quinta-feira, agosto 30, 2007

RATO DE CABRERA ---- RATO DO CAMPO

O RATO DA CIDADE E O RATO DO CAMPO
Um rato gordo, que morava na cidade, resolveu dar um passeio pelo campo. Ia andando, ia andando, roendo aqui, roendo ali, quando viu um ratinho magro, muito encolhido.
– Amigo, disse ele ao outro, que magreza é esta? Que vida você leva aqui! Até parece um esqueleto!
- Cada qual vive como pode, - respondeu o ratinho.
– O amigo é rico. Eu sou pobre, mas vivo contente no meu canto.
– Pois olhe para mim. Até pareço um barão! Estou gordo, forte. Tenho bom almoço, bom jantar, e merenda variada!
- É feliz, meu amigo…
- Quero provar que sou bom amigo. Deixe a vida do campo. Venha comigo para a cidade. Em pouco tempo você estará redondo como um pipote.
O ratinho fez luxo. Disse que estava feliz ali. Mas o outro tanto falou, tanto pediu que ele concordou.E lá foram andando, de braços dados, para a cidade.Por um buraco que havia na parede de uma casa, o rato gordo acompanhado do outro introduziu-se numa dispensa bem sortida.
- Aqui está o meu palácio, - disse o gordo. Veja quanta cousa boa: presunto, queijo… Trate de comer… Acasa é sua.
O pobre ratinho nunca sonhara com tanta cousa. Estava acostumado a roer raízes. Não esperou segundo convite. Entrou logo dentro de um grande queijo:- Rac… Rac… Rac…Passou para um presunto. Comeu à vontade, pensando logo em ficar morando ali.Estava já limpando o focinho com as patas, quando ouviu um barulhinho.Voltou-se. Quê viu ele? Dois olhos de fogo fitando-o de um canto! E logo:- Miau!… Miau!… Miau!…
- Deus do céu! Um gato, - disse o magro.
Foi um reboliço. O rato gordo fugiu logo para o buraco.Mas era tão gordo, que não pôde passar.O ratinho magro, tonto de susto, conseguiu fugir.E, lá de fora, despediu-se do amigo:- Adeus amigo. Muito obrigado. Vou-me embora.
-Antes quero viver magro no magro, do que gordo no estômago do gato!
E foi-se, ligeiro.
(João Lúcio; Zilah Frota --- O livro de Violeta)
Transcrevi para este meu espaço a conhecida fábula, pois o Rato do Campo é o conhecido Rato de Cabrera, cientìficamente denominado Microtus cabrerae. E é este pequeno animalzinho que está deixando os espanhois da região de Castilla y Léon apavorados e, consequentemente, os portugueses do nordeste preocupados. Nunca antes se viram por lá tantos desses roedores; são milhões. Por isso, a caça é desenfreada e usam-se todos os meios ao alcance para tentar dizimar a praga; até veneno, e isso é preocupante e não recomendado.
Esse pequeno animal sempre existiu na Península Ibérica e eu lembro-me perfeitamente quando nos meus tempos de gaiato os encontrava beirando as ribeiras, onde costumava pescar com o meu pai. Algumas vezes até para uma pequena refeição nos serviam...
A reprodução é de 5 ou 6 crias anuais por fêmea. Alimentam-se de folhas e caules de gramíneas. A sua actividade é nocturna, se bem que se encontrem também durante o dia. Os seus grandes predadores são as aves de rapina de hábitos nocturnos, principalmente as corujas. Evitam as altas temperaturas e procuram a baixa humidade.
Essa grande concentração e invasão de uma determinada região, só se pode explicar por uma convergência de fatores, tais como as grandes queimadas, alterações climáticas e, principalmente, o abate criminoso dos seus predadores. Nada acontece por acaso.

2 comentários:

Unknown disse...

Lembra-se da Peste de Camus?
Será?

Alcobia disse...

Caro senhor, deixe-me elucida-lo em relação ao comentário que teceu sobre esta espécie protegida. Para começar, trata-se de um comentário grave e totalmente errado. A espécie que tem trazido problemas aos agricultores espanhois (e não só)chama-se microtus arvalis. trata-se de uma espécie altamente competitiva com o nosso (e muito bem) protegido microtus cabrerae (rato de Cabrera). Apesar da semelhança nos nomes, nada têm em comum. O rato de Cabrera alimenta-se predominantemente de juncos e outras gramineas, não atacando as produções agrícolas do nosso país ou da visinha espanha. Este seu comentário pode sem sombra de dúvidas contribuir para que quem o leia, trave uma luta injusta e insensata contra uma espécie que em nada nos é prejudicial. Mais, trata-se de uma espécie relíquia da nossa fauna com um elevado valor relativamente ao seu património genético. Este seu erro foi já cometido por diversas pessoas em Portugal e Espanha e, esperemos nós, que não seja mais um contributo para o declínio e extinção de mais uma espécie na terra. Relativamente ao dito que tem trazido problemas (microtus arvalis) aí sim, encontramo-nos com um sério problema que merece toda a atenção e destaque. Gostaria muito que se informa-se melhor acerca deste assunto para que possa confiar nas palavras que escrevo.
atenciosamente
s