terça-feira, novembro 07, 2006

MARAFÍSA

Faz já algum tempo que não me debruço aqui neste espaço e até concluí que o mesmo anda um tanto ou quanto abandonado. Muitos factores concorrem para esse "desprezo", mas não cabe aqui enunciá-los agora. Hoje, visitando o fotoblog da minha amiga especial Sónia, vi a foto da sua gatinha siamesa. Dediquei a esta foto mais tempo do que normalmente dedico às demais e por um motivo especial também. É que aquela gata que eu ali estava observando era exactamente igual à minha e issso tocou-me profundamente. Mas, será que todas as gatas e gatos siameses teem alguma diferença?... Claro que teem. Tudo igual nós costumamos dizer que "é um caminhão carregado de japoneses", mas, na realidade os japoneses não são todos iguais... Como no caso da minha gata e a da minha amiga Sónia, cada uma tem as suas peculariedades físicas e temperamentais mas, à primeira vista, parecem iguais, um clone. Depois daqueles momentos de observação da foto eu ía postar um comentário mas, exactamente aquela foto não tinha esse espaço, ao contrários das demais. Não sei porquê, mas deve ser um detalhe técnico do Portal. Resolvi comentá-la através de e-mail que enviei à minha amiga e mais ou menos nos mesmos termos do que exponho a seguir. A minha gata, de nome Marafísa mas carinhosamente chamada de Miurinha, como na foto anexa, era castrada para que não tivesse mais proles, pois os gatos são terríveis nesses namoros sobre os telhados e eu não pretendia andar, mais vezes, procurando interessados em adquirir os seus rebentos e dos quais fiquei com um. Este, por sinal, sem nenhum resquício da raça, antes um vira-lata preto com algumas manchas brancas... Na sua condição de castrada, ela não saía do território delimitado pelos telhados e quintais de quatro vizinhos. Só tentava acompanhar-me quando eu saía a passear com os meus cachorros, do que eu a dissuadía de imediato. Era obediente... Um certo dia, a exemplo do que periòdicamente fazia e faço com os meus animais de estimação, providenciei um tratamento de combate aos parasitas. Como habitualmente, após a aplicação do medicamento, ela foi refugiar-se no telhado. E eu fui dormir uma sesta para manter as minhas tradições de bom Alentejano... Durante o meu sono leve tive uma premonição: alguém tinha agarrado a Marafísa e tentava afogá-la num bidon cheio de água. Acordei sobressaltado e corri para o quintal procurando e chamando por ela. Mas, três anos são passados e a Marafísa jamais apareceu. Anúncios nos jornais, buscas diárias nas redondezas, tudo infrutífero. Só ficou uma grande dor no coração e que é difícil passar, pois não consigo evitar momentos em que penso nela, recordando o nosso relacionamento carinhoso, as brincadeiras entre ela e os cachorros (!). Sónia respondeu ao meu e-mail dizendo que a sua gata era castrada, também, e não saía dos limites do condomínio onde mora. Um dia, depois de um daqueles pequenos passeios habituais, verificou que ela correu ao seu encontro e caíu morta a seus pés. Tinham-na envenenado! Passaram-se também três anos e, até hoje, tem aquela lembrança. Porque razão existem pessoas tão maldosas neste mundo? Ou será que neste mundo selvagem nós, os que gostamos de gatos e cães, estamos a mais? As fotos desses meus amigos estão arquivadas no Álbum de Família.

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