Não concordo quando algumas pessoas dizem que "recordar o passado é parar no tempo". Recordo-me com frequência de passagens de outros tempos, mais das boas que das ruins, porém de todas. E hoje fixei-me nas recordações que me traz o Forte da Ameixoeira, situado no bairro do mesmo nome, periférico de Lisboa. Olho para esta foto da esquerda e faço uma exclamação: Tamanha a minha responsabilidade como cabo miliciano ao comandar a guarda destas instalações militares onde se estocavam grandes quantidades de munições que abasteciam, principalmente, as então denominadas Províncias Ultramarinas!
Ao lado do Forte situava-se o Quartel (Destacamento da Ameixoeira). A foto à direita mostra o que um dia foi a entrada principal e, portanto, a porta de armas. Doi-me o coração ver o estado em que tudo isso se encontra.
Aqui passei oito meses da minha vida militar até àquele dia 10 de Fevereiro de 1968 em que fui promovido a Furriel Miliciano e embarquei com destino a Timor.
Quantas vezes estive de "sargento de dia" ou de "sargento da guarda" nestas instalações!?
Eramos dois cabos milicianos (eu e o Simão), dois furrieis, um primeiro e dois segundos sargentos, dois alferes e dois capitães (um deles o Amorim). Do outro capitão não me lembro o nome, mas era o Comandante da Unidade. Lembro-me que era escritor e o nome de um dos seus livros é "Cartas de Angola". Nunca tive bom relacionamento com o Comandante e com os Alferes e com um destes últimos cheguei a ser insubordinado quando um dia, ao apresentar a formatura do jantar na parada em frente ao refeitório (foto central acima), me dirigi directamente ao Comandante... Foi proposital e, felizmente, não fui castigado por isso, pois fizeram que não notaram a minha quebra de hierarquia...
Com o Comandante a antipatia nasceu por causa de mulheres!... Eu, um jóvem com 22 anos e ele um menos jóvem com 50... Muitas vezes coincidiu o meu serviço de sargento da guarda com o dele de oficial de dia e alguns momentos ficávamos os dois na parte externa da porta de armas, na rua. Por ali passavam muitas belas jóvens que moravam nas Galinheiras, um bairro contínuo à Ameixoeira. Ele era um tremendo de um mulherengo e não gostou quando a minha mais recente namorada parou para conversar comigo... Mandou que eu fôsse para o interior do quartel; humilhou-me..
Não obstante todos convivendo juntos por ali, até mesmo nas refeições uma vez que as respectivas messes
eram geminadas (foto ao lado), Não havia uma grande empatia entre os sargentos e a
oficialidade. E um maior número de responsabilidades era atribuído a nós. Havia mais dois paiois vizinhos, Grafanil e Vale do Fôrno, e a guarda a estes era comandada pela nossa classe. É importante frisar que, um cabo miliciano era um posto de transição para sargento, pois entrámos no serviço militar no curso de sargentos.
Assim, um belo dia estava eu de sargento da guarda ao paiol do Grafanil quando, repentinamente e de surpresa ali apareceu o Ministro da Defesa. Mentiria se dissesse aqui que tudo decorreu naturalmente, pois apoderou-se de mim um friozinho na barriga e um certo nervosismo deve ter sido notado por sua excelência... Só sei que a partir desse dia a guarda a paiois isolados só poderia ser comandada por um sargento graduado. E ainda bem que assim foi, pois uma grande parte da cidade de Lisboa tinha a segurança nas minhas mãos quando eu estava de serviço.
2 comentários:
Realmente não conhecia essas façanhas.
Aguardo novas desconhecidas ;)
que saudades do tempo que passei no forte da ameixoeira(85-86)e dos amigos que nunca mais vi
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