabia que eu tinha sido convidado... Mas essas coisas não têm a mínima importância no nosso tipo de relacionamento entre amigos. As lebres estavam a assar. Os demais foram chegando e foram-me apresentados os que não conhecia.
Enquanto as lebres assavam, saboreámos umas deliciosas ameijoas. O vinho, um maravilhoso tinto alentejano, foi correndo goela abaixo de cada um dos presentes e esgotava-se uma garrafa atrás da outra.
Finalmente chegaram as lebres á mesa. O aroma maravilhoso e o sabor divino. Coisa da Deusa romana da caça, a nossa muito conhecida Diana que tem na cidade um grande templo em sua homenagem... Sei que há muitos anos eu não tinha tão grande prazer à mesa, pois caça sòmente aqui.
Comidas as lebres muito bem regadas, tomámos uma maravilhosa aguardente de medronhos que veio directamente do Algarve para nós. Não imaginam a octanagem daquela bebida caseira... E o pessoal não se contentou em saborear um gole e sim o cálice cheio a ser emborcado.
Não satisfeitos, arrematámos com um tradicional Licor Beirão e a desgraça foi assim configurada com dois "estrangeiros" na mesa alentejana --- um algarvio e outro beirão.
Eu vi que os companheiros foram-se retirando aos poucos e quando dei por mim, estava só com os anfitriões. Vim embora também e do mesmo modo que fui regressei. Do mesmo modo? Não! Tudo me pareceu estar fora do lugar naquela noite estrelada. Até mesmo as estrelas me confundiam, se é que eu tinha naquele momento capacidade para distinguir o mapeamento celeste dos dois hemisférios...
Reconheci que estava muito mal e reconheço que há muitos, muitos anos eu não apanhava uma carraspana daquele calibre. Achando-me perdido e incapacitado, ainda tive o descernimento de apertar a tecla no telemóvel para pedir à mãe dos meus filhos (ex esposa) que mandasse um taxi para me pegar. Era a única tábua de salvação. Mas do outro lado ouvi: "Jamais aturei bebedeiras na minha vida e não será hoje que irei aturar!". Interpretei isso como uma incompreensão e falta de solidariedade, achando mesmo que foi desrespeitado um certo Código de Ética que costuma estar afixado nas paredes dos bares.

quinta-feira, novembro 03, 2011

Crise Portuguesa

Crise? --- Tá bem, ò parente!
Estou aqui na terrinha há quase um mês e, adicionando no prato da balança os conhecimentos teóricos da informação que trouxe com o que tenho vivido no local, o fiel indica para a ignorância, estupidez, erros macro e micro económicos, comodismo e uma enchente de adjectivos mais. Este é um país que poderia ter uma situação análoga à Suissa, Luxemburgo e outros pequenos que sempre estão na crista da onda quanto a estabilidade e níveis de cultura e vida dos seus cidadãos.
Tenho necessidade premente de uso de um carro para as minhas deslocações a outros pontos do país, pois é mais viável que estar dependendo de autocarros ou comboios com tudo o que os horários atrapalham no desajuste e as hospedagens que poderão ser evitadas. Assim, tentei alugar um carro pela internet e achei o mais barato oferecido por 130 Euros por 13 dias na Eurocar. Isso daria 10 paus por dia. Tentei fechar a reserva antecipada, mas não obtive êxito porque o meu cartão é de débito e só aceitam de crédito...
No dia seguinte dirigi-me à loja de rent a car referida, na agência local de Évora. Aí recebi o primeiro baque ao ser informado que na internet o aluguer custaria os referidos 130 Euros, e que o preço passaria para 450. Porra! É mais que o triplo. Uma justificativa para isso a funcionária não me soube dar. E foi confirmado que, mesmo que eu aceitasse pelo novo preço fóra da internet, só com cartão de crédito. E nem com dinheiro vivo e caução extra... Não houve negócio e eu continuei a pé.
Há duas semanas atrás, ao passear pelo Rossio de Estremoz, notei que um grupo grande de turistas se dirigiu a uma daquelas tendas que vendem artesanato, principalmente artigos de barro. Não tinha ninguém para atendê-los, mesmo eles tendo rodeado o local e ali terem gasto 2 ou 3 minutos. Retiraram-se! Depois é que a proprietária do local abriu a porta do carro, onde estava refastelada num banco, saíu para fóra, bocejou, se espreguiçou e voltou a dormir a sesta.
Hoje voltei ao Mercado de Évora e lá fui comprar umas frutas. Claro que não me dirigi àquele box onde na passada semana fui mal tratado, caso que relatei aqui numa crónica.
Estes são pequenos exemplos de coisas que estão erradas por aqui e que certamente se verificam por todo o país. Imagine-se o estrago que é, junto com o que os sucessivos governos pós 25 de Abril por aqui plantaram.