terça-feira, novembro 07, 2006

O VASCULHO

"Centro de Convivência" é o nome pelo qual todos conhecem um dos lugares mais importantes desta minha cidade de Campinas. Minha porque eu a adoptei. Nos primórdios da cidade este lugar chamava-se "Passeio Público" e era muito parecido com os das cidades europeias, com o corêto ao centro, enfim. Em 1889 recebeu o nome de Praça da Imprensa Fluminense, como reconhecimento aos jornais cariocas que se empenharam numa campanha de ajuda à cidade quando esta sofreu um surto de febre amarela que originou a morte de milhares dos seus habitantes. Nada mais justo a atribuição desse nome. Injusto mesmo é dar a uma rua, viaduto, praça, etc., o nome de figura que nada tenha feito de bom, antes pelo contrário. Veio-me à lembrança a grande ponte que liga as duas margens do Tejo, em Lisboa, que fôra baptizada com o nome de Salazar e que em boa hora teve o mesmo substituído por "Ponte 25 de Abril"... Voltando à praça de Campinas, em 1960 foi ali construído um Centro de Convivência Cultural com um teatro de arena e um outro coberto, sendo mantidas as árvores, muitas delas centenárias. Por grande pressão dos moradores do bairro onde se situa a praça, o Cambuí, foi elaborado um projecto de remodelação, isto em 1963, e as obras começaram logo em seguida, até porque a Prefeita estava em fim de mandato... Um pouco antes o seu nome fôra alterado para "Praça Tom Jobim" numa homenagem ao célebre compositor brasileiro falecido havia pouco tempo. Uma injustiça para com os cariocas, se bem que Tom merece ter o nome num lugar assim também. É certo que a injustiça foi reconhecida e tudo voltou ao estado anterior na questão da toponímica. Aqueles moradores do Cambuí são muito estranhos, pois julgam-se senhores do pedaço que a todos nós pertence... Criaram até uma Associação e, por dá cá aquela palha, sempre estão com exigências, apontando defeitos aqui e ali, enfim, manifestando-se por qualquer pieguice. Depois da reforma concluída, a praça ficou muito diferente, mais modernista, enfim. Mantiveram-se quase todas as árvores, se bem que uma ou outra tenha sido sacrificada e colocadas algumas mais noutros pontos. O piso de paralelepípedos de maquedame, em dois tons de côres, substituíu os caminhos de asfalto. Aquelas árvores são uma grande dádiva da Natureza. Usufruimos da sua sombra, do ar renovado por elas. E as folhas caídas? Ah! as folhas... Num certo dia lá estavam os almeidas ou garis, como quiserem, da Prefeitura varrendo as ditas cujas como habitualmente fazem. Tive oportunidade de assistir ao diálogo entre duas senhoras que criticavam aqueles vassourões com cabo e ramagens de bambú. E dizia uma delas: "...a Prefeitura desperdiça tanto dinheiro e não compra umas vassouras decentes para esse pessoal; que vergonha!!!" Lá estavam as tais críticas... Não resisti, pedi licença e disse eu: "Senhora! o verdadeiro nome dessas vassouras é VASCULHO. É o único adequado a este tipo de serviço e em qualquer país dito desenvolvido." Recebi a seguinte resposta: "Nós estamos no Brasil! os outros países não me interessam!" Na verdade, aqui no Brasil não se usa o termo "Vasculho" como substantivo na conotação que lhe dei. É uma daquelas palavras que algumas vezes me veem à lembrança e, vejam, a prosa que ela originou...

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