terça-feira, maio 08, 2007

E OS FILHOS COMEÇAM A CHORAR...

Era uma tarde de Outubro de 1996.
Os soldados indonésios entraram numa casa bebak no bairro de Tuana Laran, Díli.
Os filhos começaram a chorar.
- Pai, não vai; somos ainda pequeninos!
- Oh tuan, perdoai o nosso pai!
O tuan disse:
- Anak-anak vamos ver um filme. Trazê-lo-emos depois.
No entanto, o pai entrou para o quarto e meteu no bolso um crucifixo, imagens de Nª. Sª. de Fátima e do Coração de Jesus, um terço e uma oração de Santa Cruz.
Na varanda, os filhos continuavam a chorar:
- Pai não vai. Perdoai-nos pai, pai, pai! Ai coitadinho do pai!
O pai saíu do quarto, começou a beijar os filhos e disse:
- Rezem, não chorem!
E virando-se para a mãe, abraçou-a, beijou-a e disse:
- É a nossa vida, a vida do homem timorense. Se eu não voltar, tome conta dos nossos filhos.
O pai foi-se embora com os soldados naquele dia de Outubro de 1996 e nunca mais voltou.
Eles nunca mais o viram.
(Poema de Celso Oliveira)
Ao ler, ontem, notícias sobre declarações do General Wiranto, lembrei-me deste poema e o postei aqui, sobre as infelizes e cínicas declarações de tão monstruoso personagem. Cada um dos meus leitores fará o seu próprio julgamento e dirá de sua justiça.
O general Wiranto, ex-chefe das Forças Armadas da Indonésia, admitiu que "alguns" de seus homens "podem ter se envolvido" em atos de violência registrados no Timor Leste antes e depois do referendo de autodeterminação de 1999. Em entrevista ao jornal The Jakarta Post, Wiranto negou, no entanto, que os militares presentes no Timor no período tivessem cometido "violações graves aos Direitos Humanos".
O general foi uma das 16 testemunhas ouvidas no último sábado em Jacarta, na terceira sessão de audições da Comissão da Verdade e Amizade, órgão indonésio-timorense criado para investigar os incidentes que deixaram mais de 1,5 mil mortos, em sua maioria timorenses favoráveis à independência.
Segundo Wiranto, a "carnificina" ocorrida na época na ex-colônia portuguesa foi provocada pelo "longo conflito interno" no território, que estava sob ocupação da Indonésia desde 1975."Estas foram as únicas ações dos militares. Mas não foram baseadas em ordens. Isso não foi planejado, e traduziu apenas o comportamento de alguns soldados. É uma responsabilidade individual, uma vez que o Exército indonésio não tomou partido por nenhum dos lados", afirmou Wiranto aos integrantes da Comissão.
O general, já condenado por um tribunal de Díli por crimes contra a humanidade, após um julgamento que acabou realizado sem que estivesse presente, insistiu várias vezes em afirmar que as tropas de Jacarta tiveram "um trabalho difícil" no Timor.Esse "trabalho difícil" foi atribuído por Wiranto ao "conflito horizontal" que existia há décadas no país lusófono, defendendo ainda que o referendo, que teve vitória do "sim" em favor da independência, foi "um êxito", e que a violência após a votação só aconteceu porque a parte perdedora só se preocupou em questionar a legitimidade da apuração.
(Enxertos de notícias da Agência Lusa)

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