domingo, agosto 12, 2012

Mariano José Trindade

Hoje é comemorado o Dia dos Pais, do mesmo modo que num outro dia do ano se comemora o Dia das Mães. Fiz questão de mencionar os dois dias por causa das rasteiras da língua portuguesa... Dia dos Pais pode entender-se como dia de ambos.
Feche-se a gramática e debrucemo-nos sòmente na prosa fluente sem ter que reparar nessas regras.
Esta é uma daquelas datas que não ocorre ao mesmo tempo em todos os países, pois em muitos é uma diferente entre si. Assim, temos em Portugal o dia 19 de Março que segue o calendário católico por ser dia de São José. No Brasil é o segundo Domingo de Agosto.
Deixei passar a data portuguesa em branco, mas não a brasileira. É natural que poderia ser uma ou outra a data para reverenciar o meu falecido Pai que, se vivo, estaria com 102 anos feitos no pretérito 21 de Julho. A primeira data passou em branco porque eu me esqueci, na verdade. Seria a ideal porque, afinal, meu Pai era português, sempre viveu em Portugal e era carpinteiro-marceneiro, algo a ver com o santo...
Da segunda data me lembrei porque no meu negócio hoje eu vendi alguma mercadoria que os fregueses adquiriram para presentear os seus pais, além do que essas datas são parâmetros de um planeamento de compras e de vendas.
Posso garantir que, se dependesse só dos meus filhos --- 3 em Portugal e 2 no Brasil, esse "Dia dos Pais" passaria em branco. E não se trata de uma reclamação da minha parte, pois eu jamais reclamaria deles por atitudes desse naipe. Eles não ligam para essas datas de cunho mercantil e eu também não. Até me sinto feliz, de certo modo, porque eles saíram a mim...
Tudo bem. Pensei este ano em fazer uma homenagem ao meu Pai quando do aniversário da sua morte ou no próximo dia 24 que é o aniversário do seu nascimento. Iria escrever uma matéria e pedir que fosse publicada no jornal da terrinha, Estremoz, o Brados do Alentejo. Mas passei por cima de tudo isso e vou restringir-me aqui ao meu espaço cibernético.
Fóra da sua profissão em que ele era reconhecidamente um dos maiores, os seus grandes passatempos eram a caça e a pesca desportiva. Mas era muito conhecido pelo apelido de "Mariano Polícia", profissão que também exerceu mas por pouco tempo ou pelo cognome de "Papa Bichos", pois qualquer um destes poderia fazer parte do cardápio dos maravilhosos e saborosos petiscos que cozinhava e partilhava com os amigos nas tabernas de Estremoz.
Poderíamos dizer também e na verdadeira acepção da palavra, que ele era um Palhaço. Ele inventava situações hilariantes, arrancava risadas dos demais e sempre parecia estar feliz. A foto que escolhi para esta crónica mostra o senhor Mariano Trindade no Terreiro do Paço, em Lisboa, regressando de uma pescaria das habituais que fazia numa ou noutra margem do Rio Tejo, com as respectivas canas (varas) e nelas pendurado um coelho bravo. Possìvelmente teria alguns peixes no mengacho na mão direita...
Criou esta situação inusitada e atingiu os seus propósitos quando todos os transeuntes o questionavam sobre o tipo de isca usada para pescar aquele troféu ou com ele trocavam uma prosa alegre. Muitos o conheciam na Baixa de Lisboa porque ali era o seu reduto de trabalho e moradia, depois que havia muitos anos saíra de Estremoz primeiro e de Évora depois. Era o Alentejano da carpintaria dos Correios e apreciador de copos do tinto nas Rua dos Correeiros e Douradores ou no Poço do Borratém.
Vi o meu pai pela última vez quando em 1972 emigrei para o Brasil. Ele viveu mais 12 anos e ainda conheceu três dos seus netos. Sinto muito a sua falta em momentos que poderíamos ter dividido como adultos, em que ele me poderia ter transferido mais da sua experiência de um modo diferente daquele quando ele era adulto e eu criança. Houve muitos vazios na nossa convivência e naturalmente nenhum deles jamais poderá ser preenchido. Tento remediar muita coisa do modo que mais me está à mão como, por exemplo, a respeito dele muito falar com os meus netos e sempre o colocando no ponto mais alto do pedestal. Hoje mesmo eu o estou a homenagear aqui.
Saravá, meu Velho!


1 comentário:

Luís Saramago disse...

Bonita homenagem a quem mais nunca se esquece! Um abraço amigo Cláudio.
Luís Saramago
Estremoz