segunda-feira, junho 25, 2007

PROTEÇÃO

Nos dias de hoje tomamos contacto com muitas expressões como "proteção", "gangs" e muitas outras. Recheados que estão os meios de comunicação com notícias policiais, escândalos políticos, sociedade violenta, etc., muitas delas afloram. Isso não quer dizer que sejam coisas do modernismo, pois sempre existiram.
Assim, como muitas outras vezes acontece, vêem-me à lembrança passagens da minha infância e adolescência, quando confrontado com acontecimentos e comportamentos actuais. Vez ou outra exercito aqui algumas dessas lembranças, até como uma maneira de preencher o espaço quando de falta de inspiração ou de subsídios para assuntos mais importantes...
Ao ler as notícias da minha cidade no jornal regional que quinzenalmente recebo (Brados do Alentejo), lá estava inserida uma matéria sobre Santiago, o bairro onde nasci e no qual pouco vivi. Naquele tempo denominado o bairro da malta brava... Consequentemente, isso me trouxe muitas lembranças.
A família transferiu-se lá mais para baixo, para a Rua dos Telheiros, mais tarde denominada pelo pomposo nome de Capitão Mouzinho d'Albuquerque. Ali passou a ser o meu território, junto ao mercado, às feiras, aos caminhos de ferro, ao mais activo pulsar da cidade. Faltar à escola, naquele tempo, nem pensar. Mas, mesmo assim, havia hora para tudo; para todos os gaiatos, como eu, brincarem e correrem por todos esses cantos e recantos. Jogar pião e pateira, apanhar grilos nos trigais e bolotas nas azinheiras, eram ocupações do dia-a-dia. Muitas outras havia e mais se inventavam.
Numa das pontas da minha rua começava a Rua de Santo António, uma das entradas e saídas da cidade. Era um dos caminhos que levava até ao cemitério. Por ali passavam quase todos os funerais nos quais os acompanhantes seguiam a carrêta com o féretro, caminhando. Não sei porque cargas d'água a muitos desses acompanhamentos eu me juntava; mania muito estranha, gôsto mórbido, mas lá ía eu também participando de tudo até ao acto final...
Cada um dos bairros tinha a sua "gang" de gaiatos. Era arriscado o elemento de uma entrar no território de outra, pois apanharia uma sóva. A malta de Santiago era a mais temida. Algumas vezes tive que fugir de lá, correndo, para não apanhar. Afinal, eles não sabiam que eu tinha nascido ali ou, se sabiam, decerto me consideravam um desertor...
Um dia eu não consegui escapar. Imaginei tudo o que me iria acontecer e, mesmo assim, já começara a arquitectar a desforra quando viesse a contar tudo aos amigos da minha rua. Eis que nessa hora surge o chefão do grupo! Encarou-me, ôlho no ôlho e sentenciou as seus pares: Esse é meu amigo! Ele foi ao entêrro da minha Mãe!

1 comentário:

Anónimo disse...

há coisas engraçadas realmente.. poderíamos chamar a isso "karma".. ;)